Caso Henry Borel

Jairinho alega inocência em interrogatório: 'Por Deus! Não fiz nada com ele'

Em sua primeira fala, ele afirmou que tinham uma "vida felizes juntos"

Dr. Jairinho Dr. Jairinho  - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior alegou inocência durante a audiência de instrução e julgamento do processo no qual é réu, com a ex-namorada, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva, por torturas e morte contra o filho dela, Henry Borel Medeiros.

Em maio do ano passado, Jairinho e Monique Medeiros foram denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pela morte da criança. Os dois se tornaram réus e são julgados no Tribunal de Júri por homicídio triplamente qualificado, tortura, fraude processual e coação no curso do processo. Monique é acusada ainda por falsidade ideológica.

Na denúncia, o MPRJ endossou conclusões do inquérito conduzido pela Polícia Civil. “Os intensos sofrimentos físicos e mentais a que era submetida a vítima como forma de castigo pessoal e medida de caráter preventivo consistiam em agressões físicas perpetradas pelo denunciado Jairo Souza Santos Junior”, diz o documento.

Monique é apontada como coautora do crime por omissão, pois tinha o dever de proteção e vigilância. "Sendo conhecedora das agressões que o menor de idade sofria do padrasto e estando ainda presente no local e dia dos fatos, nada fez para evitá-las ou afastá-lo do nefasto convívio com o denunciado Jairo”, registra a denúncia.

O ex-parlamentar, preso desde o ano passado, participa de um interrogatório no plenário do II Tribunal do Júri nesta segunda-feira (13). Em sua primeira fala, em que tem contato episódios de sua vida privada e da relação entre ele e Monique e com o menino, ele afirmou que tinham uma "vida felizes juntos".

Os três moravam num apartamento na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde Henry morreu em março do ano passado.

— Eu sou inocente! Eu não fiz isso com Henry! Por Deus! Não é verdade. Isso que estão me acusando não aconteceu. Quando me mudei para morar com a Monique, escolhi o melhor quarto para ele. Tínhamos uma vida felizes juntos — disse o ex-parlamentar durante sua fala.

Momentos antes, ele definiu Henry como "a criança mais linda desse mundo". Ele voltou a afirmar que não seria capaz de fazer mal a uma criança. O ex-parlamentar, no entanto, foi indiciado, em abril do ano passado, pelo crime de tortura majorada contra a filha de uma ex-namorada sua.

As agressões foram relatadas pela mãe e a avó da criança ao delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), durante o inquérito que apura a morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, do qual são testemunhas, e seus termos de declaração foram encaminhados à especializada, onde foram abertos dois outros procedimentos investigativos. Na DCAV, a menina confirmou as violências. Foi feito um pedido de prisão preventiva do parlamentar.

— Quem seria capaz de fazer mal a uma criança? Quem é o ser humano que é capaz de fazer mal a uma criança? Existe? Existe. Eu sou médico, já vi acontecer diversas vezes. Isso não é o meu perfil. Isso não cabe, essa roupa não me cabe — falou Jairinho em audiência nesta segunda-feira.

Horas antes de começar o interrogatório, o ex-vereador destituiu seis advogados. Sua defesa continuou sendo comandada por Cláudio Dalledone e Flávia Fróes, que não integram o mesmo escritório dos destituídos.

A audiência teve início com cerca de duas horas de atraso e foi marcada por um bate-boca entre os advogados de defesa e a juíza Elizabeth Machado Louro, do II Tribunal do Júri. Ao ter direito à palavra, Jairinho disse que só irá responder às perguntas feitas por seus advogados. A defesa do ex-parlamentar recorre ao Tribunal de Justiça do Rio e ao Superior Tribunal de Justiça para suspender a sessão, alegando que foram requeridos novos depoimentos que devem acontecer primeiramente.

As diligências foram requeridas por Cláudio Dalledone e Flávia Fróes após o depoimento do assistente técnico Sami El Jundi, contratado pelo ex-parlamentar, no último dia 1º. Durante a audiência, ele afirmou que Henry chegou vivo à unidade de saúde e sugeriu que ele pode ter sido morto durante os procedimentos de reanimação realizados no Barra D’Or, na madrugada de 8 de março de 2021.

