Israel destitui major e coronel da reserva por ataque que matou sete em comboio humanitário
Investigação interna concluiu que disparos foram autorizados após militares identificarem erroneamente um homem armado como membro do Hamas
As Forças Armadas de Israel (IDF) divulgaram, nesta quinta-feira (4), as conclusões sobre o bombardeio de um comboio humanitário que matou sete funcionários da ONG World Central Kitchen (WCK), no começo da semana. O comando militar israelense anunciou a destituição de um major e de um coronel da reserva que serviam na unidade diretamente envolvida no ataque, e fez reprimendas aos comandantes da Brigada e da 162ª Divisão do Exército. Em um comunicado oficial, as autoridades voltaram a se desculpar pelo incidente.
As medidas foram tomadas após a conclusão de uma investigação no âmbito do Mecanismo de Avaliação e Apuração de Fatos do Estado-Maior Conjunto de Israel (FFAM, na sigla em inglês). O relatório final aponta que o ataque foi autorizado após um erro de identificação, em que militares disseram ter visto homens armados no comboio, presumindo que fossem membros do Hamas. Também houve falha ao não se constatar que os veículos pertenciam à ONG WKC.
"As conclusões da investigação indicam que o incidente não deveria ter ocorrido. Aqueles que aprovaram o ataque estavam convencidos de que os alvos eram agentes armados do Hamas e não funcionários da WCK. O bombardeio dos veículos de socorro é um erro grave decorrente de uma falha grave devido a uma identificação equivocada, erros na tomada de decisões e um ataque contrário aos procedimentos operacionais padrão", diz a nota oficial divulgada pelo Exército israelense.
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Sete funcionários da WCK — organização sediada nos EUA, liderada pelo chef hispano-americano José Andrés, que já serviu mais de 32 milhões de refeições em Gaza desde o começo da guerra e atuou em crises como o furacão Maria, o êxodo de ucranianos pela guerra com a Rússia e incêndios no Chile e no Texas — viajavam em veículos claramente identificados quando ficaram sob fogo. As vítimas eram da Austrália, Reino Unido, Polônia e também havia um palestino e um com dupla-nacionalidade, canadense e americana.
Diante de reprimendas partindo de todas as partes do mundo, autoridades políticas e militares de Israel se desculparam pelo incidente. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou o fato como um "incidente trágico" na segunda-feira, mas completou dizendo que "isto acontece numa guerra".
A WCK suspendeu as operações em Gaza, que contava com 65 cozinhas comunitárias na região e entregava cerca de 350 mil refeições diariamente, após o ataque. Em nota, Israel voltou a lamentar a morte dos funcionários.
"As IDF levam a sério o grave incidente que ceifou a vida de sete trabalhadores inocentes de ajuda humanitária. Expressamos nosso profundo pesar pela perda e enviamos nossas condolências às famílias e à organização WCK", disse em nota.