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GUERRA ISRAEL-HAMAS

Israel expande ofensiva terrestre em Gaza; Netanyahu diz que será guerra 'longa e difícil'

Madrugada de sexta para sábado foi marcada pelo maior bombardeio desde o início do conflito, e combates são reportados ao redor do território

Conflito entre Israel e Movimento Islâmico Hamas na Faixa de GazaConflito entre Israel e Movimento Islâmico Hamas na Faixa de Gaza - Foto: Jack Guez/AFP

A guerra entre Israel e Hamas entrou na terceira semana neste sábado, com os militares israelenses realizando a maior série de bombardeios desde o início do conflito, e com forças terrestres avançando ainda mais pelo Norte da Faixa de Gaza. Em uma entrevista coletiva marcada pelo tom nacionalista, o premier Benjamin Netanyahu alertou que a guerra será "longa e difícil", e que usará "todos os recursos disponíveis" para libertar os mais de 200 reféns em poder do Hamas e grupos que atuam em Gaza.

Desde a noite de sexta-feira, quando todas as comunicações foram cortadas dentro de Gaza (com a exceção de alguns telefones por satélite e com chips de outros países), o território sofreu o maior ataque aéreo desde o começo da guerra, com as ações concentradas no Norte do território — segundo as Forças de Defesa de Israel, foram atingidos 150 alvos na região, incluindo postos de comando do Hamas e a rede de túneis construída pelo grupo ao longo dos últimos anos. Cem aeronaves foram utilizadas nos bombardeios.

Os militares afirmam que entre os mortos nos bombardeios estava Asem Abu Rakaba. Ele foi apontado como o chefe por operações aéreas do Hamas, incluindo ações com drones e de defesa aérea. Segundo Israel, Abu Rakaba planejou o uso de parapentes e drones durante os ataques de 7 de outubro. Não há confirmação por parte do Hamas.

— Essa noite, o chão de Gaza tremeu — disse, em mensagem de vídeo, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant. — Atacamos por cima do chão e debaixo da terra. Atacamos terroristas em todos os níveis, em todos os lugares. As instruções para nossas forças são claras: a operação vai continuar até que uma nova ordem seja dada.

Por terra, os israelenses confirmaram que a operação iniciada na sexta-feira foi mais ampla do que as incursões de quarta e quinta-feira, mas ainda não há sinais de que as tropas tenham assumido o controle de partes do território de Gaza. Segundo um porta-voz das Forças Armadas, a ofensiva usou "infantaria, unidades de engenharia e artilharia" contra posições do Hamas e de grupos locais.

— As forças estão no terreno e continuam a lutar — declarou Daniel Hagari à CNN. Ele não deu detalhes sobre uma operação ainda mais ampla, que vem sendo ventilada por lideranças israelenses desde o começo da semana.

Na primeira entrevista coletiva concedida desde o início do conflito, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que a guerra está entrando em uma segunda etapa, e alertou que esse conflito será "longo e difícil" — em entrevistas passadas, alguns integrantes do governo chegaram a estimar que as hostilidades durariam mais de um ano, mas o premier não quis estabelecer prazos, apenas declarou que o país "está pronto".

— Esta é a segunda fase da guerra, cujos objetivos são claros: destruir as capacidades militares e de governo do Hamas, e trazer os reféns de volta para casa — disse o premier. — Nós declaramos "jamais novamente", e reiteramos: "jamais novamente, agora". Meu coração doeu quando me encontrei com as famílias dos reféns. Garanti a eles que vamos explorar todos os caminhos para trazer seus entes queridos para casa. Os sequestros são um crime contra a humanidade.

Ao ser questionado sobre uma proposta do Hamas para trocar os reféns por prisioneiros palestinos, Netanyahu preferiu não responder, dizendo que não pode dar detalhes sobre esse tipo de conversa. No sábado, o ex-chefe do Mossad, Yossi Cohen, declarou ao Canal 11 que "está trabalhando profundamente no Oriente Médio para achar uma solução que atenda a aspectos estratégicos, incluindo a questão dos reféns", e afirmou que "o quadro está chegando perto de um entendimento".