— Eu juro por Deus que nunca encostei em nenhuma criança. Meu histórico não permite dizer isso. Sou nascido e criado em Bangu. Meus pais são casados há 50 anos. Minha família é pautada no amor. Sempre procurei fazer o que era certo — disse Jairinho no início de sua primeira fala.

Ao prosseguir, o médico e ex-vereador falou da vida pessoal. Dos relacionamentos anteriores que, como fruto, tiveram, ao todo, três filhos. Após uma das separações foi que conheceu Monique, em agosto de 2020. O relacionamento passou de namoro a viverem juntos num apartamento na Barra da Tijuca, também Zona Oeste do Rio, com Henry, onde o menino morreria em março do ano seguinte. A rapidez da união foi questionada por Maria Manuela Fernandes Santos, mãe de Jairinho, segundo ele contou nesta audiência.

— Não está muito cedo para você ir morar com a Monique? Não está muito cedo? — disse o réu sobre a mãe. — Minha mãe é muito sábia. Apesar do meu pai ocupar muito espaço dentro da nossa casa. A minha relação e a relação da minha irmã muito próxima do meu pai, mas a minha relação é muito próxima da minha mãe. Se eu tivesse escutado minha mãe em tudo o que ela falou, eu de repente não estaria aqui nesse momento. Eu devia. Novamente eu não escutei a minha mãe. Eu não estou arrependido não, de não ter ido morar com a Monique não. Mas ela falou assim: "filho, pensa mais um pouquinho, dá mais um tempinho, não dá esse passo a frente não".

Após a pausa da audiência para o almoço, Jairinho começou a narrar detalhes do que aconteceu na madrugada de 8 de março de 2021, no apartamento que Jairinho morava com Monique e Henry. O ex-vereador contou estar vendo série na TV com a professora quando ela foi até o quarto algumas vezes para “cuidar” do menino. Por volta de 1h30, ele disse ter tomado remédios, falado no telefone com uma ex-namorada e dormido, cerca de meia-hora depois.

Jairinho relatou, no plenário do II Tribunal do Júri, que, em seguida, foi acordado por Monique com o filho desacordado. Ele chegou a acreditar que o menino estava engasgado e disse que ele tinha mãos e pés gelados.

— Assim que nós vimos que o Henry estava passando mal, nós socorremos. Quando chegamos ao hospital, ela (Monique) saltou do carro rapidamente, ela entrega o Henry nas mãos de uma auxiliar de enfermagem. Fui estacionar o carro e ela dá o primeiro depoimento dela, em que ela diz à médica, não sei qual, que encontrou o Henry no chão do quarto — disse. — Assim que vimos que ele estava passando mal, nós socorremos. Isso é o mais importante.

O interrogado também apelou para que os presentes, entre eles a juíza, fizessem um "exercício de lógica" sobre a dinâmica do ingresso de Henry ao hospital na madrugada da ocorrência:

— Coloque a senhora no meu lugar, no lugar da Monique. Vocês entram no hospital do porte do Barra D'Or com uma criança passando mal. Caso essa criança tivesse algum sinal de agressão, de violência, isso não seria visto prontamente? A criança chega com um risquinho no supercílio, o médico começa a fazer pergunta pra você que não acaba mais. Não existe uma criança branca do jeito que Henry era, bonito do jeito que ele era, se houver qualquer indício de agressão, se tem uma criança machucada, eu não seria atendido pelas médicas, eu seria atendido pela polícia.

Bate-boca no início da audiência

O início da discussão se deu devido à, nos primeiros minutos da sessão, uma colocação da promotora de Justiça Bianca Chagas sobre postagens nas redes sociais de parte dos advogados envolvidos no processo em que a juíza foi chamada de "Rainha de Copas". A postagem seria de uma matéria publicada.

Os advogados então disseram que se mantinham de pé por conta da "acusação".

— Está atrapalhando a ordem e a segurança — disse a juíza Elizabeth Machado Louro sobre os advogados se manterem de pé.

