Israel bombardeia Gaza antes de votação no Conselho de Segurança da ONU
Israel anunciou que prepara uma ofensiva terrestre em larga escala contra Rafah
Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza nesta terça-feira (20), antes de uma votação no Conselho de Segurança da ONU, onde a comunidade internacional tenta aprovar uma resolução sobre uma trégua dos combates no território palestino.
Testemunhas relataram bombardeios e combates nas primeiras horas de terça-feira no leste da Cidade de Gaza e em Khan Yunis, no sul do território.
"Os mísseis caem sobre nós. Quanto tempo mais um ser humano pode suportar?", questionou Aiman Abu Shamali, que perdeu a mulher e a filha em um bombardeio em Zawaida, no centro de Gaza.
"As pessoas morrem de fome no norte e nós, aqui, morremos nos bombardeios", afirmou.
Três agências da ONU apresentaram um alerta nesta terça-feira sobre a situação humanitária no território palestino cercado, governado desde 2007 pelo movimento islamista Hamas.
Também advertiram que a escassez de alimentos e as doenças podem provocar uma "explosão" de morte de crianças.
Mais de quatro meses após o início do conflito, quase 1,5 milhão de palestinos estão refugiados em Rafah, uma cidade do sul na fronteira com o Egito.
Israel anunciou que prepara uma ofensiva terrestre em larga escala contra Rafah, um plano que preocupa a comunidade internacional, que tenta negociar uma trégua.
O Conselho de Segurança da ONU deve votar nesta terça-feira uma resolução, apresentada pela Argélia, que o governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, ameaça vetar.
O texto, ao qual a AFP teve acesso, exige "um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes" e se opõe "ao deslocamento forçado da população civil palestina", uma referência à saída de civis exigida por Israel antes da ofensiva contra Rafah.
Washington considera que esta resolução dificulta as negociações para obter uma nova trégua que também inclua a libertação dos reféns capturados pelo Hamas no ataque contra o sul de Israel, em 7 de outubro.
O ataque deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números divulgados pelas autoridades israelenses. O movimento islamista também sequestrou 250 pessoas, das quais 130 permanecem como reféns em Gaza, incluindo 30 que teriam falecido no cativeiro.
A ofensiva militar israelense em Gaza para "aniquilar" o Hamas deixou pelo menos 29.092 mortos, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo movimento islamista.
O governo dos Estados Unidos apresentou ao Conselho de Segurança um texto alternativo à proposta da Argélia, na qual enfatiza o "apoio a um cessar-fogo temporário em Gaza", segundo um rascunho ao qual a AFP teve acesso.
Também alerta que uma ofensiva terrestre em Rafah "provocará mais danos aos civis" e mais deslocamentos.
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Crianças desnutridasA cidade de Rafah é crucial porque é o principal ponto de entrada da ajuda humanitária, da qual depende a população deste território palestino, que está sob cerco total de Israel desde outubro.
Os ataques israelenses na cidade impedem as operações humanitárias e a entrega de alimentos está bloqueada pelos fechamentos frequentes da fronteira, segundo a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
Uma em cada seis crianças no norte de Gaza sofre desnutrição aguda, segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), uma situação que pode agravar o "nível insuportável de mortes de crianças".
O ministro israelense Benny Gantz, integrante do gabinete de guerra, alertou no domingo que se os reféns não forem devolvidos até o Ramadã, "os combates continuarão em todas as partes, inclusive na área de Rafah".
O mês sagrado muçulmano começa em 10 de março.
Os mediadores internacionais tentam evitar o ataque contra Rafah, mas as semanas de negociações conduzidas por Estados Unidos, Egito e Catar não alcançaram um acordo.
O Hamas ameaçou abandonar as negociações caso mais ajuda não seja enviada e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou as exigências do movimento palestino.
Netanyahu descartou com veemência os pedidos para a inclusão do reconhecimento de um Estado palestino como parte do acordo, ao destacar que "colocaria em perigo a existência do Estado de Israel".
Manifestantes israelenses tentaram bloquear o acesso dos caminhões de ajuda à fronteira entre Egito e Gaza para pressionar pela libertação dos reféns.
Um grupo de especialistas da ONU pediu uma investigação independente dos supostos abusos israelenses contra mulheres e crianças palestinas, incluindo assassinatos, estupros e agressões sexuais.
Israel classificou as acusações como "vis e sem fundamento".