Israel bombardeia Gaza e mediadores intensificam pressão para obter trégua
Quase 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza estão cercados por Israel, com escassez de água e alimentos
As tropas israelenses atacaram e bombardearam vários bairros da Cidade de Gaza nesta segunda-feira (8), o que forçou uma fuga dos moradores, depois que Hamas e Israel apresentaram suas exigências para uma eventual trégua após nove meses de guerra.
Nos últimos meses, as esperanças de um acordo de cessar-fogo esbarraram reiteradamente nas divergências incompatíveis dos dois lados, apesar das pressões internacionais para acabar com uma guerra que provocou um desastre humanitário na Faixa de Gaza, ameaçada pela fome, segundo a ONU.
Porém, como gesto para retomar as negociações - que têm a mediação de Catar, Estados Unidos e Egito - sobre uma trégua e a libertação dos reféns que permanecem em Gaza, o Hamas cedeu no domingo a exigência de um cessar-fogo permanente.
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A guerra, no entanto, ameaça provocar um novo conflito no Líbano, vizinho de Israel, após uma intensificação das trocas de tiros entre o Exército israelense e o movimento islamista libanês Hezbollah, que abriu uma frente em apoio ao seu aliado Hamas.
"Dezenas de mártires e feridos"
Os combates prosseguem no território palestino, onde os soldados israelenses atacaram vários bairros da Cidade de Gaza, no norte, e milhares de habitantes foram obrigados a fugir, afirmaram testemunhas e a Defesa Civil.
"Há dezenas de mártires e feridos em alguns bairros", afirmou a Defesa Civil, que não conseguiu prestar atendimento a todos devido à intensidade dos disparos.
Tanques israelenses estabeleceram posição em vários bairros e outros continuam avançando, com apoio aéreo, segundo testemunhas.
O Exército anunciou, por alto-falantes, uma ordem de evacuação para os moradores dos bairros de Al Daraj e de Al Tuffah, na Cidade de Gaza.
Quase 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza estão cercados por Israel, com escassez de água e alimentos. Mais de 80% da população foi forçada ao deslocamento, segundo a ONU.
No bairro de Shujaiya, "dezenas de terroristas foram eliminados", afirmou o Exército israelense.
Em Rafah, no extremo sul, na fronteira com o Egito, mais de 30 terroristas foram "eliminados" e áreas de lançamento de foguetes em Khan Yunis foram bombardeadas, acrescentaram fontes militares.
A guerra começou em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 42 teriam morrido.
Israel prometeu aniquilar o Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista pelo país, pelos Estados Unidos e pela UE.
Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva no território palestino que matou 38.193 pessoas, também em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Depois de lançar uma ofensiva terrestre em 7 de maio em Rafah para eliminar, segundo Israel, "os últimos batalhões do Hamas", o Exército enfrenta um ressurgimento do movimento no norte da Faixa.
"Bloqueia tudo"
Em meio aos esforços diplomáticos para reiniciar as negociações que visam uma trégua, um representante de alto escalão do Hamas indicou no domingo, sob a condição de anonimato, que seu movimento não exige mais um cessar-fogo permanente antes de negociar.
"A bola está do lado dos israelenses", declarou a fonte.
"Este ponto já foi superado" e os mediadores se comprometeram a manter um cessar-fogo vigente enquanto as negociações, que ainda não começaram, estiverem em andamento, acrescentou.
O Hamas informou aos mediadores que deseja o cumprimento de três etapas, incluindo a entrada em Gaza de 400 caminhões de ajuda por dia e a retirada do Exército israelense do "corredor Filadélfia e da passagem de fronteira de Rafah".
O Hamas exigia até agora uma retirada total israelense de Gaza e um cessar-fogo permanente.
O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou no domingo que "qualquer acordo permitiria a Israel retornar e lutar até alcançar todos os objetivos da guerra", ou seja, a destruição do Hamas e a libertação de todos os reféns.
Israel já havia anunciado que enviaria uma delegação a Doha nos próximos dias para negociações com os mediadores do Catar.
"As intenções de Netanyahu são claras. Cada vez que se avança na direção de um acordo, ele bloqueia tudo e intensifica a agressão contra o nosso povo", declarou uma fonte do Hamas, que pediu anonimato.
Para aumentar a pressão sobre o governo, novas manifestações foram convocadas para esta segunda-feira em Israel.
Até o momento, os mediadores internacionais só conseguiram que as duas partes concordassem com uma trégua no final de novembro, o que permitiu a libertação de 80 reféns em troca de 240 palestinos detidos em Israel.