Investigada, presidente do Peru diz que pegou relógios de luxo emprestados de governador
Impulsionados por partidos da oposição, pedidos de destituição não alcançaram votos mínimos, em meio a escândalo de relógios e enriquecimento ilícito
A presidente do Peru, Dina Boluarte, negou ter cometido qualquer crime e disse pegou a coleção de relógios de luxo — pela qual é investigada, num inquérito sobre o suposto cometimento do crime de enriquecimento ilícito e omissão de declarações em documentos públicos — emprestada do governador de Ayacucho, Wilfredo Oscorima, a quem descreveu como "amigo e irmão".
— Devo admitir que foi um erro tê-los aceitado como empréstimo. A vontade de representar bem o meu país me levou a aceitá-los, mas já os devolvi. Como não são de minha propriedade, não era obrigada a declará-los — afirmou Dina Boluarte, aos jornalistas.
A mandatária concedeu entrevista coletiva depois de prestar depoimento durante cinco horas às autoridades do país.
O Congresso do Peru rejeitou, na última quinta-feira, dois novos pedidos de destituição contra a presidente Dina Boluarte, promovidos pela oposição devido ao escândalo dos relógios Rolex e das joias não declaradas.
As moções, que acusavam Boluarte de "incapacidade moral permanente" para prosseguir até o final do seu mandato em 2026 "não foram admitidas", de acordo com o presidente do Congresso, Alejandro Soto, após o final das votações, realizadas separadamente.
O primeiro pedido, do partido Peru Libre, de esquerda, obteve 33 votos, enquanto o segundo, feito pelo Câmbio Democrático-Juntos, obteve 32. O mínimo para a proposta ser aprovada era de 48 votos, já que é necessário o voto favorável de “pelo menos 40%” dos parlamentares elegíveis.
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Entre os partidos de direita, votaram contra as moções parlamentares Força Popular, Renovação Popular, Aliança para o Progresso e Avança País. O partido Podemos Peru se absteve.
Na noite de segunda-feira, em meio ao escândalo da investigação, seis membros do Gabinete da presidente renunciaram , e foram substituídos por seis novos ministros, empossados por Boluarte. A reestruturação do gabinete serviu para atender a negociações com o Congresso, em tentativa de assegurar apoio dos parlamentares à presidente.
Entenda o caso
A presidente peruana está na mira da polícia desde o dia 30 de março, quando cerca de 40 agentes e promotores realizaram uma operação de busca em sua casa. O objetivo era revistar o endereço e apreender os relógios Rolex da mandatária. A procedência e aquisição dos itens de luxo não foram explicadas por Dina.
Cerca de oito relógios de menor valor foram encontrados na operação. Em suas aparições públicas, Dina já foi vista com pelo menos três modelos de Rolex, que não foram ainda localizados pelas autoridades.
A operação foi realizada depois que o Ministério Público não aceitou que a presidente pedisse o reagendamento de uma diligência marcada para o início da semana em que ela mostraria os relógios e seus recibos de compra.
Se for acusada, a presidente não poderá ser julgada até julho de 2026, quando termina o seu mandato, conforme estabelece a Constituição do país. A investigação, no entanto, pode seguir. O escândalo pode levar a um pedido de vacância (demissão) de Dina no Congresso, sob alegação de "incapacidade moral".