Logo Folha de Pernambuco

BRASIL-AFEGANISTÃO

Juízas afegãs ameaçadas pelo Talibã chegam ao Brasil após operação de resgate

No total, são 26 pessoas: sete juízas e três juízes casados com essas magistradas, além de seus filhos e outros parentes próximos

Afeganistão, sob domínio TalebanAfeganistão, sob domínio Taleban - Foto: WAKIL KOHSAR / AFP

O Brasil recebe nesta semana um grupo de dez magistrados afegãos e suas famílias que obtiveram o visto humanitário e foram resgatados por uma operação conjunta entre associações de classe nacionais e internacionais. Muitos deles julgaram casos envolvendo membros do Talibã e estavam ameaçados de morte após a tomada do poder no país pelo grupo fundamentalista.

No total, são 26 pessoas: sete juízas e três juízes casados com essas magistradas, além de seus filhos e outros parentes próximos. A primeira família chegou ao Brasil nesta segunda-feira (18), outra veio na terça (19) e as cinco restantes chegam nesta quarta.

Detalhes sobre a operação de resgate não podem ser divulgados por razões de segurança, mas os voos que os trouxeram para o Brasil vieram da Turquia, da Macedônia do Norte e da Grécia.



Quem encabeça a operação é a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), atendendo a um pedido da Associação Internacional de Mulheres Juízas, que informou que 270 mulheres atuavam como magistradas no Afeganistão e buscavam países dispostos a acolhê-las.

As famílias que chegam nesta semana irão morar inicialmente em Brasília, em uma hospedagem provisória. A AMB fez tratativas com o governo para facilitar a concessão dos vistos para esses profissionais. Preparou também um plano de atendimento aos recém-chegados, que inclui parcerias com planos de saúde, escolas, atendimento psicológico e outros serviços de assistência.

A entidade afirma que lançará nesta quarta-feira uma campanha para arrecadar fundos que ajudem a mantê-los financeiramente por um período.

"Eles deixaram muito claro que querem independência, querem trabalhar, prosseguir nos estudos", conta Renata Gil, presidente da AMB. "Acho que vão conseguir retomar a vida rapidamente, porque são muito qualificados. Até lá, vamos dar um suporte."

Segundo Gil, o grupo tem poucas informações sobre o Brasil, mas está grato pela acolhida. "Eles estão assustadíssimos, mas na expectativa de saber como é a vida no país. É muito bonito e elegante o jeito como eles agradecem. Eles falam que estamos realmente salvando a vida deles."

Em sua ofensiva para retomar o poder, o Talibã abriu as portas de prisões de cada cidade conquistada, libertando seus combatentes e outros criminosos; muitos iam atrás de quem os condenou para se vingarem. Segundo relatos das associações internacionais, os juízes e suas famílias estavam tendo que se mudar de uma casa para outra ou passar dias em esconderijos precários em busca de segurança.

O visto humanitário para afegãos foi anunciado pelo Brasil em 3 de setembro. Em dezembro de 2020, o Brasil havia reconhecido a situação de "grave e generalizada violação de direitos humanos" no Afeganistão, algo que agiliza o processo de obtenção de refúgio por cidadãos desse país.

Só é possível fazer essa solicitação, porém, estando já no Brasil, e, para a viagem, os afegãos precisam de visto. Até então, era preciso pleitear o documento de turismo ou o destinado a reunião familiar, mais difíceis de serem obtidos, especialmente para quem sai às pressas de uma situação de crise humanitária.

A nota conjunta da Justiça e do Itamaraty que anunciou a portaria do visto humanitário afirmava que o país levaria em conta, entre as prioridades, "a situação particular das magistradas afegãs que foi trazida ao conhecimento do governo brasileiro".

Os alertas para o risco corrido pelas juízas já vinham desde antes de as tropas americanas deixarem o país e cresceram após o assassinato de duas juízas do Supremo Tribunal afegão em um ataque em janeiro deste ano.
Atualmente, são poucos os refugiados afegãos em território brasileiro: no total, há 162 já reconhecidos e 49 processos em andamento, segundo dados recentes do Ministério da Justiça.

Há outras iniciativas para trazer refugiados afegãos para o Brasil, de empresas, organizações não governamentais e grupos de voluntários. Algumas delas se dizem confusas em relação ao passo a passo do processo para obter o visto e afirmam que têm esbarrado em dificuldades, como uma longa lista de exigências feitas por embaixadas brasileiras.

Entre as exigências, estão plano de saúde e odontológico, renda mensal, hospedagem, alimentação, transporte, teste PCR para Covid-19 e custos para revalidação de diplomas, por exemplo.

Segundo a Defensoria Pública da União (DPU), os novos requisitos são ilegais. A entidade enviou uma petição ao Ministério das Relações Exteriores solicitando modificação dos critérios e mais transparência nas informações sobre o processo.

O Itamaraty, por sua vez, disse que as orientações em questão foram repassadas às embaixadas apenas para casos em que o pedido de visto humanitário se dê por meio de instituições privadas ou ONGs e envolva grupos numerosos de pessoas e que não são obrigatórias.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter