Israel danificou cemitérios durante avanço sobre Gaza, aponta investigação do New York Times
Israelenses intensificam conflito a medida que invasão terrestre avança cada vez mais sob o enclave, em uma campanha que autoridades dizem que ainda vai durar meses
Exército de Israel danificou ou destruiu pelo menos seis cemitérios durante a operação no norte da Faixa de Gaza, a maioria deles nas últimas semanas, de acordo com uma análise de imagens de satélite e vídeos feita pelo The New York Times. A descoberta acontece em meio a uma intensificação dos confrontos, no momento em que a guerra chega ao 70º dia, com a ofensiva israelense cada vez mais dentro do território palestino.
No bairro de Shajaiye, na Cidade de Gaza, onde ocorreram intensos combates nos últimos dias, as forças israelenses arrasaram parte do Cemitério Tunisiano para estabelecer uma posição militar temporária. Uma imagem de satélite de domingo mostra veículos blindados e fortificações de terra no que eram sepulturas intactas dias antes.
Os militares israelenses não responderam às perguntas do The New York Times sobre o motivo da demolição do cemitério e se tomaram quaisquer precauções para proteger os locais religiosos em Gaza. As leis dos conflitos armados consideram a destruição intencional de locais religiosos sem necessidade militar um possível crime de guerra.
Grande parte dos danos foram infligidos este mês, à medida que os militares avançavam em direção ao que as autoridades acreditam ser redutos do Hamas em áreas densamente urbanizadas da Cidade de Gaza. Israel parece usar pelo menos um cemitério como base temporária para veículos militares.
Os blindados israelenses destruíram dezenas de sepulturas em um cemitério menor, no início de dezembro, próximo de uma posição 800 metros a noroeste do Cemitério Tunisiano. Um vídeo publicado pelos militares israelenses no domingo mostra soldados aparentemente envolvidos em combate na área.
No mesmo dia, no bairro de Jabaliya, na cidade de Gaza, imagens de satélite mostraram novos rastos e possíveis veículos militares no cemitério de al-Faluja. Imagens de vídeo posteriores mostram danos aos túmulos, mas nenhuma posição militar estabelecida.
Uma possível posição militar foi instalada em um cemitério em Beit Hanoun, também no norte de Gaza.
Nenhum veículo militar é visto na imagem de satélite de domingo, mas as fortificações de terra são semelhantes e comparáveis às instaladas pelas forças israelenses em dezenas de locais em Gaza. As posições de proteção foram utilizadas apenas temporariamente, à medida que a ofensiva terrestre se aprofunda em Gaza.
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Os outros cemitérios identificados pelo New York Times, arrasados pelas forças israelenses, situavam-se em Sheik Ijlin, um bairro da Cidade de Gaza, e em Beit Lahia, uma cidade no extremo norte de Gaza.
Guerra vai durar 'meses'
Embora as tropas avancem por Gaza, os confrontos permanecem intensos. O sistema de defesa israelense interceptou vários foguetes disparados contra Jerusalém, nesta sexta, ao mesmo tempo em que o Exército do país intensificava o avanço contra o enclave palestino. De acordo com as autoridades israelenses, avaliando o cenário atual, a guerra ainda deve durar meses.
— O Hamas é uma organização terrorista, que se constituiu durante uma década para combater Israel e construiu infraestruturas subterrâneas e aéreas que não são fáceis de destruir. Será preciso tempo para isso, mais do que alguns meses — afirmou o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, que se reuniu com o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
Sullivan, em contrapartida, disse que o Exército israelense deve encontrar uma forma de reduzir a intensidade de seus bombardeios.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, 18.787 pessoas morreram desde o início do conflito no enclave. O órgão informou, na manhã de sexta-feira, que dezenas de pessoas morreram ou ficaram feridas em bombardeios israelenses em Khan Yunis, no sul de Gaza. Além disso, testemunhas relataram várias mortes em ataques em Nuseirat, no centro de Gaza.
Com o avanço no solo, o Exército de Israel conseguiu recuperar o corpo do refém franco-israelense Elya Toledano, sequestrado em 7 de outubro, em uma festa rave.
Ampliação do conflito
Conforme a guerra se prolonga, a preocupação sobre a ampliação do conflito pela região se torna cada vez maior — cenário que Israel e seus aliados ocidentais pretendem evitar a todo custo.
Militares israelenses lançaram, nesta sexta, folhetos de advertência no sul do Líbano, apelando que a população civil não auxilie o Hezbollah de nenhuma maneira. O grupo radical islâmico se envolveu em ações hostis contra o norte de Israel, o que preocupou o governo libanês.
O Mar Vermelho também se tornou uma outra frente de tensão com a ação hostil de rebeldes houthis, do Iêmen, em solidariedade a Gaza. Nesta sexta, o grupo atacou um navio de carga de bandeira da Libéria, provocando um incêndio no convés.