Israel confirma detenção de diretor de hospital em Gaza e ativistas pressionam por informações
Militares acusam Hussam Abu Safiya de "envolvimento em atividades terroristas" e de "ter uma patente" no Hamas; médico foi levado durante invasão israelense à unidade de saúde
Israel confirmou que está mantendo sob custódia o diretor do Hospital Kamal Adwan, o doutor Hussam Abu Safiya, sob justificativa de que o médico seria suspeito de "envolvimento em atividades terroristas", de "ter uma patente" no Hamas, e de esconder "centenas de terroristas" dentro do hospital. A unidade ficou fora de serviço na última semana após ser alvo de uma operação militar israelense.
A confirmação vem pouco depois das forças israelenses negarem a prisão ou detenção de Safiya em um pedido de informação feito na quinta pela ONG Médicos pelos Direitos Humanos - Israel (PHRI, na sigla em inglês), que entrou com uma petição no Tribunal Superior de Israel exigindo saber o paradeiro do médico, informou a CNN, um apelo ao qual se somam outras autoridades.
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Ex-detentos palestinos libertados recentemente por Israel disseram à rede americana que Safiya está detido junto com outros médicos do hospital em Sde Teiman, no deserto de Neguev. À rede BBC, a família do médico também disse acreditar que ele esteja sendo mantido em uma base militar na região.
Sde Teiman abriga dois campos de detenção militar israelenses — em maio de 2024, três whistleblowers (denunciantes) que trabalharam no local relataram à CNN uma rotina de tortura, humilhações, abusos e agressões contra detentos palestinos. Os campos servem como filtro usado pelos militares para saber quem será enviado para a prisão por suposta ligação com o Hamas e quem será libertado.
Safiya não é visto em público desde o dia 27 de dezembro, quando o Hospital Kamla Adwan foi invadido pelas forças israelenses sob alegação de que o hospital seria um “reduto terrorista do Hamas”. Na operação, os militares deram 15 minutos ao hospital para que transferisse pacientes e funcionários para o pátio, relatou a equipe médica à BBC.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, “60 membros da equipe e 25 pacientes” ficaram em estado crítico. No sábado, um dia após a invasão, as forças israelenses informaram ter apreendido 240 combatentes na unidade e que o diretor do hospital estava entre aqueles da equipe médica levados para interrogatório. A BBC explicou que Safiya já havia sido preso anteriormente durante uma outra invasão ao hospital, mas que foi libertado logo depois.
Na véspera da invasão do dia 27, Safiya anunciou a morte de cinco membros de sua equipe em um ataque israelense. O hospital está localizado em Beit Lahia, no norte de Gaza, onde o Exército anunciou uma nova ofensiva contra um suposto reagrupamento de homens do Hamas na área, isolando cada vez mais a região.
"Tortura e maus-tratos"
O PHRI afirmou que destacou ao Tribunal Superior de Israel que o caso do diretor do hospital faz parte de “um padrão mais amplo de não divulgação e informações não confiáveis fornecidas pelas autoridades militares e prisionais israelenses sobre os detidos palestinos.”
O parlamentar árabe-israelense Ahmed Tibi enviou uma carta ao ministro da Defesa israelense, Israel Katz, pedindo às autoridades que revelem o paradeiro de Safiya e questionando sob quais acusações ele está sendo detido. O membro do Knesset também pediu para visitar o diretor do hospital “o mais rápido possível” frente aos “inúmeros relatos de tortura em centros de detenção e das dezenas de detidos que morreram nos últimos meses”.
A secretária geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, citada pela rede BBC, afirmou que Israel deteve “centenas de profissionais de saúde palestinos de Gaza sem acusação ou julgamento" e denunciou que foram “submetidos a tortura e outros maus-tratos e mantidos em detenção incomunicável".
Especialistas da ONU também disseram estar “gravemente preocupados” com o destino de Safiya e apelaram às autoridades israelenses para “respeitarem e protegerem o direito à vida”.
Em declaração citada pela CNN, eles afirmaram que “as ações heróicas dos colegas médicos palestinos em Gaza nos ensinam o que significa ter feito o juramento médico”, acrescentando que “também são um sinal claro de uma humanidade depravada que permitiu que um genocídio continuasse por bem mais de um ano”.
O comunicado diz que mais de 1.057 profissionais de saúde e médicos foram mortos em Gaza.