Israel confrontado por decisão da ONU que ordena suspensão da ofensiva em Rafah
Após o anúncio, Netanyahu convocou vários ministros para "consultas", indicou o chefe do gabinete do governo
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou nesta sexta-feira (24) que Israel “suspenda imediatamente” suas operações militares em Rafah, uma decisão que coloca em apuros o governo de Benjamin Netanyahu, que considera essencial invadir a cidade no sul da Faixa de Gaza para derrotar o movimento islamista palestino Hamas.
Após o anúncio da decisão do mais alto tribunal da da ONU, Netanyahu convocou vários ministros para “consultas”, indicou o chefe do gabinete do governo.
Israel deve “interromper imediatamente a sua ofensiva militar e quaisquer outras ações na província de Rafah que imponham condições de vida aos palestinos em Gaza e que possam levar à sua destruição física total ou parcial”, afirmou o tribunal, com sede em Haia.
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A CIJ também ordenou que Israel mantivesse aberta a passagem de Rafah para que os habitantes de Gaza pudessem receber ajuda humanitária “sem restrições” e pediu a “libertação imediata e incondicional” dos reféns raptados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro e ainda mantidos em cativeiro em Gaza.
Israel argumentou no tribunal que um cessar-fogo permitiria o reagrupamento dos combatentes do Hamas e tornaria impossível a libertação dos reféns. As decisões da CIJ são juridicamente vinculantes, mas a corte não dispõe de meios para implementá-las.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel indicou que emitirá uma declaração sobre o assunto “quando estiver pronto”.
Sem esperar pela reação oficial, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, que é de extrema direita e apoia uma ofensiva contra Rafah, afirmou na rede social X que a "a história julgará aqueles que hoje estão junto aos nazistas do Hamas Daesh", associando o movimento que governa Gaza ao grupo jihadista Estado Islâmico (cujo acrônimo em árabe é "Daesh").
A CIJ decidiu com base em um pedido da África do Sul, que afirma que a ofensiva israelense em Gaza constitui “genocídio”.
O Hamas saudou a decisão, mas considerou que Israel deveria cessar a sua ofensiva em todo o território palestino.
O procurador de outro tribunal supranacional, o Tribunal Penal Internacional (TPI), pediu nesta semana a expedição de mandados de prisão contra Netanyahu, o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, e três líderes do Hamas.
O procurador Karim Khan acredita que os líderes de ambos os lados podem ser responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza e em Israel.
- Bombardeios -
Caças israelenses sobrevoaram a Faixa de Gaza durante a noite e explosões foram ouvidas ao norte, confirmaram equipes da AFP, que também relataram que navios de guerra israelenses dispararam contra a costa.
O Exército israelense relatou tiros e morteiros contra seus soldados no centro da Faixa.
A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os militantes também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem cativas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza, na qual 35.800 palestinos, a maioria civis, morreram até agora, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.
- Pressão sobre Israel -
As decisões destes tribunais aumentam a pressão internacional sobre Israel.
Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram nesta semana a sua intenção de reconhecer formalmente a Palestina como Estado a partir da próxima terça-feira, enquanto o Ministério das Relações Exteriores de Israel alertou que a decisão destes três países tornaria “mais difícil promover um acordo para a libertação dos reféns”.
Israel autorizou na quinta-feira a retomada das negociações sobre uma nova trégua - que envolveria também a libertação dos reféns em Gaza -, que estão paralisadas há semanas. O diretor da CIA, William Burns, vai estar em Paris nesta sexta-feira ou no sábado, para tentar retomar as negociações, que ocorrem indiretamente com a mediação dos Estados Unidos, Catar e Egito, disse à AFP uma fonte ocidental ligada ao caso.
O presidente francês, Emmanuel Macron, receberá os ministros das Relações Exteriores de Catar, Arábia Saudita, Egito e Jordânia nesta sexta-feira à noite para abordar a “situação no Oriente Médio”, anunciou o seu gabinete.
- Refém brasileiro morto -
Os militares israelenses anunciaram que recuperaram os corpos de três reféns mantidos na Faixa de Gaza desde o ataque de 7 de outubro, incluindo um de nacionalidade brasileira.
Os corpos do franco-mexicano Orión Hernández Radoux, do israelense-brasileiro Michel Nisenbaum e do israelense Hanan Yablonka foram recuperados durante a noite em Jabaliya, ao norte do enclave.