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Saúde

Internações por herpes-zóster crescem 31,6% no Brasil; saiba os sintomas e como se proteger

Foram quase três mil casos de hospitalização pela doença causada pela reativação do vírus da catapora no ano passado

Apesar do nome, a herpes-zóster é diferente das herpes mais conhecidas, como a labial. Ela é causada pelo vírus varicela-zóster (VVZ), o mesmo responsável pelo quadro da catapora, ou varicelaApesar do nome, a herpes-zóster é diferente das herpes mais conhecidas, como a labial. Ela é causada pelo vírus varicela-zóster (VVZ), o mesmo responsável pelo quadro da catapora, ou varicela - Foto: Freepik

O Brasil registrou cerca de 2,6 mil internações por herpes-zóster em 2023, um aumento de 13,6% em relação ao ano anterior, quando foram 2,3 mil ocorrências, e de 31,6% em comparação com as duas mil hospitalizações de 2021.

Os números fazem parte de um levantamento do Globo baseado em dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH), do Ministério da Saúde, acessados por meio do DataSUS.

Especialistas apontam que o envelhecimento da população e a melhora dos serviços de saúde em identificar a doença são alguns fatores que explicam o crescimento, e citam a baixa vacinação, disponível apenas na rede privada, como um entrave.

Apesar do nome, a herpes-zóster é diferente das herpes mais conhecidas, como a labial. Ela é causada pelo vírus varicela-zóster (VVZ), o mesmo responsável pelo quadro da catapora, ou varicela.

— A manifestação clínica da catapora vai embora, mas o vírus fica escondido nos nervos, geralmente das costas e do tórax. Ele fica dormindo ali e, um dia, pode acordar, migrar e causar a doença da herpes-zóster — explica o consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (Sierj), Rodrigo Lins.

A maioria das ocorrências é em pessoas acima de 50 anos ou imunossuprimidas. Os sintomas envolvem dores nos nervos, formigamento, adormecimento, ardor, coceira, febre, dor de cabeça, mal-estar e lesões na pele. Em aproximadamente 10% dos casos, há dores que duram por meses ou até mesmo anos após as lesões cutâneas desaparecerem.

Estimativas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) apontam que aproximadamente 1 a cada 3 adultos desenvolverá herpes-zóster na vida. Isso ocorre porque, como a vacina da catapora passou a ser aplicada em crianças somente a partir de 1990, mais de 99% da população com 40 anos ou mais hoje foi infectada pelo vírus durante a infância.

No Brasil, a identificação de um caso de infecção pelo VVZ não tem notificação compulsória, somente quando leva a uma internação ou um óbito. Nesse, a categoria no SIH também não faz distinção se é herpes-zóster ou catapora.

Lins explica que o critério costuma ser a idade: como entre adultos mais velhos a imensa maioria já teve catapora quando criança, os casos de hospitalização na faixa etária são associados à herpes-zóster. Por isso, o levantamento do Globo considerou todas as ocorrências acima de 40 anos.

O que causa a herpes-zóster?
O infectologista explica que o vírus é reativado principalmente pela queda natural da imunidade ao longo da vida: — Nosso sistema imunológico vai enfraquecendo, o que chamamos de imunossenescência. Outra coisa que pode acontecer é uma doença causar um desequilíbrio imunológico e desencadear a herpes-zóster. Uso de corticoides, desnutrição e casos de imunossupressão também são fatores que aumentam o risco.

Em relação ao crescimento nos últimos dois anos, ele diz que o envelhecimento da população pode de fato ser um fator. De acordo com o Censo Demográfico 2022, o número de idosos com 65 ou mais cresceu 57,4% no Brasil em relação a 2010.

— O aumento do estresse e da fadiga, exacerbados por crises prolongadas como a pandemia de Covid-19, também pode desencadear a doença. Outro ponto a considerar é a melhoria nos sistemas de saúde que agora identificam e registram mais eficientemente os casos da doença — avalia Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP).

Ele lembra ainda que a subutilização da vacina “contribui para a vulnerabilidade da população”. No Brasil, desde 2022 o imunizante da GSK, Shingrix, está disponível na rede privada para todos acima de 50 anos e para os maiores de 18 anos imunossuprimidos, como os que vivem com HIV, estão em tratamento para o câncer ou outras situações que afetam o sistema imune.

A vacina é aplicada no esquema de duas doses, com cada uma custando cerca de R$ 843 (R$ 1.686 no total). Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ela deve ser administrada com intervalo de dois a seis meses entre as doses. A eficácia é superior a 90%, durante ao menos sete anos.

— E se a pessoa cair nos 10% que mesmo tomando a vacina desenvolvem a doença, ela tem uma proteção de 90% para as complicações mais graves, o que é muito importante — diz Lins.

Para aqueles que já tiveram a doença, a SBIm sugere um intervalo de seis meses depois para receber a vacina. Porém, o período pode ser menor de acordo com a avaliação do médico.

Antes, havia uma outra dose, da MSD, mas que foi descontinuada pela farmacêutica. Chamada de Zostavax, e aprovada em 2014 no Brasil, ela tinha uma eficácia de 69,8%, mas que diminuía com o passar do tempo

Por isso, a SBIm já recomendava que aqueles imunizados com a Zostavax considerassem receber a nova versão, da GSK, como um reforço, ao menos dois meses depois da primeira.

Como é o tratamento da herpes-zóster?
Em relação ao tratamento, Lins explica que há alguns antivirais que podem ser utilizados, mas que eles precisam ser administrados até 72 horas após o início dos sintomas, por isso a importância de se buscar rapidamente o atendimento médico.

Os medicamentos, além de diminuírem o tempo da doença, reduzem o risco de complicações como a dor neuropática, que tem um impacto significativo na qualidade de vida.

O infectologista cita ainda que a herpes-zóster pode ser transmitida por contato físico, e o paciente precisa ter um cuidado extra. Por isso, parte do crescimento recente pode também ser atribuído ao fim das medidas de isolamento social da pandemia.

— Não é que a outra pessoa vai adquirir o vírus, porque ela provavelmente já o tem adormecido, mas esse contato com uma carga viral maior pode desencadear a doença. Então a pessoa que está doente precisa evitar o contato com outras pessoas durante os dias de sintomas, de lesões — afirma.

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