Israel tenta montar "quebra-cabeças" de violência sexual durante o ataque do Hamas
Hamas nega as acusações e afirma que sua intenção é "demonizar" o movimento que governa Gaza
Mais de dois meses depois do ataque do Hamas em Israel, aumentam as denúncias de estupros e agressões sexuais durante esta sangrenta agressão, mas sua magnitude é difícil de precisar, pela escassez de testemunhas e falta de provas periciais.
“O Hamas utilizou o estupro e a violência sexual como armas de guerra”, denunciou no início de dezembro o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan.
Nas últimas semanas, aumentaram as denúncias de que os combatentes do movimento islâmico palestino cometeram estupros coletivos, atos de necrofilia e mutilações de órgãos genitais dos corpos.
O Hamas nega as acusações e afirma que sua intenção é “demonizar” o movimento que governa Gaza.
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Testemunhas e especialistas entrevistados pela AFP indicaram que não é possível ter um panorama completo das atrocidades cometidas durante o ataque devido ao caos posterior à agressão.
O ataque deixou cerca de 1.140 mortos, segundo um balanço com base nos números oficiais das autoridades israelenses.
Nos dias seguintes, centenas de corpos chegaram à base militar de Shura, no centro de Israel. Estavam carbonizados e mutilados a ponto de dificultar o trabalho dos especialistas.
Mirit Ben Mayor, porta-voz da polícia, informou que não há elogios periciais sobre violência sexual.
"Não foi comprovado se os corpos foram estuprados, foram examinados para serem identificados", indicou.
Segundo as normas tradicionais do judaísmo, o enterro deve ocorrer rapidamente após a morte.
A AFP entrevistou um reservista que se encarregou de identificar e lavar os cadáveres das mortes militares no ataque.
"Ficamos chocadas", relatou Shari, que não informou o sobrenome. Os corpos de "muitas mulheres jovens chegam enrolados em panos ensanguentados", contorno.
“O comandante do nosso grupo viu (os corpos de) vários militares com disparos na virilha, vagina e seios”, afirmou.
Caótico
O ataque de 7 de outubro foi o mais mortal contra civis em território israelense desde a criação do Estado em 1948.
Em resposta, Israel lançou uma explosão aérea e terrestre que deixou ao menos 20.000 mortos, a maioria mulheres, segundo o Hamas.
Eli Hazen, da organização Zaka, especializada na identificação de vítimas de desastres para um enterro segundo as tradições judaicas, afirmou que houve "problemas de comunicação" e de progressão entre socorristas, Exército e polícia.
Segundo Hazen, o corpo de uma mulher seminua, com tiro na nuca e em posição que sugere agressão sexual foi encontrado no kibutz Beeri.
Na mesma comunidade agrícola, acrescentada ou voluntária, o corpo de uma jovem foi encontrado embaixo do cadáver de um combatente e ambos os vestidos pela metade.
Simcha Greiniman, também voluntário de Zaka, contou que em outro kibutz uma mulher morta foi encontrada com objetos cortantes na vagina.
Celine Bardet, jurista francesa fundadora da associação "Não somos armas de guerra" indicou que exemplos específicos de violência sexual.
No momento, “não é possível determinar a magnitude nem os detalhes dos abusos, o modus operandi, nem quantas pessoas envolvidas”, disse Bardet.
"Tirem-lhe as roupas"
Nos casos de estupro, a situação é mais complexa, os especialistas afirmam que a maioria das possíveis vítimas está morta e a exumação é proibida no judaísmo.
Na imprensa, há relatos de testemunhas, especialmente de sobreviventes do festival Nova, que reuniram 3.000 pessoas a 10 km de Gaza, onde 364 morreram.
"Havia três garotas jovens, despidas da cintura para baixo, com as pernas abertas. Uma tinha o rosto queimado", contou Rami Shmuel, um dos organizadores do evento.
O Exército secreto divulgou documentos encontrados, segundo os militares, nos corpos de combatentes do Hamas, entre eles, um livro de instruções com frases como "tirem-lhes as calças", ou "tirem-lhe as roupas", em hebraico.
Diplomatas israelenses contatados pela AFP classificaram a investigação do Conselho de Direitos Humanos da ONU como "tendenciosa" e acusaram seus membros de serem "antissemitas" e "anti-israelenses".
A Triunal Penal Internacional (CPI), cujo procurador Karim Khan, visitou a região após a eclosão do conflito pode decidir se iniciar uma investigação.
Para Elkayam-Lévy, uma investigação pode levar anos e, muitas vezes, as vítimas demoraram demais para falar.
"Nunca saberemos o que aconteceu com essas mulheres(...) mas estamos montando este quebra-cabeças, peça por peça".