Israel lança primeira ofensiva terrestre em Gaza desde o fim do cessar-fogo
Tropas disseram ter recuperado o Corredor Netzarim, uma área-chave que divide o território palestino ao meio
As Forças Armadas israelenses anunciaram nesta quarta-feira o início de "atividades terrestres direcionadas" em Gaza, recapturando parcialmente o Corredor Netzarim, uma área-chave no território palestino que havia sido desocupada na trégua.
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A ação acontece um dia depois das tropas israelenses lançarem um amplo bombardeio aéreo no enclave, que deixou centenas de mortos e pôs fim ao cessar-fogo firmado com o Hamas em 19 de janeiro.
Segundo as Forças Armadas de Israel (IDF), suas tropas “iniciaram atividades terrestres direcionadas no centro e no sul da Faixa de Gaza para expandir a zona de segurança e criar um tampão parcial entre o norte e o sul de Gaza”.
A operação, de acordo com a IDF, garantiu a retomada parcial do controle do Corredor Netzarim, faixa de terra que divide Gaza ao meio, separando o centro da Cidade de Gaza e o norte do sul, onde fica a fronteira com o Egito.
No acordo de cessar-fogo assinado em janeiro, Israel se comprometeu a se retirar do Corredor Netzarim, mas prestadores de serviços militares estrangeiros continuavam controlando os pontos de passagem entre o norte e o sul de Gaza.
Quando a trégua entrou em vigor, centenas de milhares de palestinos atravessaram o corredor a pé, de carro e, em alguns casos, de burro, retornando para suas casas — muitas das quais foram destruídas após 15 meses de bombardeio israelense.
A nova incursão terrestre ocorre após Israel lançar amplos ataques aéreos a Gaza na madrugada de terça-feira (segunda à noite no Brasil), matando mais de 400 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza — um dos dias mais mortais desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
Segundo autoridades palestinas, os bombardeios mataram 970 pessoas nas últimas 48 horas.
Politicamente, a retomada da guerra acontece em meio à instabilidade que o cessar-fogo causou na coalizão governista, da qual Netanyahu depende do apoio de partidos da extrema direita e ultra-ortodoxos — contrários à trégua em Gaza — para se manter no poder.
A medida agradou sobretudo a direita radical do país, com o anúncio do retorno do partido de Itamar Ben Gvir, extremista que havia abandonado o governo em razão do cessar-fogo, à coalizão de Netanyahu. Grande parte da população civil, porém, ficou contra a agressão.
Mais cedo nesta quarta-feira, milhares de pessoas protestaram em frente ao Parlamento israelense em Jerusalém contra a decisão do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de retomar o conflito, na maior manifestação dos últimos meses organizada por grupos de oposição.
O ato contou com a participação de familiares dos reféns mantidos em Gaza, e criticava tanto a retomada dos bombardeios e interrupção da negociação para recuperação dos cativos, quanto pela destituição do Shin Bet, Ronen Bar — que o premier disse ser uma medida em resposta ao fracasso do serviço de inteligência de prevenir o atentado de 7 de outubro, mas que também foi apontado como uma tentativa do governo de ganhar o controle sobre diferentes setores do Estado.