Coreia do Sul

Instituto da Coreia do Sul sugere que meninas iniciem estudos mais cedo para aumentar natalidade

Relatório diz que medida contribuiria para que homens e mulheres "se achassem mais atraentes quando atingissem a idade apropriada para o casamento"

Instituto da Coreia do Sul é criticado após sugerir que meninas iniciem estudos mais cedo para aumentar natalidadeInstituto da Coreia do Sul é criticado após sugerir que meninas iniciem estudos mais cedo para aumentar natalidade - Foto: Max Fischer/Pexels

Medidas um tanto peculiares lançadas por governos e autoridades para contornar a crise na taxa de natalidade em seus países não são novidades. Mas, um relatório elaborado por analistas do Instituto Coreano de Finanças Públicas, um centro de estudos ligado ao governo da Coreia do Sul, provocou indignação ao apresentar uma solução para o fenômeno: que meninas começassem a escola um ano mais cedo do que os meninos.

O documento, citado pelo The Guardian, baseou-se na ideia de que os homens são naturalmente atraído por mulheres mais jovens, porque amadurecem mais lentamente, enquanto as mulheres, em teoria, optariam por casar com homens mais velhos.

“Considerando que o nível de desenvolvimento dos homens é mais lento do que o das mulheres, fazer com que as mulheres entrem na escola um ano mais cedo poderia contribuir para que homens e mulheres se achassem mais atraentes quando atingissem a idade apropriada para o casamento", afirmou o relatório.

Os analistas inferiram que, se há vontade de casar, então haveria vontade de começar um namoro, embora isso não seja garantia de que o relacionamento será bem-sucedido. Para isso, o documento sugeriu investir ainda outras políticas, como "aquelas que organizam encontros, melhoram as habilidades sociais e apoiam o autodesenvolvimento para aumentar a atratividade de uma pessoa para o sexo oposto."

A professora de sociologia da Univerisdade Hallym Shin Gyeong-a descreveu o relatório, em entrevista ao jornal coreano citado pelo Guardian, criticou o conteúdo do relatório.

"O fato de esse relatório, sem qualquer triagem, ter sido publicado em um país democrático, por um instituto de pesquisa estatal que avaliará medidas para lidar com baixas taxas de natalidade no futuro, nada menos que isso, é ridículo" afirmou.

Lee Jae-myung, líder da oposição e do Partido Democrático (centrista), posicionou-se de maneira similar à acadêmica, argumentando que as recomendações eram "absurdas" e que, frente à crise demográfica, "precisamos tomar medidas importantes e de nível macro".

As críticas também se estenderam entre os usuários da internet. Um internauta escreveu que a medida sugerida pelo relatório era "pior do que dizer para não ter filhos", enquanto um outro perfil da plataforma Naver disse que a proposta era "nojenta", questionando: "Eles estão realmente olhando para as pessoas, para as crianças, como ferramentas reprodutivas?" Alguns ainda se queixaram do uso do dinheiro público na produção do documento, enquanto outros propuseram simplesmente analisar a crise demográfica por outro ângulo.

"Em vez disso, eles deveriam propor políticas para criar o ambiente certo para a criação dos filhos", escreveu um perfil, citado pelo Guardian.

Em resposta às críticas, o centro de estudos disse que o relatório financiado pelo Estado continha opiniões dos autores e não refletia a opinião oficial sobre as medidas do governo para tentar aumentar as taxas de natalidade.

A taxa de natalidade na Coreia do Sul caiu para 0,72 — longe dos 2,1 necessários para manter a população atual de 51 milhões de habitantes. O número elencou Seul como o país com a menor taxa de fertilidade dentro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e também onde as mulheres têm o primeiro filho mais tarde, em média aos 33,6 anos de idade. Os dados, combinados com a longa esperança de vida dos sul-coreanos, uma das mais elevadas do mundo, ameaça o país com uma crise demográfica.

O governo investiu bilhões de dólares para incentivar a natalidade, mas em 2023 o país registou apenas 230 mil nascimentos, o mínimo histórico desde o início da série estatística, em 1970. O fenômeno, segundo o Guardian, pode ser atribuído ao elevado custo de vida para criar e educar os filhos e a falta de habitação acessível, além da expectativa de que as mulheres abram mão de suas aspirações para dedicar-se à família em vez de que tentem equilibrar o trabalho e avida familiar.

Apesar de subsídios financeiros para os pais, ou serviços de cuidados infantis, ou ainda ajuda para tratamento de infertilidade não terem conseguido conter o declínio populacional, as autoridades seguem procurando soluções. No mês passado, o governo de Seul disse que ofereceria até 1 milhão de won (cerca de R$ 3,8 mil) aos casais que revertessem procedimentos de esterilização, enquanto o presidente Yoon Suk-Yeol disse que quer criar um novo ministério para reverter o quadro. Além disso, nos próximos meses, 100 mulheres filipinas deverão chegar ao país como parte de um programa para aliviar a pressão sobre as mulheres que trabalham e que temem ter que abrir mão de seus empregos se tiverem filhos.

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