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Meio ambiente

Indonésia e Brasil são países onde mineração industrial mais desmata

Demanda por metais tem feito problema se agravar

Desmatamento na Amazônia Desmatamento na Amazônia  - Foto: Mauro Pimentel / AFP

Um estudo que avaliou o desmatamento causado pela mineração coloca o Brasil como o segundo país onde essa atividade mais destruiu florestas tropicais nas duas últimas décadas, atrás apenas da Indonésia. De 2000 a 2019, o solo brasileiro teve 327 km² desmatados diretamente para atividade mineradora industrial. A conclusão é do primeiro estudo que mapeou o cenário global do problema, liderado pelo geógrafo Anthony Bebbington, da Universidade Clark, de Massachusetts (EUA).

Apesar de inédito, esse número é ainda uma subestimativa do dano total da atividade mineradora no planeta, porque a maior parte da derrubada de floresta ocorre como consequência indireta, impulsionada para a construção de estradas, infraestrutura e povoamento que sustentam a mineração. O estudo viu impactos indiretos na maior parte dos países, em em áreas até 50 km distantes das minas.

No Brasil, há evidência de que a área desmatada indiretamente é até 12 vezes maior que aquela feita diretamente para operações mineradoras. Isso significa que a mineração pode ter promovido a remoção de uma área entre 3 e 4 vezes a do município do Rio de Janeiro neste milênio.

O trabalho de Bebbington, feito com imagens de satélites e dados de produção mineral, está descrito em estudo publicado na edição de hoje da PNAS, revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Para o pesquisador, é um engano achar que o problema do desmate por mineração não é grave por ser minoritário.

— Ainda que a mineração seja 1% do total de desmatamento global, isso ainda representa muito — explica.

Além disso, apesar de soluções já existirem para conter o desmate relacionado à agropecuária, no setor mineral a demanda por produtos está aumentando, e é tecnicamente mais reduzir a taxa de floresta removida em relação à quantidade de material extraído. Um dos fatores que podem tornar o cenário de desmatamento diferente é transição da geração de energia, necessária para combater a mudança climática, o que significa abandonar a geração por combustíveis fósseis e migrar para energias limpas renováveis

— A transição energética vai precisar de muitos minerais, como cobre, níquel, lítio, cobalto, e muitos desses materiais estão em áreas primárias de florestas tropicais e coloca muitas dessas áreas em risco, o que é uma certa ironia — diz Bebbington. — Então, é preciso pensar no sistema como um todo, e não fazê-lo setor por setor.

Ou seja, retirar o carbono armazenado em árvores e jogá-lo na atmosfera para impulsionar as indústrias solar e eólica é algo que vai contra o próprio princípio pelo qual essas tecnologias estão ganhando investimento agora.

Na Indonésia o problema é bem mais desafiador, e o desmate por mineração industrial foi quase cinco vezes o do Brasil nas duas últimas décadas. Os outros dois locais onde a mineração industrial mais desmatou foram Gana e Suriname; mais de 80% da floresta removida pelo setor está só nesses quatro países.

Há ainda outro sinal de que o valor global de desmatamento para mineração está subestimado é que ele não levou em conta operações informais ou ilegais do setor: o garimpo. No Brasil, o projeto MapBiomas mostra que garimpeiros foram responsáveis anualmente por 35% a 50% do desmatamento relacionado a minérios, mas ultrapassou a mineração industrial em 2017 e vem crescendo desde então. Já há mais de 2.000 km² removidos diretamente para mineração e garimpo no país, entre operações ativas e inativas, área maior que o município de São Paulo (o MapBiomas usou critérios diferentes dos de Bebbington).

Garimpo fora do radar
Para o levantamento global, porém, o cientista não conseguiu incluir uma estimativa de garimpo e outras formas de mineração informal.

— Ao contrário da mineração industrial, a mineração artesanal ou de pequena escala não tem sido registrada de maneira que possa ser comparada entre países, e em muitos casos nem sequer é registrada. Isso acontece porque grande parte se trata, claro, de atividade ilegal — explica.

A mineração industrial é de fato apenas parte do problema, mas é a parte que pode ser bem mapeada e estudada para a compreensão de uma tendência global. Para Bebbington, não é uma coincidência que Brasil e Indonésia sejam os países onde florestas tropicais mais sofrem pressão, tanto pelo setor agropecuário quanto pelo minerador.

— Ambos países são caracterizados por uma agenda desenvolvimentista articulada muito claramente baseada no uso e extração de quatro recursos naturais: terra, florestas, água e subsolo — diz o pesquisador.

Para o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa o setor no Brasil, a mineração industrial evoluiu e está preparada para buscar atender a demanda de minerais para a transição energética com um impacto ambiental controlado.

Segundo Julio Cesar Nery Ferreira, diretor de sustentabilidade da entidade, o cenário de demanda futura não está apontando muito para a Amazônia.

— A mineração para os novos minerais não necessariamente ocorrerá dentro de florestas tropicais. Vai ter algumas áreas novas abertas para outros projetos, mas no caso do lítio, por exemplo, as grandes áreas de exploração agora são os salares do Atacama, no Chile.

E aqui em Minas Gerais temos no Vale do Jequitinhonha e no sul do estado — diz o executivo. — Existe níquel e cobre dentro do bioma Amazônico, mas temos um grande potencial de cobre no Vale do Curaça, na Bahia, por exemplo, que é na Caatinga.

O Ibram se diz favorável a que o poder público atue para proteger os hotspots de conservação na Amazônia, e Bebbington concorda.

— O desmatamento pela mineração tem o potencial de se tornar um problema mais grave ao longo do tempo, por causa da transição energética, mas ele pode ser controlado de maneira mais efetiva se existir um compromisso político em fazê-lo — diz o cientista.

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