— Me sinto insegura e afrontada. Não pode ficar um Exército em pé. Querem que eu peça para sentar? Levantar para quê? Pode falar um de cada vez, só não pode ficar em pé. Podem até sentar no colo do réu — esbravejou a magistrada.

Cerca de 20 minutos depois, o grupo se sentou.

'Nunca encostei em um fio de cabelo de Henry', disse Jairinho

No interrogatório marcado no dia 9 de fevereiro, Jairinho afirmou que não iria responder às perguntas feitas a ele em juízo, reservando seu direito de permanecer em silêncio. O ex-vereador disse que só se pronunciaria após a conclusão de diligências pendentes, como análises das imagens de câmeras do Instituto Médico-Legal (IML) no dia da morte de Henry, do atendimento no hospital, o raio-x feito na criança e o confronto entre os peritos oficiais do caso e os peritos contratados por ele.

— Eu nego todos os fatos narrados na denúncia do Ministério Público. Juro por Deus que nunca encostei um dedo em um fio de cabelo do Henry. Preciso provar a minha inocência e a da Monique também. Se eu estou sofrendo no sistema prisional, imagino o que está sofrendo a Monique, que perdeu um filho. Existe a justiça dos homens e a justiça de Deus. Eu penso todos os dias como o perito (Leonardo Tauil, responsável pela necropsia do Henry) tem conseguido dormir, colocar a cabeça no travesseiro tranquilo — disse o ex-vereador.

No primeiro pronunciamento de Jairinho após ser preso, no fim de dezembro, ele reiterou as informações prestadas na 16ª DP (Barra da Tijuca), em 17 de março do ano passado: o ex-parlamentar negou que tenha torturado ou matado Henry.

Em seis páginas de caderno escritas na Cadeia Pública Pedrolino Oliveira, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, ele reafirmou o bom relacionamento que tinha com o enteado e chegou a sugerir que o menino possa ter sido vítima de causas naturais, ter chegado doente do fim de semana com o pai, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, ou até sido envenenado.

Na carta, Jairinho diz ter sido vítima da espetacularização da investigação criminal e da criação de um enredo de condenação antecipada, que incitou a “ordem pública”. O ex-vereador alega que não havia motivos para que o delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP e responsável pelo inquérito, desconfiasse dele. “Não existe qualquer indício de que eu tenha feito absolutamente nada com o Henry”, escreveu.

“Não houve agressão. Henry foi socorrido prontamente, o mais rápido possível, imagens de elevador mostra (sic) sem lesão, foi atendido, as médicas e o perito demonstram (...) inflamatório (sinal inequívoco de vida), chegou vivo, foi feito (sic) duas horas de massagem cardíaca e depois as médicas atestam o óbito, sem lesão e sem causa determinada. Se não houve lesão, não houve agressão. Isso foi visto por todos”, concluiu Jairinho.

“Não se sabe se foi morte natural. Infarto? Doença no fígado? Não se sabe se ele já veio doente do pai (Leniel), bateu em algum lugar, foi envenenado, emboscado. Se ele passou mal no dia, no apartamento. Não se sabe a causa da morte”, escreveu o ex-parlamentar.

No fim do documento, Jairinho novamente fez menção à madrugada de 8 de março: “Só uma coisa que me ocorreu: eu tomo remédio comprovadamente há 15 anos, durmo igual uma pedra, nem que eu quisesse eu conseguiria levantar para agredir ninguém, tem que juntar os prontuários com os remédios e dizer para a juíza que comprovadamente eu durmo um sono muito pesado com os remédios que eu tomo há 15 anos”.

Pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida acompanha uma manifestação de vítimas de violência doméstica na porta do Tribunal de Justiça do Rio, nesta manhã:

— A estratégia deles está tão ruim para o Jairo quanto para Monique. Já tentaram empurrar para mim, fui totalmente investigado. Agora, a narrativa é a de que os médicos mataram meu filho. Mas meu filho já chegou morto, todo lesionado. O Henry foi muito agredido naquela, madrugada, mas a mãe que deveria ter protegido não fez. Estamos nessa luta para que deixem o povo julgar os dois pelos crimes que cometeram.

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