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ACORDO

Irmã de vice-líder do Hamas, jornalista e ativista: conheça três palestinas libertadas por Israel

Ao menos 90 pessoas, maior parte mulheres e menores de idade, foram soltas nesta segunda em troca da libertação de três reféns israelenses na véspera

Bushra al-Tawil, Khalida Jarrar e Dalal al-ArouriBushra al-Tawil, Khalida Jarrar e Dalal al-Arouri - Foto: redes sociais e AFP

Lágrimas, abraços e cantos ditaram o tom da festa de boas-vindas na Cisjordânia aos palestinos libertados nesta segunda-feira através do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, alcançado na última sexta. Ao todo, 90 prisioneiros palestinos — sendo 69 mulheres e 21 adolescentes — foram soltos por Israel em troca da libertação na véspera de três reféns, todas mulheres, mantidas em Gaza desde o ataque terrorista do Hamas em outubro de 2023.

Muitas pessoas aguardavam ansiosamente a chegada dos prisioneiros, reunidas em torno de fogueiras em uma colina com vista para a prisão de Ofer, em Israel. Os ônibus que transportavam os palestinos chegaram às 02h da manhã de segunda (21h de domingo em Brasília) em Beitunia, subúrbio normalmente tranquilo de Ramallah. Quando as portas se abriram, a tensão e ansiedade do ambiente quebraram em uma onda de alívio, tomada por abraços e fogos de artifício.

— Conheço muitas pessoas na prisão, há pessoas inocentes, crianças e mulheres — disse o jovem Mohamad, de 20 anos, recentemente libertado da prisão de Ofer e que participava da recepção.

De acordo com a B'Tselem, uma ONG israelense de direitos humanos, o Serviço Prisional de Israel mantinha 9.440 palestinos detidos ou presos até junho passado.

A expectativa é de que centenas sejam libertados ao longo desses 42 dias de trégua, incluindo alguns que receberam sentença de prisão perpétua, em troca de 33 reféns mantidos em Gaza — dois deles, sequestrados há mais de uma década.

Entre os palestinos libertados estava a jornalista Bushra al-Tawil, presa em março de 2024, e a ex-parlamentar Khalida Jarrar, líder proeminente da Frente Popular para a Libertação da Palestina, movimento de orientação marxista classificado como "organização terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Também está Dalal Muhammad Suleiman Khasib, irmã do vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, assassinado em janeiro de 2024. Veja abaixo um pouco mais sobre elas:

Bushra al-Tawil
De acordo com a agência turca Anadolu, a jornalista Bushra al-Tawill, de 31 anos, é filha do líder sênior do Hamas, Jamal al-Taweel, ex-prefeito da cidade de al-Bireh, na Cisjordânia. Segundo a agência, a jornalista estava sob detenção administrativa, o que significa que poderia ser mantido presa sem acusações ou julgamento por um longo período.

— A espera foi extremamente difícil. Mas, graças a Deus, tínhamos certeza de que um dia nos libertariam — disse à AFP.

A jornalista Bushra al-Tawil abraça sua família após ser libertada em acordo de trégua entre Israel e Hamas  Foto: reprodução/redes sociaisA jornalista Bushra al-Tawil abraça sua família após ser libertada em acordo de trégua entre Israel e Hamas — Foto: reprodução/redes sociais

De acordo com a ONG Coalition for Women in Journalism, al-Tawill foi presa pelo menos quatro vezes pelas forças israelenses. Foi detida pela primeira vez em 2011, quando ainda estava no ensino médio, sendo sentenciada a 16 meses de prisão. Foi libertada em um acordo de troca de prisioneiros entre Israel e Hamas no mesmo ano.

A ONG explicou que, após sua primeira prisão, al-Tawil decidiu estudar jornalismo. Ela se formou na Modern University College em 2013 e, posteriormente, começou a trabalhar em uma rede de notícias chamada "Aneen al-Qaid", criada por ex-detentos e que tinha por objetivo chamar atenção para os casos de detenções arbitrárias, os direitos dos presos, e o sofrimento das famílias.

Ainda segundo a organização, a jornalista reservava uma seção apenas para matérias com recorte sobre mulheres e sua situação nas prisões israelenses. Ela é porta-voz oficial da rede e por vezes assumiu a liderança em diversos eventos. Al-Tawil é considerada uma defensora dos direitos humanos.

Assim como al-Tawil, seu pai foi preso várias vezes, tendo passado, no total, 14 anos na prisão. A mãe da jornalista também foi detida por um ano, informou a ONG palestina Addameer. Segundo a jornalista, seu pai, que permanece na prisão, também será solto como parte do acordo.

Khalida Jarrar
Mestre em ciência política e ex-parlamentar, Khalida Jarrar, de 62 anos, é membro da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP). De acordo com o Conselho Europeu para Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês), Jarrar foi mantida em detenção administrativa por Israel entre julho de 2017 e fevereiro de 2019.

A prisioneira palestina Khalida Jarrar, figura proeminente da rente Popular Marxista para a Libertação da Palestina (FPLP), é saudada por simpatizantes após sua libertação da prisão israelense  Foto: Zain Jaafar/AFPA prisioneira palestina Khalida Jarrar, figura proeminente da rente Popular Marxista para a Libertação da Palestina (FPLP), é saudada por simpatizantes após sua libertação da prisão israelense — Foto: Zain Jaafar/AFP

Após sua libertação, foi presa novamente em outubro de 2019 com base em "informações secretas". Sua filha, Susha, morreu na mesma época, e, segundo o Monitor do Oriente Médio (Memo), Jarrar teve o direito de ver o corpo da filha e de comparecer ao funeral negados.

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Dois anos depois, em março, a ex-parlamentar foi condenada a dois anos de prisão. Foi presa novamente no fim de 2023, tendo sido mantida novamente sob detenção administrativa em confinamento solitário, segundo a al-Jazeera.

Jaffar é uma defensora da libertação dos prisioneiros políticos, dos direitos humanos e das mulheres. A agência Middle East Eye disse que seu ativismo começou ainda na adolescência. Mãe de dois filhos, a acadêmica foi diretora da ONG Addameer e da ONG Human Rights Association de 1994 a 2006. Segundo o Memo, durante seus períodos de detenção, ela teria criado programas educacionais para ensinar meninas presas.

Dalal al-Arouri
Dalal Muhammad Suleiman Khasib, de 52 anos, é irmã do vice-líder do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, que foi assassinado em um subúrbio da capital libanesa, Beirute, em janeiro de 2024.
 

A irmã de Saleh al-Arouri, Dalal  Foto: captura de tela/AFPA irmã de Saleh al-Arouri, Dalal — Foto: captura de tela/AFP

Saleh é acusado de planejar ataques contra Israel e ajudou a fortalecer a relação entre o Hamas e o Hezbollah, o grupo xiita libanês apoiado pelo Irã.

De acordo com o jornal Times of Israel, al-Arouri é acusada em um tribunal militar de desviar dinheiro para o Hamas e por incitação. Em comunicado, as autoridades afirmam que a mulher ajudou a transferir dinheiro para o irmão diversas vezes entre 2023 e 2024 e fez várias declarações "incitantes" em 7 de outubro, data do ataque terrorista do Hamas contra Israel.

Ela foi presa há um ano em uma operação 'Arura, próximo a Ramallah. No mesmo dia, em uma operação separada, sua irmã, Fatima, foi presa em al-Bireh. As Forças Armadas israelenses informaram que as mulheres foram presas por "incitar o terror contra o Estado de Israel". Fatima também aparece em uma lista divulgada pela al-Jazeera como um dos 90 palestinos libertados.

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