Insônia: um a cada três brasileiros sofre com sintomas do distúrbio, mostra pesquisa
Levantamento aponta ainda que apenas 6% têm um diagnóstico formal para o problema
Um levantamento inédito mostrou que, em média, um a cada três brasileiros sofre com sintomas de insônia. No entanto, apontou também que há uma grande subnotificação dos casos. Embora 31% relatem o problema, apenas 6% foram de fato diagnosticados com o distúrbio, ou com outros relacionados que têm a dificuldade para dormir como consequência.
A pesquisa foi conduzida pela SleepUp, startup responsável pela primeira plataforma de terapia digital para distúrbios do sono aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No total, foram 1.876 entrevistados, de todas as regiões do país, por meio do envio de questionários online.
Para a doutora em psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e psicóloga técnica responsável pelo aplicativo, Ksdy Sousa, a prevalência das queixas relacionadas ao sono não surpreende, porém a subnotificação de diagnósticos oficiais é um problema.
— A subnotificação é uma questão de saúde pública no Brasil que acontece devido à baixa procura pelo atendimento médico, por haver poucos profissionais especializados e por ser uma questão que a princípio não chama muita atenção. Aquele momento agudo da insônia, o início, nós vamos resolvendo com um pouco mais de café, mas isso só adia o problema — diz a especialista.
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Os números da chamada insônia subclínica, que não foi diagnosticada, vão na linha da estimativa da Associação Brasileira de Sono (ABS), que aponta 73 milhões de pessoas vivendo com o problema no país – por volta de 34% da população geral. Para Ksdy, essa demora na busca por atendimento médico, mesmo em caso de sintomas, é reflexo de uma visão cultural sobre o sono que ainda não reconhece a sua importância para uma boa saúde.
— Existe uma crença de que dormir é perder tempo. Nós estendemos nossas atividades, comprometemos o sono para resolver problemas, para ser mais produtivo. Isso é cultural, ainda existe muito essa ideia de que “madrugar” é uma boa ideia. Isso é errado, mas felizmente tem mudado com o tempo — avalia a psicóloga.
Ela lembra que há uma série de problemas ligados à privação do sono, entre eles impactos na saúde mental, com maior risco para depressão e ansiedade, maior chance de doenças cardiovasculares, como hipertensão, maior vulnerabilidade para obesidade, acidentes de trânsito, de trabalho. Isso além de comprometer a atenção e outros aspectos cognitivos, com diversos estudos apontando a maior prevalência de Alzheimer entre aqueles que dormem pouco ou mal.
— A privação de sono, mesmo a curto prazo, é muito danosa — alerta a especialista.
O levantamento foi conduzido também como uma forma de combater essa subnotificação. A ideia é criar um questionário clínico padrão para identificar um quadro de insônia e facilitar o diagnóstico, chamado de Inventário de sintomas e consequências da insônia (ISCI). Ele tem sido utilizado como base para estudos epidemiológicos e análises médicas.
Uso de remédios sem indicação preocupa
A pesquisa traz ainda outros dados importantes sobre o sono ruim. Um deles é em relação ao uso de medicamentos para dormir. Embora somente 6% tenham algum diagnóstico para o qual possa ser indicado um remédio do tipo, 11% de todos os brasileiros relataram uma ingestão frequente de drogas para induzir o sono. Outros 16% afirmaram recorrer a chás, produtos naturais ou suplementos.
— É muito importante não fazer o uso de medicamentos sem prescrição. A automedicação é um problema, pode até mesmo piorar a insônia. No caso dos sintomas, é preciso procurar um especialista. Hoje, com a telemedicina, o acesso a esses profissionais está mais amplo, e o quadro deve ser tratado de forma adequada — orienta Ksdy.
Especialistas explicam que as drogas disponíveis são adotadas como intervenções pontuais, em momentos agudos do distúrbio, e não como alternativa primária de tratamento. Antes, são preconizados os hábitos de higiene do sono, como estabelecer uma regularidade nas horas de dormir e acordar, evitar estimulantes, como café e energéticos, não utilizar eletrônicos algumas horas antes de dormir e evitar a luz durante a noite.
Outros pontos de destaque no levantamento foram que, em linha com diversos estudos sobre o tema, mulheres brasileiras têm duas vezes mais insônia moderada que homens. Além disso, os chamados “baby boomers”, pessoas nascidas entre 1945 e 1964, têm aproximadamente 1,4 vezes mais sintomas do problema que os millennials, geração que nasceu entre 1979 e 1995.