Logo Folha de Pernambuco

Mundo

Irã inicia enriquecimento de urânio a 20%; agência de energia atômica confirma processo

Medida viola acordo internacional para limitar programa nuclear

Central subterrânea de FordoCentral subterrânea de Fordo - Foto: Agência Internacional de Energia Atômica/AFP

O Irã iniciou, nesta segunda-feira (4), o processo para produzir urânio enriquecido a 20% na central subterrânea de Fordo, sua principal medida para desvincular-se do acordo internacional de 2015 que limita seu programa nuclear.

A partir de maio de 2019, um ano após a saída unilateral dos Estados Unidos do acordo e da retomada das sanções contra o Irã, Teerã começou a se liberar dos principais compromissos adotados no acordo de Viena, incluindo o limite do nível de enriquecimento de urânio.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou o início do processo. O diretor-geral da agência, Rafael Mariano Grossi, informou os estados-membros que "o Irã começou a alimentar de urânio já enriquecido 4,1% seis cascatas de centrífugas (...) com o objetivo de subir para 20%", anunciou este órgão da ONU, em uma declaração transmitida à AFP.

Acusado por vários países ocidentais e Israel, seu grande inimigo, o Irã sempre negou a tentativa de desenvolver armamento atômico.

"O processo para produzir urânio enriquecido a 20% começou no complexo de Shahid Alimohammadi (Fordo)", situado 180 quilômetros ao sul de Teerã, afirmou o porta-voz do governo, Ali Rabiei, citado no site da televisão estatal.

O presidente iraniano Hassan Rohani deu a ordem nos "últimos dias e o processo de injeção de gás começou há algumas horas", completou.

Em uma carta com data de 31 de dezembro, o Irã informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre sua vontade de produzir urânio enriquecido a 20%, o nível anterior à assinatura do acordo internacional assinado em Viena em 2015, longe do 90% necessário para um uso militar.

De acordo com o último relatório disponível da agência da ONU, publicado em novembro, Teerã enriquecia urânio a um grau de pureza superior ao limite previsto pelo acordo internacional de 2015 sobre seu programa nuclear (3,67%), mas não superava a barreira de 4,5%, e continuava cumprindo o regime estrito de inspeções do organismo.

Mas após o assassinato no fim de novembro do físico nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh, um ataque que o Irã atribui a Israel, o Parlamento iraniano aprovou uma polêmica lei que defende a produção e o armazenamento de ao menos "120 kg ao ano de urânio enriquecido a 20%" e "acabar" com as inspeções da AIEA sobre as atividades nucleares iranianas.

O governo do presidente Rohani se declarou contrário à iniciativa. Nesta segunda-feira, Rabii explicou que a posição do governo sobre a lei não mudou, "mas se vê obrigado a implementá-la".

O pacto de 2015 foi alcançado após anos de duras negociações entro o Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Reino Unido, China, França, Rússia, Estados Unidos), além da Alemanha.

"Sérias consequências"
A União Europeia (UE) advertiu que o início do enriquecimento de urânio a 20% constituiria um "desvio considerável" dos compromissos assumidos por Teerã no acordo de 2015.

"Não é preciso dramatizar. O programa nuclear continua sendo totalmente transparente e verificável. Devemos nos concentrar na maneira de restabelecer a aplicação global do acordo", afirmou por sua vez o embaixador russo na AIEA, Mijaíl Ulyanov.

Peter Stano, um porta-voz da UE, disse que as autoridades europeias esperam uma posição formal da AIEA antes de definir eventuais medidas.

Stano afirmou que, se o enriquecimento a 20% for confirmado, o gesto terá "sérias implicações para a não proliferação nuclear".

Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que a decisão do Irã demonstra que o país está tentando construir armas nucleares, apesar de negar.

Netanyahu declarou, em um comunicado, que a medida "não pode ser explicada de nenhuma outra maneira, exceto como a realização contínua de sua intenção de desenvolver um programa nuclear militar".

"Israel não permitirá que o Irã fabrique armas nucleares", completou. 

Considerado o único país com armas nucleares no Oriente Médio, Israel acusa o Irã de tentar criar o próprio arsenal nuclear e de querer destruir o Estado hebreu.

Além disso, o Guarda Revolucionária do Irã anunciou nesta segunda-feira que capturou um petroleiro de bandeira sul-coreana nas águas do Golfo, onde navios americanos estão mobilizados. A Coreia do Sul exigiu a liberação do navio.

Diante do que apresentou como "ameaças" iranianas, o Pentágono afirmou que decidiu finalmente deixar o porta-aviões "USS Nimitz" no Golfo.

Os eventos acontecem a duas semanas do fim do mandato de Donald Trump, que exerceu uma campanha de "pressão máxima contra o Irã", aumentando as tensões entre ambas as partes com sabotagens, ataques e capturas de navios e drones no Golfo.

Com a posse do presidente eleito Joe Biden, muitos apostam em uma situação que permita o resgate do acordo nuclear.

Veja também

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA
EUA

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índi

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índi

Newsletter