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Infecção por Covid-19: estudo revela por que alguns voluntários não se contaminam

Trabalho de 'desafio humano' identificou que algumas pessoas desenvolvem uma resposta imune específica no nariz que antes de causar a infecção por Covid-19 o vírus é eliminado

Imagem de microscópio eletrônico de transmissão mostra SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19Imagem de microscópio eletrônico de transmissão mostra SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19 - Foto: NIAID-RML

Quatro anos e meio depois que o primeiro infectado pela Covid-19 foi detectado em Wuhan, na China, mais de 704 milhões de casos ao redor do planeta já foram confirmados, e 7 milhões de pessoas perderam a vida pela doença 711 mil no Brasil.

Ainda assim, há relatos de indivíduos que afirmam não ter contraído o vírus, o que intriga diversos cientistas.

Alguns estudos têm encontrado pistas, mas agora o maior deles, que detalha pela 1ª vez toda a resposta imunológica do indivíduo a partir do contato com o Sars-CoV-2, foi publicado na revista científica Nature.

O trabalho aponta que algumas pessoas apresentam uma resposta imune nunca vista antes no nariz, que eliminou o patógeno antes mesmo que ele provocasse a infecção.

Além disso, que essa habilidade é associada a níveis elevados de um gene chamado HLA-DQA2.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Wellcome Sanger, da University College of London (UCL) e do Imperial College of London, no Reino Unido, e do Instituto para Câncer da Holanda, além de outras instituições de pesquisa.

Ele é o primeiro a analisar a Covid-19 a partir de um experimento chamado de "desafio humano", tipo de pesquisa que infecta propositalmente voluntários saudáveis em ambientes controlados para investigar a ação do patógeno.

Ao todo, 36 adultos sem histórico prévio da infecção ou de vacinação contra a doença receberam amostras do Sars-CoV-2 pelo nariz. Os cientistas acompanharam todos os detalhes que ocorriam desde o momento em que o indivíduo era exposto ao coronavírus até a contaminação e, no final, a eliminação do patógeno.

Para isso, os pesquisadores monitoravam amostras de sangue, do revestimento interno do nariz e da atividade das células imunológicas. Com uma técnica chamada de sequenciamento de célula única, eles analisaram mais de 600 mil células dos voluntários.

Em todos eles, foram observadas respostas do sistema imune. Mas, entre os participantes que eliminaram imediatamente o vírus, ou seja, que não foram contaminados, não houve uma resposta imune generalizada, como é mais comum, mas sim uma reação sutil e inédita apenas no nariz.

Por outro lado, entre os voluntários que desenvolveram uma infecção sustentada, houve uma rápida resposta imune no sangue, porém de forma mais lenta no nariz, o que permitiu que o coronavírus se estabelecesse e contaminasse o indivíduo.

Para Christopher Chiu, autor do estudo e professor de Doenças Infecciosas da Imperial College of London, os resultados apontam um caminho para novas vacinas e tratamentos:

"Essas descobertas não apenas terão um impacto importante no desenvolvimento de intervenções de próxima geração para o Sars-CoV-2, mas também devem ser generalizáveis para outros surtos e pandemias futuras", diz em comunicado.

Isso porque o estudo mostrou um retrato sobre a interação de células de defesa, como os leucócitos T, a partir do contato do indivíduo com um vírus invasor em detalhes nunca antes vistos não apenas sobre a Covid-19, mas sobre qualquer processo infeccioso.

"Essas descobertas lançam uma nova luz sobre os eventos iniciais cruciais que permitem que o vírus se instale ou que o eliminem rapidamente antes do desenvolvimento dos sintomas. Agora temos uma compreensão muito maior de toda a gama de respostas imunológicas, o que poderia fornecer uma base para o desenvolvimento de possíveis tratamentos e vacinas que imitem essas respostas protetoras naturais", afirma Marko Nikoli, também autor do estudo e pesquisador da UCL.

Infecção por Covid-19: Resposta nos genes
Antes do novo estudo, trabalhos anteriores já haviam apontado que algumas pessoas não são contaminadas com a Covid-19 graças a seus genes. Um deles publicado também na revista Nature, no ano passado, observou que indivíduos com uma variante genética chamada HLA-B*15:01 tiveram o dobro de probabilidade de desenvolverem um quadro sem sintomas ao serem contaminados pelo Sars-CoV-2.

A mutação foi identificada num grupo de genes chamado de antígenos leucocitários humanos (HLA), que codificam proteínas que são lidas pelo sistema imunológico para identificar o que são agentes externos nocivos, como vírus e bactérias, e desenvolver defesas contra eles.

No caso dos indivíduos com a variante HLA-B*15:01, o estudo mostrou que, mesmo antes da Covid-19 se disseminar pelo planeta, eles já tinham produzido células de memória T para uma parte específica do vírus causador da doença. Os indivíduos nunca haviam tido contato com o novo coronavírus, já que o sangue foi coletado antes da pandemia. Só que foram expostos a outros coronavírus antes, que já circulavam no passado causando resfriados comuns.

No geral, o contato com esses vírus antigos não gera proteção para o Sars-CoV-2. Porém, graças à variante genética, a exposição induziu uma espécie de proteção cruzada. Essa alteração no gene é relativamente comum, prevalente em cerca de 10% da população.

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