Israel

Israelenses protestam em Tel Aviv por cessar-fogo em meio à incerteza sobre causa da morte de reféns

Manifestantes temem que cativos vivos em Gaza tenham o mesmo fim; teste forense preliminar aponta que os cadáveres tinham marcas de tiro, mas investigações continuam

Pessoas em luto assistem enquanto Rimon, viúva de Yagev Buchshtav, um dos reféns sequestrados pelo Hamas em outubro, estende a mão para tocar o topo de seu caixãoPessoas em luto assistem enquanto Rimon, viúva de Yagev Buchshtav, um dos reféns sequestrados pelo Hamas em outubro, estende a mão para tocar o topo de seu caixão - Foto: Gil Cohen-Magen/AFP

As Forças Armadas israelenses informaram na quinta-feira que testes forenses iniciais sugerem que todos os seis reféns, cujos corpos foram recuperados durante uma operação no sul da Faixa de Gaza na terça-feira, foram baleados, mas sem precisar se os ferimentos a bala foram a causa da morte.

As descobertas são preliminares, e a investigação continua.

Para os manifestantes em Tel Aviv que instavam o governo israelense por um acordo de cessar-fogo, pouco importa: no fim, tudo se resume ao fato de que os seis foram levados vivos para o enclave, mas retornaram a Israel em um caixão.

— Talvez o Hamas os tenha sequestrado [os reféns], mas quem podemos acusar de assassiná-los é [o primeiro-ministro] Benjamin Netanyahu — disse o manifestante Omer, de 46 anos, à rede CNN, acrescentando que o premier é "o único responsável".

O líder israelense é criticado por autoridades por supostamente protelar um cessar-fogo ao acrescentar novas condições à proposta.

Durante sua nona visita ao Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, informou que o premier havia aceitado a "proposta de ponte" apresentada pelos EUA para fechar as lacunas existentes entre as partes.

Ainda assim, Netanyahu tem insistido em manter o controle do Corredor Philadelphi, uma faixa de 14 quilômetros ao longo da fronteira entre Gaza e Egito, o que, para o Hamas, é inaceitável.

Nesta sexta-feira, o representante do Hamas, Badran, reiterou que o grupo havia aceitado “o plano de Biden” conforme originalmente delineado, em maio, e pediu aos EUA, um dos mediadores do conflito junto com Egito e Catar, que pressionasse Netanyahu.

O gabinete do premier, cuja coalizão de extrema direita inclui membros que se opõem a uma trégua e ameaçaram romper com o governo caso um acordo fosse aceito, rejeitou os relatos de que Netanyahu havia concordado em se retirar desse setor.

As possíveis causas
Os corpos Alex Dancyg, Chaim Peri, Yagev Buchshtab, Yoram Metzger, Nadav Popplewell, e Avraham Munder, foram recuperados durante uma operação conjunta entre o Exército e os serviços de inteligência israelense em Khan Younis.

A notícia significou um passo importante para o luto de familiares, mas no geral intensificou os temores de que os reféns que ainda permanecem vivos no enclave — 71 pessoas, de acordo com uma base de dados compilada pela AFP — também retornem para casa mortos.

As Forças Armadas também informaram na quinta-feira que outros quatro corpos foram encontrados ao lado dos reféns e que acreditam se tratar de militantes do Hamas.

Apesar disso, nenhuma evidência de tiros foi encontrada em seus corpos. Também não foi revelado o nome de nenhum suposto atirador.

O canal israelense Ynet informou na terça-feira que uma avaliação preliminar das forças armadas sugere que os reféns podem ter morrido por asfixia após os militares terem atingido um alvo próximo ao Hamas e o dióxido de carbono ter inundado o túnel onde estavam sendo mantidos em cativeiro.

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E, entre as possibilidades, também investiga-se a morte por suposto fogo israelense.

As forças afirmam que em março operaram próximo a um túnel onde os corpos dos reféns foram recuperados, mas não os localizaram, informou o jornal israelense Haaretz.

A área foi atacada anteriormente pela Força Aérea, e ainda não está claro se isso resultou na morte de reféns, completaram.

Ao ser questionado na quinta-feira sobre a possibilidade, o porta-voz das forças, o contra-almirante Daniel Hagari, não esclareceu, limitando-se a uma declaração que fez em junho, quando afirmou que "os reféns foram mortos enquanto nossas forças operavam em Khan Younis", informou a CNN.

— Precisamos trazer de volta aqueles que sabíamos que estavam vivos — afirmou o manifestante Daniel, de 48 anos, à CNN, afirmando que prosseguir com a guerra enquanto as negociações para uma trégua não avançam "só trará mais caixões para eles e para nós".

Para o manifestante, o anúncio de quinta ressaltou o perigo potencial das operações de resgate.

A mais recente ocorreu no início de junho em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, com o resgate de Almog Meir Jan, Noa Argamani, Andrey Kozlov, e Shlomi Ziv, sequestrados durante o festival de música eletrônica Nova. A ação deixou 210 palestinos mortos.

Já na visão do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, a informação divulgada pelas forças é "mais uma prova da crueldade dos terroristas" que mantinham em cativeiro os seis homens e ressaltou que a recuperação de seus corpos "não é uma conquista", mas "um testemunho do fracasso total em chegar a um acordo a tempo, já que seis reféns que deveriam ter retornado vivos retornaram em caixões".

A raiva pela demora para alcançar um novo cessar-fogo também transbordou durante o sepultamento dos reféns na quarta-feira.

— Você foi abandonado, repetidamente, pelo primeiro-ministro e seus ministros, nos túneis do Hamas — afirmou Keren Munder, também uma ex-refém, enquanto se despedia do pai.

Novos deslocamentos em Gaza
Assim como para israelenses, um acordo de cessar-fogo significa um alívio para os palestinos em Gaza.

Em resposta ao ataque terrorista do Hamas em outubro, que deixou 1,2 mil pessoas mortas, Israel tem perpetrado intensos bombardeio no enclave, o que resultou na morte de mais de 40 mil pessoas.

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Testemunhas relataram combates pesados nesta sexta-feira no norte de Gaza, bombardeios no centro e disparos de tanques no sul.

O Exército israelense disse, por sua vez, que havia “eliminado dezenas de terroristas” e “desmantelado dezenas de locais de infraestrutura terrorista” em Khan Younis e em Deir el-Balah, no centro.

De acordo com a ONU, 90% dos 2,2 milhões de moradores do enclave já foram deslocadas pelo menos uma vez nos últimos dez meses.

— Os civis estão exaustos e aterrorizados, fugindo de um lugar destruído para outro, sem fim à vista — relatou Muhammad Hadi, coordenador humanitário da organização para os territórios palestinos, na quinta-feira.

Na quinta-feira, pelo menos 22 palestinos foram mortos no sul de Gaza, incluindo uma criança e quatro mulheres, informou o médico do Hospital Nasser Mohammad Saqer à CNN.

Já um ataque aéreo contra uma casa em Bani Suhaila, no leste de Khan Younis, matou cinco pessoas de uma mesma família, segundo informou Hamza Abu Shab, um parente.

Ele conta que seus familiares tentaram seguir as ordens das forças armadas israelenses para deslocamento, mas que foram atingidos antes de alcançar a zona humanitária. 

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