DECISÃO

Juíza suspende lei do aborto em província da Argentina

A sentença decide "acolher a medida cautelar requerida" e "dispor a suspensão da aplicação da lei"

Manifestantes na Argentina pedem aborto legal no final de 2020, antes da interrupção voluntária da gravidez ser aprovadaManifestantes na Argentina pedem aborto legal no final de 2020, antes da interrupção voluntária da gravidez ser aprovada - Foto: Juan Mabromata/AFP

A lei recentemente promulgada de interrupção voluntária da gravidez na Argentina sofreu nesta quinta-feira (28) seu primeiro revés na província de Chaco, no norte do país, onde uma juíza decidiu suspendê-la devido a uma liminar apresentada por um grupo conservador. 

A juíza Marta Aucar, do 19º tribunal de Chaco, decidiu "acolher a medida cautelar requerida" e "dispor a suspensão da aplicação da lei" do aborto em território provincial, "até que se resolva a ação principal", diz a sentença. 

Os promotores da medida argumentam que a lei de interrupção voluntária da gravidez (IVE, na sigla em espanhol) até a 14ª semana de gestação, aprovada pelo Congresso em 30 de dezembro, após um debate histórico e promulgada apelo presidente Alberto Fernández em 14 de janeiro, é contrária às normas de Chaco. 

A prática abortiva "restringe, menospreza, violenta, limita e altera a existência, o exercício e o gozo do direito à vida da criança por nascer, protegida pelo nosso ordenamento jurídico desde a concepção", diz sua alegação. 

Para entrar em vigor, a decisão deve ser notificada formalmente à província de Chaco, que poderia apelar da decisão. 

"Somos respeitosos do Estado de Direito e respeitamos os processos judicais. Chegou o momento de respondermos desta forma", reagiu no Twitter a vice-secretária de Saúde de Chaco, Carolina Centeno. 

"A lei da IVE é uma lei sancionada pelos representantes do povo. Do governo provincial, vamos continuar impulsionando este direito para proteger as mulheres e as pessoas gestantes", sustentou. 

Para a advogada Soledad Deza, a liminar contra a lei do aborto "não tem fundamentos jurídicos, está destinada ao fracasso". 

Consultada pela AFP, a advogada explicou que "a Argentina é uma federação, então não seria legítimo que Chaco tivesse um padrão de direitos humanos abaixo do restante das províncias". 

"O que isto implica, em termos jurídicos, é ignorar a supremacia constitucional na nossa forma de organização política", acrescentou. 

Para resolver o litígio, o caso poderá passar por várias instâncias, da Câmara de Apelações em Chaco à Suprema Corte de Justiça. 

E "os tempos da justiça na Argentina são lentos", admitiu Deza. 

A advogada teme que ocorra um caso similar ao da província de Córdoba, onde a ONG conservadora Portal de Belén conseguiu suspender por sete anos a aplicação da interrupção legal da gravidez em casos de estupro ou risco de vida para a mãe, vigente desde 1921, através de uma liminar na justiça, que acabou sendo rejeitada por uma corte. 

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