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Estados Unidos

Israel está "perdendo apoio", diz Biden ao rejeitar planos de Netanyahu para o pós-guerra em Gaza

Esta é a primeira divergência que ocorre entre os países desde o início do conflito, iniciado após o ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante discurso sobre a libertação de reféns de Gaza, em Nantucket, Massachusetts, neste domingo, 26O presidente dos EUA, Joe Biden, durante discurso sobre a libertação de reféns de Gaza, em Nantucket, Massachusetts, neste domingo, 26 - Foto: Brendan Smialowski/AFP

Uma divisão entre Israel e os Estados Unidos, seu aliado mais próximo, veio à tona nesta terça-feira. O presidente americano, Joe Biden, teria alertado o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que o Estado judeu estava perdendo apoio internacional em sua guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, iniciada após o ataque terrorista do dia 7 de outubro. Os aliados também divergem entre o futuro do Oriente Médio no pós-guerra, com Netanyahu rejeitando a solução de dois estados, que tem sido apoiada por Washington.

Com civis em Gaza sendo mortos a uma taxa histórica no ataque de Israel, Biden alertou, durante um comício para arrecadação de fundos para sua campanha em 2024, que a comunidade internacional estava se voltando contra o governo israelense. O enclave palestino contabiliza 18.412 mortos, segundo o Ministério da Saúde. Mais da metade são menores de idade e mulheres.

— Eles estão começando a perder esse apoio — disse Biden.

O democrata argumentou que o premier israelense precisava fazer mudanças em seu governo, em referência ao ministro da Segurança Nacional israelense, Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita. Biden afirmou que o governo de Netanyahu é “o mais conservador da história de Israel” e instou o primeiro-ministro a “reforçar e mudar” o executivo para encontrar uma solução pacífica a longo prazo para o conflito.

Pós-Guerra
Os governos israelense e americano também divergem em uma solução para o pós-guerra — “desacordos” reconhecidos por Netanyahu. A linha dura de Israel opõe-se à solução de dois Estado (judeu e palestino), o que é defendido pelos EUA.

— Temos uma oportunidade de começar a unir a região... e eles ainda querem fazer isso. Mas, temos de nos certificar de que Netanyahu entenda que ele precisa tomar algumas medidas para se fortalecer... Você não pode dizer “não” a um Estado palestino... Essa será a parte difícil. — afirmou o democrata, citado pelo Haaretz.

Israel também recebeu com frieza os apelos dos EUA para deixar Gaza sob uma Autoridade Nacional Palestina (ANP) fortalecida. Nesta terça-feira, pouco antes da fala de Biden, Netanyahu dirigiu-se aos israelenses, através de um vídeo publicado em suas redes sociais, e descartou qualquer papel para a organização no enclave após o fim da guerra.

— Após o grande sacrifício de nossos civis e soldados, não permitirei a entrada em Gaza daqueles que educam para o terrorismo, apoiam o terrorismo e financiam o terrorismo — disse Netanyahu, acrescentando: — Gaza não será nem Hamas, nem Fatah.

O Fatah é a facção política e rival do Hamas, que controla a Autoridade Nacional Palestina. O grupo foi expulso de Gaza em 2007, mas ainda administra partes da Cisjordânia ocupada por Israel.

Apoio incondicional
Até agora, os Estados Unidos têm apoiado Israel tanto em ações quanto em retórica — apoiando o ataque a Gaza, evitando pedidos de cessar-fogo em votações em Assembleias e no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e autorizando a venda de milhares de cartuchos de tanques para os israelenses.

Mas, esse apoio firme, "sólido e inabalável", como afirmarem as autoridades americanas inúmeras vezes, pareceu abrandar. Os comentários de Biden nesta terça representaram a ruptura mais acentuada até o momento na linguagem usada pelos Estados Unidos em relação a Israel desde o início da guerra, após o ataque terrorista do Hamas, que deixou 1,2 mil pessoas mortas e fez cerca de 240 reféns.

A resposta israelense à agressão tem provocado uma condenação crescente em todo o mundo, devido à assimetria do número de mortos. Além disso, o enclave — que já enfrentava um cerco severo desde que o Hamas assumiu o poder, em 2007 — viu sua estrutura ruir com um novo “cerco total” imposto pelo Estado judeu, abrandado somente pela abertura da passagem de Rafah, único ponto de trânsito sob controle egípcio, para entrada de ajuda humanitária. Israel também tem bombardeado o sul de Gaza, semanas após instar que os moradores do norte (quase metade de toda a população do enclave) se deslocassem para lá.

Até terça-feira, as autoridades americanas eram a exceção no cenário internacional. Na sexta-feira, eles foram o único voto contra (com exceção da abstenção do Reino Unido) uma resolução elaborada pelos Emirados Árabes Unidos para um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, no Conselho de Segurança da ONU.

O apoio foi observado por Netanyahu em seu discurso.

— Aprecio muito o apoio americano à destruição do Hamas e à devolução de nossos reféns — disse o premier. — Após um diálogo intenso com o presidente Biden e sua equipe, recebemos total apoio para a incursão terrestre e para bloquear a pressão internacional para interromper a guerra.

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