RUSSIA X UCRÂNIA

Invasão ou não, a guerra midiática russa está em pleno auge

"A propaganda russa em plena ação diante dos seus olhos", diz um canal na rede Telegram que cobre os acontecimentos na Ucrânia

Joe Biden e Vladimir PutinJoe Biden e Vladimir Putin - Foto: Mandel Ngan, Mikhail Metzel / AFP / SPUTNIK

"Está pronto?". O jornalista russo confirma com a cabeça. Distante dali, começa a ouvir o barulho dos disparos. O repórter, com um colete à prova de balas, corre e explica quase sem fôlego que está presenciando um ato de "sabotagem" ao vivo contra uma posição pró-russa no leste da Ucrânia.

"A propaganda russa em plena ação diante dos seus olhos", diz um canal na rede Telegram que cobre os acontecimentos na Ucrânia, publicando um vídeo para tentar provar que essa informação é falsa. 

Na "guerra híbrida" que Moscou impõe há anos contra seu vizinho, a batalha da informação se revela como um front-chave. Nela, todos os recursos são permitidos, inclusive as grandes manipulações. 

A campanha de desinformação se acelerou após a concentração de 150.000 soldados russos sobre suas fronteiras leste e norte com a Ucrânia. 

Tanto ocidentais como ucranianos temem que seja utilizada para a criação de um pretexto para uma ofensiva russa, principalmente porque Moscou denuncia um genocídio contra as pessoas que falam russo na Ucrânia. 

Para Serguéi Kvit, ex-ministro da Educação ucraniano e diretor da escola de jornalismo Mohila, em Kiev, "a maior parte dessas 'fake news' está destinada sobretudo à diáspora russa" na Ucrânia.

O objetivo dessa estratégia seria preparar a opinião pública, tanto interna quanto externa, para o início de um conflito em grande escala, acrescenta.

No entanto, esta operação russa na rede provoca uma intensa contraofensiva, com as ferramentas de checagem de fatos online, que permitem autenticar imagens, comparar mapas e extrair dados, usadas por um autoproclamado exército de "reinformantes".

'Desmascarar'

Na última sexta-feira, o preocupante vídeo publicado na internet pelo líder separatista Denis Pushilin, no qual ordenava a saída dos moradores da região de Donetsk com destino à Rússia no mesmo dia, "sexta-feira 18 de fevereiro", perdeu credibilidade rapidamente. 

Os metadados do arquivo do vídeo original revelaram que havia sido pré-gravado dois dias atrás, em 16 de fevereiro. 

"O que aconteceu nesse dia foi uma montagem fictícia clara e inequívoca", tuitou o jornalista investigativo Mark Krutov. 

Bellingcat, plataforma especializada em investigação por meio de ferramentas digitais e que investigou supostas operações da inteligência russa, como os envenenamentos do agente duplo Serguei Skripal e do opositor Alexei Navalny, nas últimas semanas se dedicou a 'desminar' o campo virtual do conflito em torno da Ucrânia. 

Seu último golpe: "desmascarar" um atentado contra o carro de um chefe de polícia separatista.

A televisão pública russa divulgou uma suposta confissão de um "agente ucraniano" envolvido no ataque, retomando a imagem de um acidente de trânsito na qual era possível ver a placa do carro desse policial. 

A placa estava certa. Mas, de acordo com os analistas de Bellingcat, ela foi removida do reluzente SUV do líder separatista efeitos fotográficos.

Do lado ucraniano, veículos de comunicação e redes sociais não estão isentos de manipulações da verdade, como por exemplo quando divulgam imagens de manifestações contra a guerra em Moscou. Essas imagens datam de 2014.

Guerra de nervos

No front midiático, Moscou já deixou suas primeiras vítimas. 

Este bombardeio, que provoca muita ansiedade, tem efeitos devastadores sobre a saúde mental dos ucranianos, afirma a psicóloga Katerina Goltsberg, presidente da Associação de Psicologia Infantil deste país. 

"Durante os últimos dois meses nós alcançamos um nível de pânico particularmente elevado. Provavelmente está vinculado à intensidade desses ataques midiáticos", analisa. 

"As pessoas estão realmente muito preocupadas (...) consigo, com seus filhos e familiares", acrescenta a psicóloga. 

A população ucraniana já assumiu um possível cenário de guerra em grande escala e intensifica seus preparativos, desde planos de evacuação até o abastecimento de alimentos básicos. 

Também está ciente de que é possível que esta guerra de nervos tenha apenas começado. 

"Uma ameaça 'existencial' com a qual teremos que conviver nos próximos meses, talvez anos", resumiu por sua vez um editor do site ucraniano Pravda.

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