Logo Folha de Pernambuco
ORIENTE MÉDIO

Israel planeja criar zona-tampão entre Gaza e Egito de 1/5 do território palestino, diz jornal

Fontes militares e do setor de defesa ouvidas pelo Haaretz afirmam que área incluiria a cidade de Rafah

Bombardeio israelense no norte da Faixa de GazaBombardeio israelense no norte da Faixa de Gaza - Foto: Bashar Taleb / AFP / arquivo

O Exército de Israel pretende incluir a cidade de Rafah, um dos principais centros urbanos no sul da Faixa de Gaza, em uma zona-tampão que isolaria completamente o território palestino e o privaria de sua fronteira com o Egito, noticiou nesta quarta-feira o jornal israelense Haaretz, citando fontes de defesa ouvidas em anonimato.

A cidade, que abrigava cerca de 200 mil palestinos antes do início da guerra, está em uma zona entre dois importantes corredores que cortam o sul de Gaza, que equivale a cerca de 20% de seu território total.

As fontes militares e do setor de defesa ouvidas pela publicação israelense afirmam que a decisão sobre Rafah e sobre toda a área entre os corredores Filadélfia e Morag, foi tomada após a retomada da guerra após o breve período de cessar-fogo para troca de reféns por prisioneiros no começo deste ano.

Autoridades como o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Israel Katz, declararam abertamente que partes do território seriam anexadas.

O controle do Corredor Filadélfia, zona fronteiriça com o Egito, é motivo de uma disputa antiga com o Cairo e com os próprios palestinos. Netanyahu descreve o controle da região como uma questão de importância existencial para Israel, defendendo a ocupação como uma forma de impedir que o Hamas contrabandeie armas para o enclave palestino a partir da Península do Sinai. O Egito, por sua vez, diz ter tomado medidas para coibir o contrabando, e considera a manutenção de soldados israelenses na fronteira como uma ameaça.

Uma ocupação israelense também tornaria o território palestino, que já tem todas as fronteiras sob controle das forças israelenses, que praticamente ditam o que pode e o que não pode entrar na região, em um enclave de fato, circundada por zonas controladas por Israel — que também promove um bloqueio naval na saída para o Mediterrâneo.

O controle exercido por Israel sobre Gaza foi alvo de críticas do secretário-geral da ONU, António Guterres, na terça-feira, quando afirmou que o território palestino se tornou um "campo da morte", criticando diretamente o bloqueio de Israel a entrada de ajuda humanitária.

— Passou mais de um mês sem que tenha chegado uma gota de ajuda a Gaza; nem alimentos, nem combustível. Nem medicamentos, nem suprimentos comerciais. À medida que a ajuda se esgota, as portas do inferno voltaram a se abrir — disse Guterres. — Gaza é um campo da morte e os civis estão presos em um ciclo interminável de morte.

A declaração do secretário-geral da ONU foi rebatida pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Oren Marmorstein, que o acusou de difundir calúnias contra o Estado judeu e afirmou em uma publicação na rede social X que não há escassez de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

"Mais de 25 mil caminhões carregados com ajuda entraram na Faixa de Gaza durante (...) o cessar-fogo", escreveu o representante israelense. "O Hamas usou essa ajuda para reconstruir sua máquina de guerra.

Guterres ainda enfatizou que, de acordo com as Convenções de Genebra, a obrigação da "potência ocupante" é de garantir o fornecimento de alimentos e medicamentos à população local.

Ainda de acordo com as fontes ouvidas pelo Haaretz, o plano de criação de uma zona-tampão não ficaria restrito a Rafah, e nem se limitaria a retirar os civis palestinos. Uma campanha de demolição dos prédios, civis e usados por grupos armados, já estaria em curso em trechos do enclave, incluindo os corredores Morag e Netzarim, este último que corta o norte e o sul de Gaza, e nas zonas de fronteira com Israel.

"Não há mais nada para destruir na zona de amortecimento [áreas fronteiriças com Israel]", disse um comandante que lutou por mais de 240 dias na Faixa de Gaza e participou da demolição de estruturas e das operações de limpeza ao longo da zona de amortecimento e do Corredor Netzarim. "Toda a área é imprópria para habitação humana".

Em alerta ao Irã: EUA aumentam a presença militar no Oriente Médio

Um relatório publicado na segunda-feira pela organização Breaking The Silence, grupo de veteranos israelenses críticos à ocupação de territórios palestinos por Israel, indicou que a zona-tampão criada pelos militares em Gaza saiu de pouco mais de 1 km de extensão para até 3 km em determinados pontos desde que o conflito foi retomado. Considerando a volta ao Corredor Netzarim, que divide norte e sul de Gaza, a soma das áreas equivale a mais da metade do território do enclave palestino, de acordo com o professor Yaakov Garb, da Universidade Ben Gurion, citado pela Associated Press.

"Por meio de destruição generalizada e deliberada, os militares lançaram as bases para o futuro controle israelense da área", diz o relatório, citado em primeira mão pela agência americana. (Com AFP)

Veja também

Newsletter