Julgamento por difamação contra Fox News começa nesta quinta-feira (13) nos EUA
Trata-se de um dos casos por difamação de maior alcance da história dos Estados Unidos
A seleção do júri foi retomada nesta terça-feira (18) em um aguardado julgamento por difamação contra a Fox News, que testa o alcance do direito à liberdade de expressão para os meios de comunicação nos Estados Unidos, inclusive quando transmitem falsidades eleitorais.
A Dominion Voting Systems processou a Fox News em US$ 1,6 bilhão (cerca de 9,2 bilhões de reais, nos valores da época) em março de 2021, alegando que o canal promoveu as falsas alegações do republicano Donald Trump de que suas máquinas foram usadas para fraudar a eleição presidencial de 2020, que ele perdeu para o democrata Joe Biden.
A empresa argumenta que a Fox News transmitiu essas alegações sabendo que não eram verdadeiras.
O julgamento, cujo início foi adiado em um dia em meio a relatos de que a Fox estava buscando um acordo, poderia se tornar um dos casos de difamação mais importantes na história dos Estados Unidos.
A seleção do júri foi retomada às 9h (10h no horário de Brasília) no Tribunal Superior do estado de Delaware, em Wilmington, onde o julgamento está ocorrendo, e as alegações iniciais de ambas as partes são esperadas para ainda hoje.
Uma longa fila de jornalistas e cidadãos esperava para entrar no tribunal. Um manifestante anti-Fox segurava um cartaz que dizia "Fox é culpada" e "Faça eles pagarem".
O julgamento ameaça prejudicar a reputação e as finanças da Fox News, o canal de notícias 24 horas de Rupert Murdoch, assim como o próprio titã da mídia, que deve ser chamado para depor.
Liberdade de expressão
A Dominion disse que a rede de televisão começou a respaldar a narrativa de Trump, porque estava perdendo audiência depois de ser o primeiro meio de televisão a declarar Biden como vencedor no Arizona e a projetar que ganharia a presidência.
A Fox News nega ter cometido difamação e sustenta que apenas estava informando sobre as acusações de Trump, e não que as apoiava, resguardando-se na Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege a liberdade de expressão.
A proteção torna mais difícil para os demandantes ganhar processos por difamação nos Estados Unidos.
Em audiências antes do julgamento, o juiz de Delaware, Eric Davis, encarregado do caso, decidiu que não há dúvidas de que a Fox divulgou declarações falsas sobre a Dominion.
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No entanto, para que a Dominion ganhe, deve provar que a Fox News agiu com malícia genuína, algo difícil de fazer e uma pedra angular da lei de imprensa dos EUA desde 1964.
A Fox News tem repórteres, mas passa a maior parte do tempo com comentaristas, incluindo vários em programas do horário nobre apresentados por líderes de opinião conservadores.
"Coisas realmente loucas e prejudiciais"
O processo da Dominion foi embaraçoso para a Fox, que, de acordo com The Wall Street Journal, também propriedade de Murdoch, estava procurando maneiras de resolver o caso sem ir a julgamento.
Um acordo significaria que Murdoch, de 92 anos, e apresentadores famosos como Tucker Carlson evitariam ter que se sentar no banco das testemunhas.
Em uma declaração dada sobre o caso, Murdoch admitiu que alguns âncoras "endossaram" no ar a falsa alegação de que a eleição de 2020 foi roubada de Trump. Ele negou, no entanto, que a rede como um todo tenha promovido essa alegação sem fundamento, de acordo com documentos judiciais apresentados pela Dominion em fevereiro.
Em outra declaração, Murdoch descreveu os comentários de Rudy Giuliani e Sidney Powell, ex-assessores de Trump, que promoveram as afirmações do ex-presidente, como "coisas realmente loucas e prejudiciais".
Os advogados da Dominion também publicaram muitas mensagens internas da Fox News, nas quais alguns comentaristas expressaram seu descontentamento com Trump, apesar de elogiarem o ex-presidente no ar.
"Eu o odeio apaixonadamente", disse Carlson sobre o republicano, depois de sua derrota eleitoral.
A Fox News acusou a Dominion de "selecionar e tirar as declarações de contexto".