Irã e EUA trocam prisioneiros após liberação de fundos iranianos
O avião com os cinco americanos aterrissou em Doha por volta das 17h40
Os cinco americanos libertos pelo Irã envolvidos em uma troca de prisioneiros chegaram nesta segunda-feira (18) ao Catar, que mediou o acordo após o desbloqueio de fundos iranianos retidos em virtude das sanções contra Teerã, em uma decisão que foi celebrada pela ONU.
O avião com os cinco americanos liberados pelo Irã aterrissou em Doha por volta das 17h40 (11h40 no horário de Brasília), algumas horas depois de os fundos terem sido depositados em contas iranianas.
O empresário americano Siamak Namazi, nascido em Teerã, preso desde 2015 acusado de espionagem, agradeceu ao presidente americano, o democrata Joe Biden, por ignorar as pressões políticas internas e tomar decisões "difíceis".
"Obrigado, presidente Biden, por colocar a vida dos cidadãos americanos acima da política", disse Namazi em um comunicado.
Dois dos cinco prisioneiros iranianos liberados pelos Estados Unidos já chegaram a Doha para retornar em seguida ao Irã, informou a imprensa do país. Os outros três também foram liberados, mas não desejam voltar para a República Islâmica, segundo a agência Tasnim.
Apesar do acordo para a troca de prisioneiros, os Estados Unidos anunciaram sanções contra o ministério iraniano da Inteligência e contra o ex-presidente Mahmud Ahmadinejad.
Anunciada em agosto, a troca foi o resultado de meses de negociações entre Estados Unidos e Irã com a mediação do Catar, país que tem boas relações com as duas partes.
A liberação dos recursos - bloqueados pela Coreia do Sul, devido às sanções impostas pelos Estados Unidos ao Irã - era uma condição crucial para a troca de cinco detidos de cada lado.
Fundos desbloqueados
O presidente do Banco Central do Irã, Mohamad Reza Farzin, confirmou que a transferência foi realizada e que o país vai levar a Coreia do Sul à justiça por ter bloqueado os fundos.
O equivalente a 5,95 bilhões de dólares (quase 29 bilhões de reais) foi depositado em seis contas iranianas em dois bancos do Catar, afirmou o presidente do BC iraniano à televisão estatal.
Os recursos, produto da venda de petróleo iraniano à Coreia do Sul, foram bloqueados depois que o governo dos Estados Unidos abandonou um acordo internacional sobre o programa nuclear de Teerã durante o governo do republicano Donald Trump.
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A saída de Washington do pacto representou o retorno das sanções financeiras contra o Irã.
A ONU mostrou-se esperançosa de que esse acordo possa significar uma diminuição das tensões entre os dois arquirrivais diplomáticos.
"Nós estamos com muita esperança de que isso leve a uma maior cooperação e à diminuição das tensões", disse Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral António Gutteres.
Acusações de espionagem
Outros prisioneiros americanos incluídos na troca são o ambientalista Morad Tahbaz e o empresário Emad Sharqi. Teerã não reconhece a dupla nacionalidade e considera que esses americanos são cidadãos iranianos.
Na semana passada, a agência oficial de notícias Irna revelou as identidades dos iranianos presos.
No grupo, os destaques são Reza Sarhangpour e Kambiz Attar Kashani, acusados de violarem as sanções americanas contra o Irã.
Um terceiro preso, Kaveh Lotfolah Afrasiabi, foi detido em sua casa perto de Boston, em 2021, e acusado pela Justiça dos Estados Unidos de ser um agente secreto iraniano.
Também foram incluídos na troca Mehrdad Moein Ansari e Amin Hasanzadeh, acusados de vínculos com as forças de segurança iranianas.
Entre os iranianos liberados, "dois retornarão ao Irã (Merhdad Moein Ansari e Reza Sarhangpour), um viajará para um terceiro país, devido à presença de sua família nesta nação, e os dois últimos permanecerão nos Estados Unidos", informou o porta-voz da diplomacia iraniana, Naser Kanani.
A Casa Branca negou que o desbloqueio dos fundos iranianos seja o equivalente ao pagamento de resgate pelos detentos e afirmou que também não representa um "cheque em branco".
O governo de Biden insiste em que o Irã pode usar o dinheiro apenas para a compra de alimentos, remédios e insumos humanitários.
O porta-voz da diplomacia iraniana afirmou que os recursos permitirão "comprar todos os produtos que não estão sob sanção", e não apenas comida e medicamentos.
Irã e Estados Unidos têm uma disputa desde a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou um monarca pró-Ocidente.
Biden tentou restabelecer o histórico acordo internacional de 2015 que resultou na suspensão das sanções contra o Irã, em troca de que Teerã limitasse o programa nuclear com finalidades civis. As negociações, no entanto, se encontram estagnadas.