guerra no oriente médio

Irã enfrenta dilema com guerra entre Israel e Hamas, aumentando risco de escalada no Oriente Médio

República Islâmica, principal financiadora de milícias na região, tem evitado um envolvimento direto, mas ebulição no mundo árabe e pressão interna pode fazer com que seus planos saiam de controle

Bandeira do IrãBandeira do Irã - Foto: iStock

Por mais de quatro décadas, os governantes do Irã prometeram destruir Israel. O líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, raramente aparece em público sem um keffiyeh palestino, tradicional lenço quadriculado em preto e branco usado por homens no Oriente Médio.

Os comandantes militares iranianos se gabam de treinar e armar grupos que são inimigos de Israel em toda a região, incluindo o Hezbollah e o Hamas. Quando o grupo palestino realizou o ataque terrorista de 7 de outubro em Israel — que matou 1,4 mil pessoas — as autoridades do país elogiaram o feito, classificando-o como uma conquista importante e abalando a sensação de segurança do Estado judeu.

Agora, o Irã enfrenta um dilema, avaliando como ele e as milícias que apoia — conhecidas como o eixo de resistência — devem responder à invasão da Faixa de Gaza por Israel, e se devem reforçar suas credenciais revolucionárias sob o risco de desencadear uma ampla guerra regional. Mais de 9,2 mil palestinos foram mortos no enclave, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

— Não há necessidade de o Irã se envolver diretamente na guerra e atacar Israel, porque ele tem a milícia do eixo de resistência que segue as políticas e estratégias do Irã e age em seu nome — disse Nasser Imani, um analista próximo ao governo, em uma entrevista por telefone de Teerã. — Neste momento, o Irã está no modo de controle, está dizendo a todos eles, incluindo o Hezbollah, para manterem as coisas em ebulição, mas com moderação.

Por enquanto, as autoridades iranianas estão sinalizando publicamente que não querem uma guerra em grande escala.

— Quero reiterar que não estamos buscando a disseminação dessa guerra — disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian, em uma entrevista recente durante missão às Nações Unidas.

Amirabdollahian estava em Nova York para participar das reuniões da ONU relacionadas à guerra. Mas, acrescentou, "a região está em um ponto de ebulição e a qualquer momento pode explodir e isso pode ser inevitável".

— Se isso acontecer, todos os lados perderão o controle — alertou o chanceler iraniano.

O ministro advertiu que as facções regionais no Líbano, Iêmen, Iraque e Síria poderiam abrir várias frentes contra Israel, com um alto potencial "de que o resultado será que as coisas não acontecerão da maneira que o regime de Israel deseja". Ele não entrou em detalhes sobre o que provocaria os grupos, que, segundo ele, agem de forma independente.

Ainda assim, o Irã não quer uma guerra regional, que acarreta riscos para a nação e seus governantes religiosos, de acordo com três iranianos ligados ao governo familiarizados com as deliberações internas, que falaram sob anonimato ao Times para discutir questões sensíveis de segurança. As capacidades militares de seus aliados poderiam ser significativamente reduzidas por uma batalha prolongada com Israel, sobretudo se o Exército dos EUA entrar na briga.

A República Islâmica vê as milícias como tentáculos de influência, capazes de atacar enquanto proporcionam ao Irã a negação do confronto direto. Elas dão ao país uma vantagem nas negociações internacionais e um meio de recalibrar o equilíbrio de poder no Oriente Médio, afastando-o de arqui-inimigos, como Israel e os Estados Unidos, e de rivais, como a Arábia Saudita.

Mas se o Irã não fizer nada, seus líderes inflamados correm o risco de perder a credibilidade entre seus eleitores e aliados. Alguns conservadores iranianos que defendem uma linha mais dura questionam por que as ações da República Islâmica não estão correspondendo à sua retórica de "libertar al-Quds", ou Jerusalém, do domínio de Israel. Muitos partidários do governo do Irã se inscreveram simbolicamente como voluntários para serem enviados a Gaza e lutar contra Israel.

— No primeiro cenário, o Irã corre o risco de perder um braço; no segundo cenário, o Irã corre o risco de perder a face — disse Ali Vaez, diretor para o Irã do Crisis Group. — O Irã pode tentar fechar esse círculo, permitindo que seus aliados aumentem seus ataques contra Israel e os EUA de forma calibrada.

O Hezbollah, no Líbano, e a milícia Houthi, no Iêmen, lançaram ataques recentes contra Israel, mas seu alcance foi limitado. O objetivo, por enquanto, não é uma guerra total, mas manter as Forças Armadas de Israel sob pressão, possivelmente limitando sua capacidade de travar uma guerra contra o Hamas, disseram fontes familiarizadas com a estratégia do Irã.

Os grupos armados apoiados pelo Irã no Iraque e na Síria intensificaram os ataques às bases militares dos EUA nos dois países após um período de silêncio. O Irã quer pressionar o governo do presidente americano, Joe Biden, a controlar Israel — ou, pelo menos, fazer com que os Estados Unidos paguem um preço por seu apoio incondicional ao país.

Em retaliação, as forças dos EUA bombardearam instalações na Síria na quinta-feira passada que, segundo o Pentágono, eram postos avançados da Guarda Revolucionária do Irã. Amirabdollahian disse que os ataques dos EUA foram "para exibição".

O risco de a guerra se espalhar pelo Oriente Médio alarmou os Estados Unidos e Israel. O governo Biden advertiu publicamente o Irã e seus representantes para que não ampliassem o conflito, sinalizando que não busca a guerra com o Irã e pedindo ao país para que contenha seus aliados.

O chanceler iraniano confirmou que o Irã e os Estados Unidos estavam trocando mensagens.

— Dissemos claramente aos americanos que, quando se está ao lado do regime sionista com força total durante uma guerra, os Estados Unidos não estão em posição de dizer aos outros para se conterem — disse ele.

Mas, para todos os lados, o risco de erros de cálculo continua alto, o que poderia fazer com que o conflito saísse do controle.

— Além do que Teerã pode controlar, há também a perigosa possibilidade de que alguns de seus parceiros regionais com laços mais frouxos, ou com um histórico de ignorar os conselhos iranianos, se envolvam em ações descoordenadas que coloquem Teerã diante de um fato consumado — disse Vaez. — Por quase quatro décadas, a política de defesa avançada do Irã protegeu seu próprio solo contra ataques estrangeiros. O conflito em Gaza está testando os limites dessa política de uma forma sem precedentes.

Nesse contexto de receio de uma conflagração regional, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, desembarcou em Israel, nesta sexta-feira, e se encontrou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para falar sobre a proteção dos civis palestinos na Faixa de Gaza, onde as tropas do Estado Judeu afirmam ter cercado a principal cidade do enclave em sua guerra contra o Hamas. A chegada de Blinken coincide com um esperado discurso de Hassan Nasrallah, líder da organização militante libanesa Hezbollah, apoiada pelo Irã, a seus seguidores também nesta sexta.

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