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Opinião

Jô do Brasil

A semana foi marcada por duas homenagens: a primeira pela despedida do genial Jô Soares, que nos deixa ao vivo, mas, como ele mesmo disse,“eu não morri”. Apenas saiu de cena para entrar na galeria dos brasileiros que nos enchem de orgulho, que afagam nossa autoestima. O Jô do Brasil, sempre vivo na lembrança nacional.

A segunda homenagem, pelos oitenta anos do gênio Caetano Veloso, participante de destaque no rol de nossas compensações, de nossas vantagens comparativas, nos conferindo a certeza do socorro pela cultura, a apoteose da arte, da criatividade como reação à mediocridade da qual temos sido vítimas. Esses são os valores que nos qualificam, que podemos exibir interna e externamente, valores que não passam, vivos ou mortos. São perenes, eternos, ternuram nosso nativismo. Jô e Caetano do Brasil reagem a nossa vontade de ir embora, deixando essa onda passar para voltar um dia, quando a tempestade amainar.

Aos “monarcas” do Brasil de hoje, o famoso cumprimento do “Reizinho” do Jô: “Pocotó, pocotó, pocotó, sois rei! sois rei! sois rei!”

De Caetano, a sábia observação: “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede, são tantas vezes gestos naturais. Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo, daqueles que velam pela alegria do mundo.”

Precisamos desesperadamente ampliar nossa coleção de Jôs e Caetanos, ora resuscitando alguns, ora descobrindo outros na multidão de gênios anônimos, aqueles mais graduados para integrar nosso exército de Brancaleone, incumbidos da tão importante e urgente missão de redescobrir o Brasil, com direito à segunda primeira missa, para confessar e pedir perdão pelos pecados cometidos, muitos dos quais literalmente mortais.

Já vai longe na nossa memória o tempo em que fomos felizes e não sabíamos, o país alegre, saudável, alimentado, lindo por natureza, verdadeiro oasis tropical.

Depois das manadas de ignorância passando por cima da gente, impunes, grotescamente desgovernados, seria importante e de todo recomendável que os postulantes à reedição desse “script” do mal escolham os “bem feitos”, se é que existem ou existiram, como programa, e façam um supremo esforço de autocrítica para identificar o que prestou e o que não prestou no prato que nos foi servido. Divulguem à exaustão, desprovidos de “fake news”, na tentativa de convencer a banda incrédula da Nação, a essa altura dos acontecimentos, que alguma coisa terá valido a pena.

Inspirem-se no Jô, que partiu deixando muita saudade, ou em Caetano, que graças a Deus nos contempla com o belo, com o formidável, merecendo nossos efusivos aplausos, nos enchendo de orgulho como brasileiros. Agora, se por um acaso não se sentirem capazes, ou reconhecerem que não merecem, por favor nos poupem do risco da maligna reedição. Vão pescar noutras plagas e nos deixem em paz.




*Consultor de empresas
[email protected]


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