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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel amplia ataques perto de hospitais em Gaza; Cruz Vermelha fala em "ponto de não retorno"

Diretores de instalações falam em "cerco militar"

Família palestina em meio a ruínas da casa em que morava na Faixa de GazaFamília palestina em meio a ruínas da casa em que morava na Faixa de Gaza - Foto: SAID KHATIB / AFP

As forças israelenses ampliaram as operações perto de hospitais e instalações do já precário sistema de saúde da Faixa de Gaza nesta sexta-feira, e autoridades locais e representantes de organizações humanitárias alertam que a situação está chegando a um "ponto de não retorno", que pode custar as vidas de muitos dos civis que ainda estão em áreas de conflito.

Um ponto central dos combates na Cidade de Gaza é a área próxima ao hospital Al-Quds, que assim como outros hospitais foi apontado por Israel como um centro de comando das operações do Hamas. De acordo com a Cruz Vermelha Palestina, atiradores de elite fizeram disparos contra o local, e deixaram uma pessoa morta e cerca de vinte feridas, sendo que várias delas crianças que realizavam algum tipo de tratamento. Mais tarde, a organização afirmou que, em um novo ataque, tropas israelenses abriram fogo contra uma unidade de terapia intensiva no hospital.

Ainda no Norte de Gaza, o diretor de um complexo médico afirmou à CNN que tanques estão cercando o local, impedindo a saída de pacientes, funcionários e de muitos civis que buscaram ali refúgio contra os combates.

— Estamos completamente cercados, há tanques do lado de fora do hospital e não podemos sair — disse à CNN Mustafa al-Kahlout, responsável pelo hospital Al-Nasr e pelo hospital pediátrico Al-Rantisi , ambos próximos da vizinhança de Sheikh Radwan, onde há intensos combates entre as forças israelenses e militantes do Hamas. — Não temos eletricidade, não temos oxigênio para os pacientes, não temos remédios e água. Nao sabemos nosso destino.

Outro hospital a ser atingido nesta sexta-feira foi o Al-Shifa, um alvo recorrente das forças israelenses nos últimos dias, e também apontado como sendo um centro de comando do Hamas. Autoridades locais afirmam que projéteis atingiram o pátio da instalação nas primeiras horas da manhã, e dizem que ao menos uma pessoa morreu. Imagens do local, publicadas em redes sociais, mostram pessoas cobertas de sangue e correndo em meio aos escombros.

— Israel está lançando agora uma guerra contra os hospitais da Cidade de Gaza — disse à Al Jazeera Abu Salmiya, chefe do hospital. — Os doentes e feridos ocupam todos os corredores, e não podemos fazer cirurgias. Não podemos achar uma cama para as vítimas. Estamos tomando decisões difíceis sobre quem salvar e quem deixar morrer. Enquanto falo com você, estou diante de cem cadáveres.

Muitos dos corpos mencionados por Salmiya seriam de vítimas de um ataque contra uma escola, na manhã desta sexta-feira — segundo autoridades do Hamas, 50 pessoas que se abrigavam no local morreram, e as vítimas foram levadas para o Al-Shifa. Na conversa com a Al Jazeera, o diretor do hospital disse que apenas uma das quatro alas está funcionando.

— Essas alas não podem funcionar sem eletricidade. Precisamos muito de combustível para manter essas unidades críticas funcionando. Milhares de vidas de pacientes estão por um fio. Isso é um crime de guerra — disse à Al Jazeera.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, dos 35 hospitais do território, 18 estão fechados, assim como outros 40 centros de saúde locais, por causa da falta de combustível necessário para manter os geradores funcionando ou por danos causados às estruturas.

"Extenuados, funcionando com suprimentos escassos e cada vez mais sem segurança, o sistema de saúde em Gaza atingiu um ponto de não retorno, com as vidas de milhares de feridos, doentes e desalojados em risco", afirmou, em comunicado, a Cruz Vermelha Internacional. "Nos últimos dias, as equipes da Cruz Vermelha, ao distribuírem insumos críticos ao redor de Gaza, testemunharam imagens horrendas que ficaram ainda piores por causa do aumento das hostilidades. Isso está afetando severamente os hospitais e ambulâncias, impondo um alto custo a civis, pacientes e profissionais da saúde."

No texto, a Cruz Vermelha reitera que hospitais devem ser protegidos em conflitos, de acordo com as leis internacionais, e afirma que a proteção das vidas de todos os civis "não é só uma obrigação legal, mas um imperativo moral".

Desde o início da guerra, Israel vem acusando o Hamas de usar hospitais como postos de controle para suas operações militares, aliados à ampla rede de túneis que cruzam as principais áreas urbanas da Faixa de Gaza. O premier Benjamin Netanyahu chegou a publicar um vídeo em suas redes sociais mostrando o que seria o funcionamento de uma estrutura subterrânea no hospital Al-Shifa, alvo recorrente de ataques. Contudo, ele não apresentou evidências que comprovassem suas acusações, além de um vídeo usando computação gráfica.

— O Hamas transformou hospitais em centros de comando e controle, além de esconderijos para os terroristas e comandantes — disse Daniel Hagari, porta-voz dos militares, em uma entrevista coletiva no mês passado. — Os terroristas do Hamas operam dentro e debaixo do hospital Al-Shifa e de outros hospitais de Gaza.

Abu Salmyia, diretor do hospital, nega as acusações.

— Isso é falso, são mentiras flagrantes. Esse é um hospital civil, cuidamos de mais de 1,5 milhão de pessoas em Gaza — disse à Al Jazeera. — As forças de ocupação israelenses estão cientes de que essa é uma área completamente segura. Eles têm a certeza de que não há centro de comando ou túneis escondidos nesses hospitais.

Mas nesta sexta-feira, um porta-voz do Exército de Israel deixou claro que as operações em hospitais não devem cessar tão cedo.

— Se virmos terroristas do Hamas atirando de hospitais, faremos o que temos de fazer (...), vamos matá-los — disse Richard Hecht a jornalistas, reconhecendo a "natureza sensível" dessas operações.

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