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guerra no oriente médio

Israel ordena deslocamento de civis na Cidade de Gaza, aumentando suspeitas de novas incursões

ONU suspende entrega de alimentos na região, alegando "caos completo e a violência devido ao colapso da ordem civil'; famintos, civis saquearam o caminhão e agrediram um agente

Palestinos deslocados acampam perto da cerca da fronteira entre Gaza e EgitoPalestinos deslocados acampam perto da cerca da fronteira entre Gaza e Egito - Foto: Mohammed Abed/ AFP

Em meio a sinais de fome e desespero crescente na parte norte do enclave, as Forças Armadas de Israel ordenaram na terça-feira 920) o deslocamento de dois bairros da Cidade de Gaza, no momento em que o foco da ofensiva israelense foi transferido para o sul. Os deslocamentos ocorreram no momento em que o Programa Mundial de Alimentos (PAM) da ONU interrompeu na véspera as entregas no norte, descrevendo cenas de caos quando suas equipes enfrentaram saques, multidões famintas e tiroteios nos últimos dias.

Nas últimas semanas, os combates mais ferozes e os bombardeios mais intensos se deslocaram para o sul, para as áreas ao redor de Khan Younis e Rafah — próximo alvo da incursão israelense, segundo anúncio do governo judeu. Mas a ordem para deslocamento dos militares israelenses, na terça, dada aos bairros de Zaytoun e Turkoman, na Cidade de Gaza, levantou a possibilidade de novas ações militares no norte.

O norte de Gaza foi dizimado por quatro meses de bombardeios, e os contínuos combates entre as forças israelenses e os combatentes do Hamas prejudicaram seriamente a entrega de ajuda às cerca de 300 mil pessoas que ainda se encontram na área e que, segundo a ONU, enfrentam a fome.

O PAM suspendeu as entregas nas últimas três semanas devido a preocupações com a segurança e, no domingo, a agência tentou reiniciá-las, mas "multidões de pessoas famintas" cercaram o primeiro comboio quando ele estava indo para a Cidade de Gaza, e os trabalhadores humanitários foram forçados a se defender de pessoas que tentavam subir nos caminhões, explicou a organização em um comunicado.

"Desespero sem precedentes"
Outro comboio na segunda-feira "enfrentou o caos completo e a violência devido ao colapso da ordem civil", acrescentou o texto, dizendo que vários caminhões foram saqueados e um motorista foi espancado. O programa disse que não tomou a decisão de suspender as entregas no norte de Gaza de "forma leviana", acrescentando que isso significa que "mais pessoas correm o risco de morrer de fome".

"O Programa Mundial de Alimentos está profundamente comprometido em alcançar urgentemente as pessoas desesperadas em Gaza, mas a segurança e a proteção para entregar a ajuda alimentar essencial — e para as pessoas que a recebem — devem ser garantidas", disse o comunicado, acrescentando que a agência "procurará formas de retomar as entregas de forma responsável o mais rapidamente possível."

A organização citou os "níveis de desespero sem precedentes" testemunhados por suas equipes como prova da "queda vertiginosa de Gaza em direção à fome" e apontou para um relatório da ONU publicado na segunda-feira que dizia que a desnutrição aguda havia aumentado na parte norte do enclave.

Além disso, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) também decidiu suspender a entrega de comboios na região, no início de fevereiro, após ter sido atacada pelas forças israelenses no centro do enclave, segundo documentos da ONU obtidos pela CNN. De acordo com a agência, metade das missões de ajuda da UNRWA para o norte de Gaza foram negadas desde o início do ano.

O norte de Gaza foi o alvo inicial da ofensiva militar de Israel, como resposta ao ataque terrorista do qual foi vítima em 7 de outubro. À medida que as forças israelenses se aprofundavam em Gaza, ainda no início do conflito, os militares apelaram que os civis se deslocassem para o sul para sua própria segurança.

Centenas de milhares de pessoas atenderam aos apelos, e mais da metade da população de Gaza está agora lotada em Rafah, vivendo em alojamentos temporários e tendas. Mas a escassez generalizada de alimentos e água, juntamente com a preocupação de que nenhum lugar em Gaza fosse realmente seguro, fez com que alguns dos deslocados voltassem para o norte.

O novo aviso de deslocamento dado pelos militares israelenses na terça-feira disse às pessoas nos dois bairros da Cidade de Gaza para se mudarem para uma área ao redor da vila costeira de al-Mawasi, a oeste de Khan Younis, na parte sul do enclave. O aviso foi publicado em árabe nas mídias sociais, mas as redes de comunicação foram severamente interrompidas em Gaza, portanto não ficou claro quantas pessoas o viram.

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