Guerra

Israel ataca escola transformada em abrigo para refugiados no dia em que guerra em Gaza faz 11 anos

Pelo menos 13 palestinos foram mortos e outros 15 ficaram feridos no ataque; sem sinais de trégua, conflito segue apesar dos apelos internacionais

Palestinos lamentam sobre os corpos das vítimas do bombardeio israelense em 7 de setembro de 2024 em Deir el-Balah, na faixa de Gaza Palestinos lamentam sobre os corpos das vítimas do bombardeio israelense em 7 de setembro de 2024 em Deir el-Balah, na faixa de Gaza  - Foto: Eyad BABA/AF

A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza completa 11 meses neste sábado, sem sinais de uma trégua que permita o fim dos bombardeios israelenses e a libertação dos cerca de 100 reféns ainda retidos no enclave. Estados Unidos, Catar e Egito, países mediadores das negociações, tentam obter há vários meses um acordo.

As possibilidades, no entanto, diminuíram nas últimas semanas porque as partes envolvidas não cedem em suas posições.

O Hamas, que governa Gaza e cujo ataque sem precedentes em 7 de outubro no sul de Israel desencadeou a guerra, exige a retirada completa do Exército israelense do território palestino.

O primeiro-ministro do Estado judeu, Benjamin Netanyahu, por outro lado, insiste que as tropas do país devem permanecer no chamado Corredor da Filadélfia, área estratégica ao longo da fronteira de Gaza com o Egito apontada como caminho para que o grupo terrorista se rearme após a guerra ou reconstrua túneis que podem ser usados para atacar Israel.

Na madrugada deste sábado, pelo menos 13 palestinos foram mortos e outros 15 ficaram feridos em ataques israelenses a uma escola que abrigava refugiados e a um edifício residencial em Gaza, informou a agência de notícias oficial da Autoridade Palestina.

Pelo menos oito das vítimas estavam em tendas de refugiados na escola Halima al-Sa’diyya, em Jabaliya, no norte de Gaza. Em nota, as Forças Armadas de Israel disseram ter realizado “um ataque preciso contra terroristas que operavam dentro de um centro de comando do Hamas”.

As mortes dos últimos ataques somam-se aos mais de 49 mil palestinos que foram mortos em 11 meses de guerra, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza.

A ofensiva em Jabaliya foi seguida por uma série de bombardeios no norte e centro do enclave, incluindo ataques na cidade de Nuseirat e na Cidade de Gaza.

Crianças estavam entre os mortos em ambos os ataques, disseram os serviços de emergência locais.

Nos últimos meses, Israel ordenou repetidas vezes a retirada de civis de determinadas regiões do território palestino e reduziu o tamanho da “zona humanitária” designada para essas pessoas.

“Onze meses. Chega. Ninguém aguenta isso por mais tempo. A humanidade deve prevalecer. Cessar-fogo agora”, escreveu no X (bloqueado no Brasil) Philippe Lazzarini, diretor da UNRWA, a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos.

A pressão internacional pelo fim da guerra aumentou na sexta-feira, após a morte de uma ativista turco-americana na Cisjordânia.

Aysenur Ezgi Eygi, 26 anos, morreu ao ser atingida na cabeça por tiros das forças israelenses quando participava em um protesto contra a colonização judaica em Beita, perto de Nablus, no norte do território palestino ocupado por Israel desde 1967.

A família da jovem disse, em comunicado, que ela “defendia pacificamente a Justiça quando foi assassinada” e exigiu uma “investigação independente”.

“Pedimos ao presidente [dos Estados Unidos, Joe] Biden, à vice-presidente Kamala Harris e ao secretário de Estado Anthony Blinken que ordenem uma investigação independente sobre o assassinato injusto de uma cidadã americana e que garantam que os responsáveis sejam plenamente responsabilizados”, diz o texto.

O Exército israelense afirmou na sexta-feira que os soldados do setor de Beita “responderam atirando na direção do principal instigador da violência, que havia atirado pedras e representava uma ameaça”.

