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Argentina

Justiça argentina congela bens de líder de esquerda após denúncia do governo Milei

Intimação ocorre após realização de uma série de buscas em meados de maio

Presidente de Argentina, Javier MileiPresidente de Argentina, Javier Milei - Foto: Juan Mabromata/AFP

A justiça argentina ordenou nesta quarta-feira (29) o congelamento dos bens de um líder social de esquerda investigado por suposta fraude e desvio de assistência social, em uma ofensiva do governo contra o que descreve como "negócio da pobreza".

Um juiz federal solicitou o bloqueio dos bens de Eduardo Belliboni, de 64 anos, figura emblemática da esquerda argentina e líder do Polo Obrero, movimento social trotskista que há meses comanda as manifestações contra o governo ultraliberal de Javier Milei, mas também protestava contra o anterior governo peronista (centro-esquerda).

Belliboni foi intimado pela justiça na segunda-feira e comparecerá em junho perante o magistrado federal Sebastián Casanello, juntamente com vinte líderes de cozinhas comunitárias e movimentos sociais que muitas vezes são gestores de programas de ajuda pública, em um país onde metade da população vive na pobreza.

A intimação ocorreu após a realização de uma série de buscas em meados de maio, em linha com a intenção do governo de "auditar" a assistência social e seus supostos abusos. Em particular, o governo alega que 47% das cozinhas comunitárias registradas para receber ajuda eram "fantasmas" ou não identificáveis.

No caso do Polo Obrero, documentos apresentados em juízo pelos serviços governamentais afirmam que apenas 30% dos 360 milhões de pesos (R$ 2 milhões) administrados pela organização entre 2020 e 2023, no âmbito do programa de ajuda social "Potenciar Trabajo", foram devidamente justificados.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Polo Obrero afirmou que os recursos "foram integralmente entregues ao Ministério do Desenvolvimento Social, no âmbito dos programas para os quais foram atribuídos".

"Eles são cruéis contra organizações independentes e combativas", afirma o documento, que denuncia uma "política persecutória" por parte do governo de Milei. "Não temos nada a esconder", disse Belliboni, considerando que o caso é "uma cortina de fumaça para esconder que a economia está em colapso" e que milhares de empregos são perdidos todos os dias.

O severo programa de austeridade implementado pelo governo de Milei desde dezembro tem desacelerado a inflação crônica (acumula 65% desde o início de 2024), mas a recessão vem aumentando e houve uma contração de 5,3% da economia no primeiro trimestre deste ano. Belliboni afirmou que vai aproveitar seu depoimento ao juiz para denunciar a imobilização pelas autoridades de 5 mil toneladas de ajuda alimentar que estão estocadas em armazéns há meses.

O mesmo juiz Casanello ordenou na segunda-feira a distribuição imediata destes alimentos, mas o governo, que interpôs recurso, afirma que se trata de "reservas dedicadas a emergências e catástrofes". Nesta quarta-feira, uma manifestação foi realizada em frente a um dos depósitos, em Villa Martelli, no subúrbio de Buenos Aires.

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