Israel

Judaísmo, cristianismo e Estado Laico: entenda divisões religiosas, étnicas e políticas de Israel

País mantém caráter judeu do Estado para manter viva ideia de um 'lar judaico' no mundo

Esta fotografia tirada do Monte das Oliveiras mostra uma vista do complexo da mesquita Al-Aqsa e da sua Cúpula da Rocha na Cidade Velha de Jerusalém Esta fotografia tirada do Monte das Oliveiras mostra uma vista do complexo da mesquita Al-Aqsa e da sua Cúpula da Rocha na Cidade Velha de Jerusalém  - Foto: Ahmad Gharabli/AFP

A identidade nacional e religiosa do Estado de Israel é motivo de constante curiosidade e dúvida ao redor do mundo. Em meio ao conflito com o Hamas na Faixa de Gaza, o público brasileiro passou a pesquisar mais sobre temas relacionados ao país do Oriente Médio: buscadores on-line mostram um aumento do interesse na região, sobretudo no que diz respeito à religião oficial do país, a fé predominante entre os seus habitantes e possíveis relações entre o Judaísmo e Cristianismo.

Do ponto de vista político, Israel se autodetermina como o único Estado Judeu do mundo. De acordo com a professora de Relações Internacionais Karina Calandrin, assessora do Instituto Brasil-Israel (IBI), a definição tem implicações tanto étnicas quanto religiosas.

— Israel se destina a ser um lar nacional para os judeus. A Lei do Retorno, por exemplo, permite a qualquer pessoa com ascendência judaica (que tenha um dos avós judeu pela lei judaica), e até mesmo a convertidos ao judaísmo, imigrar para Israel e obter a cidadania — explica a professora.

Embora a religião oficial do Estado seja o judaísmo — o que impacta diretamente na vida civil do país, como a determinação dos feriados nacionais, por exemplo —, certas características afastam Israel da definição de teocracia. De acordo com dados do Departamento de Estado americano, no recorte por religião, a população israelense é 73,5% judia, 18,1% muçulmana, 1,9% cristã e 1,6% drusa. Os 5% restantes estão subdivididos em outras religiões minoritárias, como adventistas e testemunhas de Jeová, por exemplo. A maioria dos cristãos no país são de etnia árabe.

— Israel tem características totalmente laicas. O país é uma democracia, algo que não aconteceria em um Estado Teocrático. Grupos étnicos e religiosos também têm liberdade para exercer suas crenças. Por exemplo, não há casamento civil em Israel, mas podem ser celebrados casamentos judaicos, cristãos e muçulmanos no país. Na educação, há um sistema religioso judaico, um sistema laico judaico e um currículo árabe. Cada grupo tem sua própria autonomia respeitada para conduzir seus costumes. É difícil enquadrar em uma categoria — explicou o professor de relações internacionais Samuel Feldberg, diretor do conselho acadêmico da StandWithUs Brasil.

Judaísmo e Cristianismo
Outro assunto sensível que ficou em alta nas pesquisas nos últimos dias diz respeito à relação entre as religiões Judaica e às denominações cristãs. Perguntas como "Judaísmo é Cristão?" e "Relação entre Judaísmo e Cristianismo?" ficaram entre os termos mais buscados.

De acordo com o rabino Michel Schlesinger, a confusão teológica se explica pelos muitos pontos de convergência entre o Judaísmo e as religiões cristãs, uma vez que o Cristianismo nasceu do seio do Judaísmo.

— Os primeiros cristãos, incluindo Jesus, eram todos judeus: praticavam o judaísmo e estavam familiarizados com as escrituras em hebraico e as práticas religiosas hebraicas. Com o passar do tempo, o Cristianismo foi se distanciando do Judaísmo em algumas práticas, com a maior diferença delas sendo teológica, em relação a própria figura de Jesus, que foi reconhecido pelos cristãos como o Messias, enquanto os judeus não o reconhecem assim — explicou o rabino.

O professor de Ciências da Religião Fernando Altmeyer Júnior, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), explica que os primeiros seguidores de Jesus operavam como uma espécie de seita judaica até a Assembleia de Jamnia, no ano 85 D.C., quando o Cristianismo e o Judaísmo se separam oficialmente. Contudo, práticas similares foram mantidas pela nova religião.

— É preciso entender que se tratam de religiões distintas, com seus próprios dogmas e fé. Contudo, elas compartilham de uma série de pontos em comum, como os livros aos quais os cristãos se referem como Antigo Testamento, a ideia de monoteísmo, a fraternidade universal e valores éticos similares, como os pautados nos 10 mandamentos — explica Altmeyer Júnior. — Por outro lado, há diferenças. Os judeus não aceitam Jesus como Deus, a ideia de Santíssima Trindade não cabe na crença judaica e os sacramentos são diferentes.

O professor aponta, contudo, que uma pequena corrente dentro do judaísmo, chamada de judaísmo messiânico, que ganhou força nos EUA ao aproximar a fé cristã da judaica. De acordo com o professor, eles consideram que Jesus como o messias ungido, que ainda é esperado, no fim dos tempos, pela tradição judaica. O grupo teria criado até mesmo um evangelho judaico. Esse grupo, na análise do professor, seria um dos elos de ligação que explicam a aproximação de certas denominações pentecostais brasileiras a correntes do judaísmo e a Israel.

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