GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel diz ser provável que Exército matou ativista americana "involuntariamente"

"Injustificável", disse secretário de Estado dos Estados Unidos

Cartaz com foto de Aysenur Ezgi EygiCartaz com foto de Aysenur Ezgi Eygi - Foto: Aafar Ashtiyeh/AFP

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou nesta terça-feira (10) que a morte de uma ativista turco-americana durante um protesto na Cisjordânia era "injustificável" e que pressionará Israel a fazer "mudanças fundamentais" no modo como opera no território palestino ocupado.

Mais cedo, o Exército israelense disse que é "muito provável" que suas forças tenham atirado e matado "involuntariamente" Aysenur Ezgi Eygi, de 26 anos.

A jovem foi morta após ser atingida por um tiro na cabeça enquanto protestava contra assentamentos judaicos na região de Beita, próximo à cidade de Nablus.

Terra arrasada: Em ofensiva na Cisjordânia, Israel destrói estradas e infraestrutura, causando corte de água, luz e internet.

Em comunicado, o Exército informou que a investigação descobriu que Eygi teria sido atingida de maneira "indireta" pelos disparos das suas forças, "que não foram dirigidos a ela, mas ao principal instigador dos tumultos".

A ativista, alegou, morreu "durante um violento distúrbio em que dezenas de suspeitos palestinos queimaram pneus e atiraram pedras contra as forças de segurança na passagem de Beita". O exército disse ainda que pediu para "realizar uma autópsia" no corpo da ativista.

Na sexta, o exército admitiu ter atirado contra os manifestantes em resposta "a um instigador principal [...] que atirou pedras e representou uma ameaça", mas não disse se havia pessoas armadas na multidão.

O Movimento de Solidariedade Internacional (ISM), a organização pró-Palestina da qual Eygi era membro, rejeitou as alegações, classificando-as como “falsas”.

O escritório de Direitos Humanos da ONU afirmou após o ataque que as forças israelenses mataram a ativista com um "tiro na cabeça", descrição similar à de autoridades da Cisjordânia, como o diretor do hospital ao qual foi socorrida e a prefeita de Beita, bem como por testemunhas oculares e sua família. Blinken, que se ateve inicialmente a uma resposta mais comedida enquanto aguardava a apuração dos fatos, afirmou que os EUA abordariam a morte da jovem em níveis superiores com seu principal aliado.

A investigação e os relatos deixam claro “que foi sem motivo e injustificada”, disse o secretário.

— Ninguém deveria ser baleado e morto por participar de um protesto. Ninguém deveria ter que colocar sua vida em risco apenas por expressar livremente suas opiniões — afirmou Blinken a repórteres durante uma visita a Londres.

— Em nossa opinião, as forças de segurança israelenses precisam fazer algumas mudanças fundamentais na maneira como operam na Cisjordânia, incluindo mudanças em suas regras de combate.

O secretário destacou ainda que Eygi é a segunda cidadã americana morta "pelas mãos das forças de segurança israelenses" o que, na sua visão, "é inaceitável".

No mês passado, o comerciante Omar Assad, um palestino-americano, morreu após ser algemado, amordaçado e vendado no frio. O Departamento de Estado americano disse que não imporia sanções à unidade israelense envolvida.

— Isso tem que mudar. E deixaremos isso claro para os membros seniores do governo israelense — afirmou.

Eygi foi morta enquanto protestava próximo ao posto avançado conhecido como Evyatar, erguido em 2021 em terras reivindicadas por Beita. Os protestos tornaram-se comuns desde então e, às vezes, escalavam.

Até então, o posto avançado era ilegal, mas em junho o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu concordou em legalizar retroativamente cinco postos avançados, incluindo Evyatar.

O premier se sustenta no apoio da extrema direita, e a exigência para a legalização partiu do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que está por trás da expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia.

A política de colonização dos territórios palestinos ocupados por Israel desde 1967 é considerada ilegal pela legislação internacional e, em junho, a Corte Internacional de Justiça, órgão da ONU sediado em Haia, afirmou que a presença israelense na região deve ser encerrada “o mais rapidamente possível”.

A Turquia condenou o assassinato "cometido pelo governo Netanyahu" do da ativista. "Israel está tentando intimidar todos aqueles que vêm em auxílio do povo palestino e que lutam pacificamente contra o genocídio.

Esta política de violência não funcionará", afirmou seu Ministério das Relações Exteriores em um comunicado. Os EUA descreveram a morte de Eygi como "trágica" e pediram na segunda-feira "uma investigação rápida, completa e transparente".

Em 2022, os EUA disseram que não tinham provas de que Israel havia matado deliberadamente Shireen Abu Akleh, uma importante jornalista da al-Jazeera que tinha cidadania americana.

Cessar-fogo em Gaza
Os EUA são o principal apoiador de Israel, fornecendo bilhões de dólares em armas e apoio diplomático. E também são um dos principais mediadores do conflito entre Israel e Hamas em Gaza, que completará um ano em poucas semanas e intensificou a violência na Cisjordânia.

O secretário de Estado americano tem estado à frente dos esforços para buscar um cessar-fogo na guerra, tendo viajado nove vezes ao Oriente Médio para pressionar pelo fim do conflito.

Também na manhã desta sexta, Blinken reconheceu que ainda existem diferenças “muito difíceis” entre as partes da guerra, mas disse que todos os lados se beneficiariam de um acordo que “baixaria a temperatura” em Gaza.

— É claramente do interesse de Israel — disse ele.

O novo impasse concentra-se na presença de Israel no chamado Corredor Filadélfia, uma faixa de 14 quilômetro ao longo da fronteira de Gaza com o Egito apontada como caminho para que o Hamas se rearme após a guerra ou reconstrua túneis. Netanyahu quer manter os militares na região, o que para o Hamas é inaceitável.

Falando ao lado de Blinken, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, expressou indignação com um ataque israelense em uma zona de segurança designada que, segundo autoridades da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007, matou 40 pessoas. Israel disse que o ataque teve como alvo um centro de comando do Hamas.

As alegações foram classificadas pelo grupo como "uma mentira descarada" em comunicado no Telegram.

— Estamos nos reunindo em um momento crítico, um momento crítico para garantir um cessar-fogo em Gaza, com as mortes chocantes em Khan Younis nesta manhã apenas reforçando o quão desesperadamente necessário é esse cessar-fogo — disse Lammy.

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