GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel adverte que guerra na Faixa de Gaza durará 'vários meses'

Os EUA, que no início desta semana tiveram sua primeira divergência com o Estado judeu desde o início do conflito, rebateram a declaração, afirmando que o país quer que a guerra 'termine o mais rápido possível'

Foguetes israelenses acima de Khan Yunis, no sul da Faixa de GazaFoguetes israelenses acima de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - Foto: Said Khatib / AFP

O ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, reconheceu na quinta-feira que a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza durará "mais do que vários meses", apesar das preocupações expressas pelo assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, sobre o alto número de civis palestinos mortos. A fala repecurtiu de maneira imediata entre seu principal aliado, os Estados Unidos. Após a primeira divergência contundente desde o início do conflito, no dia 7 de outubro, a Casa Branca afirmou que os EUA querem que a guerra "termine o mais rápido possível".

Sullivan, que desembarcou em Tel Aviv nesta quinta-feira, disse que os militares israelenses precisam encontrar maneiras de reduzir a intensidade de seus bombardeios, isto é, que eles devem buscar "operações de baixa intensidade" contra Gaza "em um futuro próximo", segundo o porta-voz da Casa Branca, John Kirby. As observações foram feitas pelo assessor americano antes de ele se reunir com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém. Espera-se que o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, também visite o Estado Judeu em breve.

Apesar dos sinais de impaciência dos Estados Unidos, seu principal aliado, Israel intensificou seus bombardeios. A guerra na Faixa de Gaza, desencadeada após o ataque terrorista contra Israel em outubro, já deixou mais de 20 mil pessoas mortas, entre judeus e palestinos, de acordo com os números das respectivas autoridades.

O ataque do Hamas matou 1.200 pessoas, a maioria civis, de acordo com as autoridades israelenses. A resposta de Israel, por sua vez, deixou 18.787 pessoas mortas no enclave palestino, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Nesta quinta-feira, o Ministério afirmou que os bombardeios israelenses durante a noite mataram pelo menos 67 pessoas.

Apesar do alto número de mortes de civis, o que tem provocado uma condenação crescente em todo o mundo, as autoridades israelenses querem continuar sua resposta militar.

— O Hamas é uma organização terrorista que foi formada há uma década para combater Israel e construiu infraestruturas subterrâneas e aéreas que não são fáceis de destruir. Isso levará tempo, mais do que alguns meses. Mas derrotaremos e destruiremos [o grupo] — afirmou Gallant, que se reuniu com Sullivan.

O assessor americano disse, em um evento do Wall Street Journal, antes da viagem, que discutiria um cronograma para o fim da guerra e pediria às autoridades israelenses que "passassem para uma fase diferente das operações de alta intensidade que vemos hoje".

Futuro de Gaza
Netanyahu admitiu que há "discordâncias" com os EUA sobre o pós-guerra e o futuro do Oriente Médio, no que tange a administração de Gaza com o fim do Hamas. Uma das medidas defendidas por Washington é a solução de dois Estados — isto é, a criação de um Estado palestino, o que é rejeitado pela linha dura de Israel.

O chefe do grupo, Ismail Haniyeh, disse na quarta-feira que "qualquer discussão sobre Gaza ou sobre a causa palestina sem a presença do Hamas ou das facções da resistência será um engano". Uma pesquisa divulgada na quarta-feira pelo Palestinian Center for Survey and Policy Research indicou que Haniyeh tem o apoio de 78% das pessoas nos territórios palestinos, em comparação com 58% antes da guerra.

Além da pressão dos EUA, a Assembleia Geral da ONU votou esta semana de forma esmagadora a favor de um apelo não vinculativo para um cessar-fogo, mas os EUA (juntamente com mais nove nações, incluindo Israel) se manifestaram contra a maioria esmagadora de 140 votos (de um total de 193 países-membros).

'Discordâncias' entre os aliados
Na cidade de Khan Younis, nesta quinta-feira, a fumaça se desprendia dos escombros que as pessoas se esforçavam para remover com pás e com as próprias mãos.

— Cerca de quatro pessoas ainda estão sob os escombros [depois que um avião atingiu o prédio] sem aviso — disse Hassan Bayyout, de 70 anos.

Na Cisjordânia, que também sofreu um aumento na violência desde 7 de outubro, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) informou que "um jovem" foi morto em um ataque israelense na cidade de Jenin. O chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse na quarta-feira que os habitantes de Gaza "enfrentam o capítulo mais sombrio de sua história".

A ONU estima que 1,9 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados e estão vivendo em barracas, e que os suprimentos de alimentos, água potável, medicamentos e combustível estão acabando.

'Pausas táticas'
A agência do Ministério da Defesa israelense encarregada dos assuntos civis palestinos, COGAT, disse que o exército "está permitindo pausas táticas para fins humanitários". Uma delas ocorreu durante quatro horas em um bairro na cidade de Rafah, no sul do país, transformada em um grande campo de deslocados internos, para permitir que os civis reabastecessem os suprimentos, segundo a agência.

Na quinta-feira, o exército disse que "mais de 70 terroristas deixaram o hospital com armas nas mãos" e indicou que suas tropas mataram "vários" milicianos durante os combates na área.consequências são "catastróficas". Na terça-feira, o Hamas afirmou que as forças israelenses "invadiram o hospital Kamal Adwan", na Cidade de Gaza, no norte do enclave.

Nesta quinta-feira, o exército disse que "mais de 70 terroristas deixaram o hospital com armas nas mãos" e indicou que suas tropas mataram "vários" integrantes do grupo durante os combates na área. Israel frequentemente acusa o grupo terrorista de usar túneis sob hospitais, escolas e mesquitas para fins militares. O Hamas rejeita essas acusações.

O Exército israelense diz que perdeu 116 soldados desde o início de sua ofensiva e enfrenta uma pressão crescente para libertar os reféns capturados pelo Hamas. Depois que dezenas deles foram libertados durante uma trégua, instaurada em um acordo entre Israel e o Hamas, e mediada pelo Egito, Catar e Estados Unidos, as autoridades israelenses afirmam que 118 dos 240 reféns ainda estão vivos em Gaza.

Veja também

Macron afirma que "existe caminho diplomático" para o Líbano
Guerra

Macron afirma que "existe caminho diplomático" para o Líbano

Fiocruz mantém alerta para alta de casos graves de covid-19
covid-19

Fiocruz mantém alerta para alta de casos graves de covid-19

Newsletter