Israel diz que tempo para evitar conflito com Líbano está perto do fim antes de visita de secretário
Antony Blinken embarcou para quarta agenda oficial na região desde o começo do conflito, em uma nova tentativa de desescalar as tensões que ultrapassam as fronteiras de Israel e Gaza
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, alertou autoridades dos EUA de que o prazo para um acordo diplomático com o Líbano, em meio às escaramuças na fronteira com combatentes do Hezbollah e o aumento da tensão com o movimento xiita aliado ao Hamas é cada vez mais curto, pouco antes da chegada do secretário de Estado americano, Antony Blinken à região. O responsável pela política externa de Washington iniciou uma turnê pelo Oriente Médio nesta sexta-feira, em um momento em que a tensão entre rivais regionais iniciada pela guerra em Gaza ameaça se espalhar para além dessas fronteiras, em uma nova tentativa dos EUA de acalmar os ânimos.
Em uma reunião com um dos principais conselheiros políticos de Joe Biden, Amos Hochstein, na quinta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que embora a preferência seja por uma saída negociada com o Líbano — após a morte de um líder do Hamas em um ataque aéreo a Beirute, não reivindicado por Israel, mas atribuído às forças do país — o prazo para um acordo diplomático estaria se fechando após meses de escaramuças e trocas de disparos de artilharia com a milícia do Hezbollah, na fronteira entre os países. De acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM), 76 mil pessoas abandonaram suas casas no lado libanês da fronteira para fugir do conflito.
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— Estamos numa encruzilhada — disse Gallant ao enviado americano, segundo uma declaração tornada pública pelo ministério. — Preferimos um acordo diplomático, mas o prazo para alcançá-lo é curto.
Blinken tem paradas confirmadas em Israel, Cisjordânia, Egito, Grécia, Turquia e outros quatro países árabes. De acordo com o Departamento de Estado americano, a prioridade do diplomata é conseguir um compromisso de aliados e de outros países da região para que usem sua influência para dissuadir qualquer escalada do conflito. Em uma entrevista coletiva na quinta-feira, o porta-voz Matthew Miller afirmou haver um "risco real" e uma "preocupação grande" com essa possibilidade.
O cenário para a visita do diplomata é mais complexo que o das agendas anteriores. Após incidentes no Irã, Iraque, Líbano e no Mar Vermelho — nem todos diretamente relacionados à guerra em Gaza, mas que adicionam camadas de tensão a um contexto regional com atores interligados — as sinalizações de líderes internacionais são mais por respostas bélicas do que por negociações.
No lado libanês da fronteira, o Hezbollah prometeu vingar-se da morte de Saleh al-Arouri, número 2 da ala política do Hamas, e classificou o ataque a Beirute como um marco perigoso na hostilidade entre o grupo e o Estado judeu. Em um discurso na noite de quarta-feira, Hassan Nasrallah, líder do grupo, afirmou que enfrentará qualquer conflito mais amplo com Israel.
— Se o inimigo considerar travar uma guerra contra o Líbano, nossa batalha não terá fronteiras nem regras — disse. — Não temos medo da guerra. Aqueles que pensam em entrar em guerra conosco vão se arrepender. A guerra conosco terá um custo muito, muito, muito alto; o crime de ontem (terça-feira) não ficará impune.
A tensão regional também escalou rapidamente no Irã, após um atentado terrorista contra uma procissão perto do túmulo do general Qassem Soleimani matar dezenas de pessoas. Embora o ataque na cidade de Kerman, a cerca de 800 Km ao sul de Teerã, tenha sido reivindicado pelo Estado Islâmico, inimigo do regime xiita dos aiatolás, autoridades do país se anteciparam em culpar EUA e Israel pelo incidente.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, prometeu retaliar os "inimigos" do Irã, em um discurso a uma multidão em luto reunida na cidade do atentado. Enquanto Raisi prometia demonstrar o poder e as capacidades bélicas do país — e que as Forças Armadas decidiriam "quando e onde" fazer isso — uma multidão gritava "morte à América" e "morte a Israel", segundo noticiou a rede catari Al-Jazeera.
Na turnê pelo Oriente Médio, Blinken também deve endereçar a questão dos ataques dos rebeldes Houthis, do Iêmen, a embarcações mercantes no Mar Vermelho. A preocupação com os atos terroristas já é uma das principais repercussões externas do conflito em Gaza, prejudicando uma das principais rotas de comércio marítimo entre Ásia, África e Europa.
Gaza sem Israel ou Hamas
Em meio ao temor internacional de uma ampliação do conflito, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, esboçou um plano preliminar para o pós-guerra na Faixa de Gaza. Conforme as linhas-gerais apresentadas nesta sexta-feira, a ideia é que o enclave palestino fique livre para se autogerir sem a presença do Hamas e de uma administração civil israelense ao fim do conflito.
— O Hamas não governará Gaza, [e] Israel não governará os civis de Gaza —disse Gallant, apresentando o plano do pós-guerra à imprensa. — Os habitantes de Gaza são palestinos. Consequentemente, entidades palestinas estarão encarregadas [da gestão] na condição de que não haja nenhuma ação hostil, ou ameaça, contra o Estado de Israel.
Com a guerra em andamento, porém, o ministro previu uma continuidade dos combates em Gaza. De acordo com Gallant, uma nova fase deve ser inaugurada a qualquer momento, com as ações mais pesadas, incluindo ataques aéreos, incursões terrestres, demolição de túneis e etc limitados ao norte do enclave palestino. A tendência, apontou ainda, é uma diminuição da presença de militares no sul, com a região ficando sujeita apenas a ações direcionadas de localização e eliminação de líderes do Hamas e busca e resgate de reféns.
O plano para o pós-guerra, ainda de acordo com o ministro, teria início apenas quando os reféns forem resgatados e as forças militares do Hamas estiverem totalmente comprometidas. Entretanto, o plano apresentado por Gallant observa que Israel vai manter o direito de operar no território em caso de ameaça.