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PESQUISA

Iniciativa deve estudar os impactos das infecções pelo vírus Zika durante a gravidez a longo prazo

Parceria entre universidades do Brasil e Inglaterra conta com um financiamento £3,6 milhões e deve monitorar crianças até os 13 anos

Mulher grávidaMulher grávida - Foto: Arthur de Souza/Arquivo Folha de Pernambuco

Uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Pernambuco (UPE), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Brasil, com pesquisadores da London School of Hygiene & Tropical Medicineum (LSHTM), da Inglaterra, lançará, na próxima quarta-feira (20), a partir das 9h, o Estudo dos Impactos a Longo Prazo para Famílias Afetadas pela Epidemia de Zika (LIFE Zika), no Cais do Sertão, no Bairro do Recife.

O lançamento do estudo, que conta com um financiamento £3,6 milhões do Wellcome Collaborative Award in Science, de Londres, para um período de sete anos, será feito durante uma reunião científica internacional intitulada Consequências das infecções pelo vírus Zika durante a gravidez: Integrando pesquisa, assistência e comunidade.

O encontro deve reunir palestrantes das áreas de pesquisa, políticas de saúde, grupos de defesa e famílias de crianças com Síndrome da Zika Congênita.

O objetivo da iniciativa é estudar as necessidades de saúde e aprendizado de crianças em idade escolar cujas mães foram infectadas pelo vírus Zika durante a gravidez.

Para Ricardo Ximenes, professor de medicina da UPE e UFPE, esse é o momento de trazer o vírus de volta à agenda científica:

“Há oito anos, os olhos do mundo estavam voltados para o Brasil e para a emergência de saúde pública relacionada à Zika, mas essa atenção passou. Acreditamos que é hora de trazer a Zika de volta à agenda científica".

Life Zika Study
Com o novo financiamento, o Life Zika Study poderá estender o acompanhamento das crianças afetadas até os 13 anos e, portanto, aprender sobre a Síndrome da Zika Congênita em diferentes estágios do desenvolvimento infantil.  Usando avaliações clínicas abrangentes, os pesquisadores compararão as necessidades de saúde e aprendizado entre crianças com e sem exposição pré-natal ao vírus Zika. 

O projeto também reunirá dados do Consórcio Brasileiro de Coortes de Zika, que representa todas as coortes no Brasil que acompanharam crianças expostas ao vírus Zika durante a gravidez. 

"Embora a transmissão do vírus Zika tenha diminuído em todo o mundo, as crianças com Síndrome da Zika Congênita e suas famílias continuam a enfrentar consequências sociais e de saúde devastadoras provenientes da pandemia do vírus", afirma Elizabeth Brickley, co-líder do estudo, e professora de Epidemiologia e Saúde Planetária na LSHTM.

O estudo reúne uma equipe interdisciplinar, com experiência em epidemiologia, vinculação de dados e métodos de ciências sociais, para gerar novos conhecimentos sobre as consequências a longo prazo das infecções pelo vírus Zika durante a gravidez. 

"Além de promover a colaboração de coortes epidemiológicas apoiadas por diferentes tipos de dados, este projeto visa avaliar as percepções e preocupações relacionadas à produção de dados, uso e compartilhamento de dados durante e após emergências de saúde pública, usando a epidemia do vírus Zika e a Síndrome da Zika Congênita como estudos de caso." explica Bethânia Almeida, pesquisadora da iniciativa no Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, da Fiocruz.

 

Zika vírus
As infecções pelo vírus Zika durante a gravidez podem prejudicar o desenvolvimento fetal e levar a anomalias estruturais, como a microcefalia, e atraso no desenvolvimento. A constelação de manifestações clínicas adversas é coletivamente reconhecida como Síndrome da Zika Congênita.

Desde o surgimento da epidemia de microcefalia no nordeste do Brasil, em 2015, os pesquisadores afiliados ao Life Zika Study têm monitorado continuamente a saúde e o desenvolvimento de crianças com Síndrome da Zika Congênita.

Demócrito Miranda, pesquisador da UPE, que integra o estudo e liderou o acompanhamento da Coorte Pediátrica do Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (MERG), disse: "Como a Síndrome da Zika Congênita é uma doença nova que só foi identificada entre os recém-nascidos há oito anos, as consequências da infecção pelo vírus Zika durante a gravidez para o desenvolvimento posterior da criança permanecem desconhecidas."

Esperança para o futuro
As descobertas do estudo ajudarão a orientar o planejamento e a organização do atendimento clínico para crianças expostas ao vírus Zika durante a gravidez.  Além disso, devem esclarecer, também, quais as adaptações necessárias para facilitar a participação de crianças com deficiências relacionadas à Zika em atividades sociais, inclusive na escola.

A iniciativa usará métodos de ciências sociais para compreender os impactos sociais e de saúde mais amplos para os membros da família de crianças com Síndrome Congênita.  Os pesquisadores esperam que essas evidências sirvam de base para o desenvolvimento de políticas públicas que promovam a proteção social de crianças com Síndrome da Zika Congênita do Zika e suas famílias.

Sandra Valongueiro, pesquisadora do projeto na UFPE, afirma que "é importante lembrarmos que as crianças com casos graves da Síndrome da Zika Congênita podem precisar de cuidados por toda a vida.  Esses cuidados são geralmente prestados pelas mães e podem acarretar custos significativos de saúde, sociais e econômicos". 

Visando também a preparação para futuras epidemias, outro objetivo da pesquisa é melhorar a compreensão da forma como os pesquisadores podem envolver, de maneira mais eficaz, as comunidades afetadas nas respostas científicas às emergências de saúde pública.

 

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