Também indicou que estava “examinando informações de que uma cidadã estrangeira teria sido morta em consequência dos tiros efetuados na área”.

Washington, principal aliado de Israel, exigiu uma investigação sobre o caso, mas a família considera que “diante das circunstâncias (...) da morte de Aysenur, uma investigação israelense não é suficiente”.

Israel iniciou em 28 de agosto uma operação em larga escala na Cisjordânia, onde a violência aumentou desde o início da guerra em Gaza. Em Jenin e no campo de refugiados vizinho, também alvo da operação “antiterrorismo” lançada pelas forças israelenses, um rastro de destruição mostrou o impacto da ação dos militares, que deixaram a cidade na sexta-feira.

Segundo um balanço do Exército, pelo menos 14 “terroristas” foram mortos nos últimos dias no local.

Negociações sem avanço
O conflito em Gaza começou em 7 de outubro, após membros do Hamas invadirem o território israelense e matarem mais de 1,2 mil pessoas, a maioria civis.

Dos mais de 250 reféns que foram levados para o enclave em 7 de outubro, mais de 100 foram libertos durante um cessar-fogo em novembro.

Oito foram resgatados por Israel, e tropas israelenses mataram acidentalmente três sequestrados que escaparam do cativeiro em dezembro.

Em resposta ao ataque, o Estado judeu prometeu destruir o Hamas e iniciou uma vasta ofensiva no território palestino.

Apesar do apelo de organizações de direitos humanos, familiares de reféns israelenses e da comunidade internacional, Netanyahu teria decidido “há algumas semanas” que não deseja alcançar um acordo de reféns e cessar-fogo na Faixa de Gaza.

A informação foi dita ao jornal israelense Haaretz por uma fonte da coalizão do governo. Ministros e membros da Knesset, o Parlamento israelense, estariam cientes das motivações políticas que guiam o premier.

Embora alguns se manifestem a favor de um acordo, eles acreditam que nenhuma ação é exigida deles até que Netanyahu traga uma decisão para votação na mesa do Gabinete.

— Ao usar o Corredor da Filadélfia, Netanyahu se deu conta de que também poderia ganhar alguns pontos com esse grupo mais moderado — disse a fonte, que, segundo o Haaretz, não faz parte da oposição e é “intimamente envolvida” com o governo. — A mídia caiu nessa e tem passado o dia todo preocupada com a questão de ‘sim’ ou ‘não’ para a [presença militar de Israel] na Filadélfia, mas a verdadeira questão é realmente o destino dos reféns versus o destino da coalizão.

Nesta semana, uma greve geral organizada pela principal central sindical do país atingiu diversos setores do Estado judeu.

O objetivo foi pressionar o governo a um acordo que garanta a libertação dos reféns. As manifestações mais recentes eclodiram depois que o Exército anunciou, no último sábado, a recuperação dos corpos de seis reféns mortos à queima-roupa no enclave palestino.

A paralisação foi a maior em Israel desde março de 2023, quando manifestantes protestaram contra as tentativas de Netanyahu de reformar o Judiciário para diminuir o poder de supervisão dos tribunais sobre as decisões do governo.

Na segunda-feira, Biden disse que Netanyahu não fazia o suficiente para garantir um acordo com o Hamas para a libertação dos reféns israelenses.

Em conversa com repórteres americanos, o líder democrata também afirmou que a Casa Branca está perto de apresentar uma proposta final sobre o assunto para o conflito em Gaza.

Quando questionado sobre a possibilidade de o tratado ser aceito por ambas as partes, Biden respondeu que “a esperança é a última que morre”. 

Veja também

Itália realizou "progressos notáveis" contra a migração clandestina, diz premiê britânico
diplomacia

Itália realizou "progressos notáveis" contra a migração clandestina, diz premiê britânico

Pessoa mais velha do mundo é certificada pelo Guinness no Dia do Respeito aos Idosos
GUINNESS

Pessoa mais velha do mundo é certificada pelo Guinness no Dia do Respeito aos Idosos

Newsletter