Japão tem quase 1,5 milhão de pessoas que vivem isoladas, 20% delas por causa da Covid-19; entenda
Outras causas apontadas foram abandono do emprego, depressão ou sofrer bullying na escola ou no local de trabalho
Quase 1,5 milhão de pessoas em idade ativa no Japão vivem afastadas da sociedade, e 20% delas atribuem o isolamento à pandemia da Covid-19. É o que mostra uma nova pesquisa realizada com a população japonesa e conduzida pelo governo nipônico.
O fenômeno afeta quase 2% das pessoas com idades entre 15 e 64 anos, ou seja, um total de 1,46 milhão dos pouco mais de 125 milhões de habitantes do país. O estudo, feito em novembro do ano passado, foi publicado no último final de semana.
O motivo apontado com mais frequência pelas pessoas que vivem reclusas é o abandono do emprego, seguido de perto pela crise sanitária do novo coronavírus. A pandemia foi citada por 18% dos entrevistados com idades entre 15 e 39 anos, e por 20% das pessoas na faixa dos 40 a 64 anos. Outras causas foram a depressão ou sofrer bullying na escola ou no local de trabalho.
No país asiático, as pessoas que vivem isoladas socialmente são conhecidas como "hikikomori". São cidadãos que evitam atividades em que há socialização com outras pessoas, como frequentar a escola ou comparecer ao trabalho, e que, há pelo menos seis meses, só saem de casa para fazer compras ou praticar um hobby individual.
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"Algumas pessoas entraram em nossa definição de hikikomori porque foram desencorajadas a sair de casa pela Covid-19 e acabaram tendo menos contato com a sociedade" explica à AFP Koji Naito, funcionário do governo que atuou na pesquisa.
Quem são os 'hikikomori'?
A prevalência dos “hikikomori” na sociedade japonesa já era algo estudado antes da pandemia. Em 2019, um estudo publicado no periódico Frontiers in Psychiatry por pesquisadores da Universidade de Akita, no Japão, estimou que 1,8% daqueles entre 15 e 39 anos viviam isolados.
Na época, os cientistas analisaram entrevistas conduzidas com três mil japoneses. O novo levantamento do governo, embora amplie a idade para 15 a 64 anos, aponta uma taxa semelhante, de 2%, cujo leve crescimento estaria associado principalmente ao impacto da Covid-19.
De acordo com o estudo de 2019, os “hikikomori” são “mais propensos a ser do sexo masculino, têm histórico de abandono escolar e histórico de tratamento psiquiátrico anterior”. Além disso, 41% dos adeptos na época já viviam afastados da sociedade por três anos ou mais.
O estudo identificou ainda que os indivíduos tinham uma tendência maior a apresentar fatores de risco de suicídio, comportamentos obsessivo-compulsivos e comportamentos de vício.