Jornal divulga cartas de líder morto do Hamas com instruções para proteger reféns israelenes
Em três documentos, Yahya Sinwar, morto neste mês, teria detalhado nome, idade e gênero de alguns cativos e os lugares em que estão mantidos
O jornal palestino al-Quds divulgou na quinta-feira três documentos que teriam sido escritos à mão pelo líder morto do Hamas, Yahya Sinwar, nos quais dá instruções aos combatentes sobre como proteger os reféns, bem como informações sobre alguns deles e onde estariam sendo mantidos.
Pelo menos 250 pessoas, civis e militares, foram levadas para Gaza durante o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro. Outras 1,2 mil pessoas foram mortas.
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Sinwar, morto na semana passada de forma inesperada,usava um sistema complexo de comunicação que envolvia baixa tecnologia.
O jornal americano Wall Street Journal, citando relatos de mediadores árabes, informou que o sistema inclui mensageiros, códigos e notas manuscritas que lhe permite dirigir as operações do Hamas mesmo enquanto se esconde em túneis subterrâneos.
Em um dos documentos, Sinwar teria instado os combatentes do Hamas a "cuidar das vidas dos prisioneiros do inimigo e protegê-los, já que são uma importante moeda de troca em nossas mãos".
O texto é introduzido por um versículo do Alcorão que afirma: "[...] E depois, ou os liberte como um favor ou deixe-os resgatar".
Sinwar conclui fazendo referência à troca entre reféns israelenses e prisioneiros palestinos, afirmando que "o dever de libertar nossos prisioneiros só pode ser cumprido guardando os prisioneiros do inimigo".
A troca seria um benefício aos "mujahideen", palavra árabe para combatentes.
Outro documento apresenta informações sobre os reféns, como nome, gênero, idade, e se eram civis ou militares.
Um primeiro trecho que não especifica o local em que estão sendo mantidos fala em um total de 22 reféns, sendo "5 homens com mais de 60 anos; 10 homens com menos de 60 anos; 3 soldados; 3 mulheres com menos de 40 anos (riscadas); 4 mulheres com mais de 40 anos." Não há indicações sobre o que significa a rasura, se as mulheres morreram ou foram libertadas.
Seguem trechos similares, com menção a 25 reféns mantidos no centro de Gaza, 51 na cidade de Rafah, no sul de Gaza, e 16 reféns no norte de Gaza (Sinwar fez a conta errada e escreveu 14 reféns no documento, aponta o jornal).
Assim como no primeiro trecho, Sinwar detalha o gênero, idade e se é civil ou militar. Ele também cita cinco árabes beduínos, dos quais quatro estariam sendo mantidos em Rafah (um deles um homem de 55 anos com um filho jovem) e outro na Cidade de Gaza.
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Pelo menos oito árabes foram sequestrados durante o ataque de outubro, e 17 foram mortos.
Em agosto, o beduíno Kaid Farhan Elkadi, de 52 anos, foi resgatado e libertado após ser encontrado sem querer por soldados israelenses e forças especiais que vistoriavam uma rede de túneis do Hamas durante uma "operação complexa" em Rafah.
O refém estava sozinho em um quarto a quase 23 metros de profundidade.
Entre os outros quatro reféns árabes mantidos em Rafah provavelmente estão Yousef Zyadna e seu filho, Hamza. Segundo o jornal Times of Israel, Zyadana e seus três filhos foram sequestrados durante o ataque do Hamas em outubro.
Dois deles foram libertados durante acordo de cessar-fogo alcançado em novembro, mediado pelos EUA, Egito e Catar. Na ocasião, as libertações ficaram restritas às mulheres e menores de idade.
O terceiro e último documento apresenta uma lista de nomes de treze reféns, todas mulheres.
A maioria é idosa. Os nomes são seguidos pela idade e informações como "enferma", "doente" ou a nacionalidade (são destacadas duas russas, uma americana e uma filipina).
Boa parte das mulheres citadas foi libertada durante a trégua em novembro.
Quem são os reféns em Gaza?
Dos 251 reféns e corpos levados a Gaza em outubro de 2023, 117 foram libertados — principalmente mulheres, crianças e trabalhadores estrangeiros —, 64 seguem em cativeiro e supostamente vivos, e 70 morreram; os corpos de 37 deles foram repatriados e 33 permanecem em Gaza, segundo balanço da AFP.
Entre os reféns supostamente vivos, 57 são israelenses — entre eles, três beduínos — ou com dupla cidadania israelense, e sete são estrangeiros (seis tailandeses e um nepalês).
Entre eles, 52 reféns são homens, dez são mulheres e também há duas crianças. Onze são soldados, incluindo cinco mulheres. Não é certo que os 64 reféns considerados vivos realmente estejam com vida.
Metade dos reféns mortos — 35 dos 70 — já estavam mortos quando foram levados a Gaza em outubro, durante o ataque que desencadeou a guerra.
Este é o caso principalmente dos corpos de dez soldados. A prática foi observada em conflitos anteriores na região, como na Segunda Guerra do Líbano (2006), quando grupos rivais sequestraram corpos de israelenses para envolvê-los em trocas por prisioneiros vivo. Os outros 35 faleceram em Gaza.
Além dos reféns sequestrados durante o ataque, o Hamas mantém reféns dois civis israelenses que entraram em Gaza em 2014 e 2015, bem como os corpos de dois soldados das Forças Armadas israelenses, mortos em 2014, informou o Times of Israel.
Os reféns são usados como moeda de troca pelo Hamas para obter um cessar-fogo na guerra e a libertação de prisioneiros.
Mas, à medida que a guerra em Gaza avança e o a tensão na região se intensifica devido ao conflito entre Israel e o Hezbollah, no Líbano, seu destino fica cada vez mais incerto.
A morte de Sinwar na semana passada, inclusive, intensificou o receio dos familiares de que os reféns que permanecem em Gaza não consigam retornar com vida. O Hamas afirmou que nenhum refém será libertado antes de um cessar-fogo. (Com AFP)