Inundar túneis de Gaza onde se esconde o Hamas, uma ideia arriscada
Essa ação do Hamas deixou 1.200 mortos, segundo Israel, que se comprometeu imediatamente a "aniquilar" o movimento islâmico
Inundar os túneis costados de Gaza para acabar definitivamente com o Hamas, que se escondeu ali, seria “uma boa ideia”, segundo o chefe do Exército israelense. Mas não é algo necessariamente fácil de fazer e, sobretudo, traz riscos ecológicos, apontam os especialistas.
Segundo informações que surgiram nos meios de comunicação israelenses, o Exército israelense começou a bombardear água do mar na extensa rede de galerias escavadas pelo movimento islâmico palestino na Faixa de Gaza.
É a partir desses túneis que o Hamas realiza ataques aos militares israelenses e onde mantém os reféns sequestrados durante o ataque brutal em solo israelense em 7 de outubro.
Leia também
• Israel danificou cemitérios durante avanço sobre Gaza, aponta investigação do New York Times
• Hamas usou prédio abandonado e artilharia pesada em emboscada contra tropas de Israel em Gaza
• Israel adverte que guerra na Faixa de Gaza durará 'vários meses'
Essa ação do Hamas deixou 1.200 mortos, segundo Israel, que se comprometeu imediatamente a "aniquilar" o movimento islâmico, lançando uma agressão no território territorial que deixou mais de 18.780 mortos, segundo o último balanço do governo do movimento islâmico.
O 'metrô de Gaza
Conhecido como "o metrô de Gaza" pelos militares israelenses, o labirinto de galerias foi utilizado inicialmente para evitar o bloqueio imposto por Israel após a tomada do poder pelo Hamas no território em 2007.
Foram escavadas centenas de galerias no subsolo da fronteira com o Sinai para a circulação de pessoas, mercadorias, armas e munições entre Gaza e o mundo exterior.
Depois da guerra entre Israel e o Hamas em 2014, o movimento islâmico ampliou a rede, de onde seus combatentes aparecem e disparam seus foguetes contra o solo israelense, através de todo o território de Gaza.
Em um estudo publicado em 17 de outubro, o Instituto de Guerra Moderna da Academia Militar de West Point, nos Estados Unidos, menciona 1.300 galerias totalizando cerca de 500 quilômetros.
Em que estado se encontra?
Desde que entraram na Faixa de Gaza em 27 de outubro, os militares israelenses se deram conta de que "a rede de túneis é ainda mais extensa e profunda do que pensavam", detalha Raphael Cohen, especialista militar para o centro americano de pesquisa Rand Corporação.
No início de dezembro, o Exército israelense informou ter descoberto mais de 800 entradas de túneis, 500 das quais foram destruídas.
Reféns
Além da armadilha mortal que os túneis representam para os soldados israelenses, muitos dos 105 reféns libertadores (dos aproximadamente 250 sequestrados em 7 de outubro) durante a trégua de uma semana - que terminou em 1º de dezembro - informaram que eram mantidos ali e deslocados durante os ataques.
No final de novembro, o Exército israelense entrou no hospital de Al Shifa, e afirmou que encontrou em seu subsolo um túnel "utilizado para o terrorismo" e também difundiu vídeos de monitoramento à distância que demonstravam que havia reféns detidos.
O porta-voz do Exército Daniel Hagari explicou na terça-feira (12) que os corpos de dois refúgios foram encontrados "em uma infraestrutura subterrânea" em Gaza.
Destruir os túneis
O Exército israelense continua sendo discreto sobre a forma como pretende destruir os túneis depois da guerra e quando os 132 reféns restantes - incluindo 19 corpos - tiverem sido devolvidos.
Segundo fontes israelenses na imprensa, o Exército provavelmente deverá inundar as galerias com água do mar bombeada no Mediterrâneo. Os testes, conclusivos, já chegaram, afirmaram na quinta-feira (14) o canal de televisão pública Kan 11.
O problema, alerta Cohen, é que “não se pode destruir um túnel sem afetar a infraestrutura da superfície”.
Por sua vez, o Hamas duvida da capacidade de Israel para atingir seus objetivos. "Estes túneis foram construídos por engenharias bem formadas e construídas, e levaram em conta todo o tipo de possíveis ataques, incluindo bombardeios e água", destacou na quinta-feira Osama Hamdane, um dos líderes do movimento islâmico palestino no Líbano.
Risco ecológico
Alguns cientistas e funcionários humanitários expressaram preocupação pela contaminação das águas subterrâneas com água salgada, com consequências catastróficas para o já precário acesso dos moradores de Gaza à água potável.
A Faixa de Gaza tem entre 6 e 12 quilômetros de largura, e a salinização dos lençóis freáticos já é um flagelo, agravada pelo aumento do nível do mar.
A isso há que acrescenta uma rede de drenagem de águas residuais cronicamente defeituosa e uma "utilização descontrolada de pesticidas e herbicidas nas áreas de agricultura intensiva" de Gaza, alerta o professor Eilon Adar do Instituto Zuckenberg para a pesquisa sobre água da universidade Ben Gurion de Negev.
Esses três fatores "têm consequências muito graves para a qualidade da água em Gaza e podem afetar gerações futuras", assinalou na quinta-feira a coordenadora humanitária da ONU para os Territórios Palestinos, Lynn Hastings.