Conflito

Israel cancela visita à Casa Branca após abstenção dos EUA em votação da ONU de cessar-fogo em Gaza

Postura americana no Conselho de Segurança abriu caminho para que a proposta de resolução do conflito no enclave fosse aprovada pelas Nações Unidas

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante reunião ministerial Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante reunião ministerial  - Foto: Abir Sultan/AFP

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cancelou a visita da delegação israelense à Casa Branca após a abstenção dos Estados Unidos na votação do Conselho de Segurança da ONU sobre um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, anunciou a imprensa local. A postura adotada pelos EUA abriu caminho para que a resolução sobre o conflito no enclave fosse aprovada pelas Nações Unidas nesta segunda-feira, mais de cinco meses após o início da guerra.

Um comunicado divulgado pela Kann, emissora estatal de Israel, diz que “os EUA recuaram de sua posição consistente no Conselho de Segurança que ligava um cessar-fogo à libertação dos reféns”. O governo israelense afirmou que a decisão prejudica a sua ofensiva contra o Hamas, bem como seus esforços para libertar as pessoas sequestradas durante o ataque do grupo terrorista a Israel em 7 de outubro. Estima-se que 130 reféns ainda estejam em Gaza, dos quais ao menos 30 tenham morrido.

Em entrevista coletiva, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou que o governo americano estava “desapontado” com a decisão israelense. A reunião, solicitada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, ocorreria com o ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, e o chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, e abordaria “alternativas viáveis” para uma ofensiva terrestre em Rafah, cidade no sul de Gaza que faz fronteira com o Egito.

— Nós fomos claros e consistentes em nosso apoio a um cessar-fogo como parte de um acordo de reféns. É assim que o acordo de reféns é estruturado — declarou Kirby. — Queríamos chegar a um ponto em que pudéssemos apoiar essa resolução, mas como o texto final não possui a linguagem fundamental que consideramos essencial, como uma condenação ao Hamas, não pudemos apoiá-lo.

A reunião entre o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em Washington, ainda está prevista para acontecer, afirmou o porta-voz do Pentágono, Pat Ryder. O encontro, segundo ele, deve abordar “uma variedade de tópicos”, incluindo a libertação de reféns do Hamas em Gaza e a necessidade de mais ajuda humanitária para os civis do enclave.

ONU aprova resolução
O texto aprovado nesta segunda-feira foi apresentado pelos 10 membros não permanentes do Conselho. A resolução foi adotada após receber 14 votos a favor, nenhum contra e a abstenção dos Estados Unidos. O texto exige “um cessar-fogo imediato para o mês do Ramadã” (período sagrado para os muçulmanos e que teve início no último dia 10) e a “libertação imediata e incondicional de todos os reféns”.

Na sexta-feira, a proposta americana para o cessar-fogo no enclave foi vetada pela Rússia e pela China na ONU. Antes disso, no entanto, os Estados Unidos já tinham vetado três resoluções anteriores do Conselho de Segurança que pediam o fim da guerra em Gaza entre Israel e o Hamas. Nas ocasiões, o argumento era o de que Israel tinha o direito de se defender após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro, e que as medidas poderiam interromper as negociações sobre os reféns.

A negociação para a redação do texto aprovado foi descrita como intensa “até o último minuto”. Os EUA pediram a troca do termo “cessar-fogo permanente” por “cessar-fogo duradouro”, linguagem que, segundo diplomatas, deixaria espaço para Israel se defender. Uma proposta de emenda russa sobre um cessar-fogo “permanente” foi rejeitada, e a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse não concordar com “tudo o que consta na resolução” aprovada.

— Certas edições importantes foram ignoradas, incluindo nosso pedido para adicionar uma condenação ao Hamas. Por esse motivo, não pudemos votar 'sim'. Mas apoiamos plenamente alguns dos objetivos críticos desta resolução não vinculativa e acreditamos que era importante que o conselho se manifestasse e deixasse claro que qualquer cessar-fogo deve vir acompanhado da libertação dos reféns — afirmou.

Na medida em que o número de mortos aumenta em Gaza – ultrapassando a marca dos 30 mil, segundo as autoridades de saúde do enclave –, e com o acúmulo de denúncias sobre a situação humanitária local, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e outros funcionários americanos tornaram-se cada vez mais críticos do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Em discurso neste mês, Biden pediu que o premiê israelense permitisse mais ajuda em Gaza.

Hospitais sitiados
Também nesta segunda-feira, o Exército de Israel afirmou que luta contra terroristas do Hamas em torno de ao menos dois hospitais em Gaza. Segundo os militares israelenses, mais de 20 combatentes do grupo foram mortos nas últimas 24 horas. No domingo, porém, a ONG Crescente Vermelho denunciou que um trabalhador voluntário foi morto por tiros de Israel. A organização disse que mensagens transmitidas por drones israelenses exigiam que todos saíssem nus de um dos hospitais.

A população que vive nas imediações do hospital al-Shifa, o maior de Gaza, relata que tem vivido condições “infernais”. Eles afirmam que há cadáveres nas ruas, bombardeios constantes e a detenção de muitos homens que são obrigados a despir-se para interrogatório. Segundo Israel, o saldo das suas operações nesta área é de 170 “terroristas” mortos e quase 500 detenções de membros do Hamas e da Jihad Islâmica.

Há mais de uma semana, militares israelenses lançaram uma operação em torno do complexo médico al-Shifa e iniciaram um cerco ao hospital al-Amal. Segundo autoridades de Israel, as operações lançadas são “precisas”. Agências humanitárias, por outro lado, alertam sobre os riscos para os civis presos nos combates.

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