Netanyahu também fez críticas aos que acusam Israel de cometer crimes de guerra na ofensiva em Gaza. Neste sábado, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse em um protesto pró-Palestina que "vai apresentar Israel ao mundo como um [país] criminoso de guerra". Em resposta, Israel retirou seus diplomatas da Turquia.

— Aqueles que acusam as Forças de Defesa de Israel de crimes de guerra são hipócritas. Eu peço aos civis de Gaza para que sigam rumo ao Sul da Faixa de Gaza. O inimigo, de forma cínica, usa hospitais como abrigos. Israel está lutando uma batalha pela humanidade contra bárbaros — disse Netanyahu. — Essa é nossa segunda guerra de independência. Essa é a missão de minha vida.

Noite 'mais difícil' da guerra
Em Gaza, que desde sexta-feira está praticamente sem acesso a comunicação com o mundo exterior, os poucos relatos que surgem mostram a escala da violência dos bombardeios israelenses. Hani Mahmoud, correspondente da rede Al Jazeera, disse que essa foi a noite "mais difícil e sangrenta desde o início do conflito". Mahmoud, que está em Khan Younis, disse que muitas bombas caíram nos arredores do hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza — o governo israelense vem acusando o Hamas de usar o local como uma base de operações, algo que o grupo terrorista nega.

— Estamos ouvindo relatos de que centenas de pessoas foram mortas nessas áreas, e os serviços de emergência não estão conseguindo chegar até eles a tempo — disse Mahmoud em uma participação ao vivo, direto de Khan Younis. Ao fundo, era possível ouvir o som dos drones israelenses.

Philippe Lazzarini, chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, em inglês), disse que não recebeu notícias de vários de seus colaboradores desde o corte nas comunicações em Gaza. Na sexta-feira, ele alertou que muitos civis em Gaza morrerão não só por causa da guerra, mas também pela falta de alimentos, água, remédios e doenças causadas pelas condições insalubres.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 7,7 mil pessoas morreram no território desde o início dos bombardeios, e quase 20 mil ficaram feridas. Os ataques do Hamas contra Israel, no dia 7 de outubro, deixaram 1,4 mil mortos e 5,4 mil feridos. Segundo estimativas, 226 pessoas estão sendo mantidas reféns em Gaza, sendo que não há informações sobre 100 delas — um representante do braço militar do Hamas afirma que 50 reféns morreram por causa dos bombardeios, mas a informação não pode ser confirmada de maneira independente.

Neste sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse ter ficado "surpreso" com a expansão da ofensiva israelense, e apontou que isso afeta diretamente o envio de ajuda humanitária às mais de 2 milhões de pessoas que estão em Gaza.

"Fui encorajado, nos últimos dias, pelo que parecia ser um consenso crescente na comunidade internacional, incluindo entre os países que apoiam Israel, sobre a necessidade de uma pausa humanitária nos combates para facilitar a libertação de reféns em Gaza, a retirada de cidadãos de outros países e o incremento da entrega de ajuda à população em Gaza", disse Guterres, em comunicado. "Infelizmente, ao invés de uma pausa, fui surpreendido pela escalada sem precedentes dos bombardeios e seus impactos devastadores, minando os referidos objetivos humanitários."

Na sexta-feira, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução, apresentada pela Jordânia, que pedia uma "trégua humanitária imediata, durável e sustentável" em Gaza. O texto recebeu o apoio de 120 países, incluindo o Brasil, e foi rejeitado por 14, incluindo Israel e os EUA. Logo depois da aprovação, a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que a ausência de uma menção ao Hamas no texto era "ultrajante". O chanceler israelense, Eli Cohen, chamou o texto de "desprezível", e reiterou as críticas feitas por seu governo ao papel da ONU na guerra. Apesar da aprovação, a resolução não é vinculante.

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