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Enem 2020

Justiça autoriza jovem com câncer a fazer Enem em sala separada em Pernambuco por risco de Covid

Candidato descobriu diagnóstico em 23 de dezembro. Inep havia negado pedido administrativo feito pela família

Justiça Federal em PernambucoJustiça Federal em Pernambuco - Foto: Divulgação/Ascom JFPE

A Justiça Federal em Pernambuco (JFPE) deferiu, nessa segunda-feira (11), um pedido de liminar com mandado de segurança que autoriza um jovem de 17 anos a fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em sala separada no Estado. 

De acordo com a decisão a favor do estudante, assinada pelo juiz federal titular da 3ª Vara da JFPE, Frederico Azevedo, a autorização foi dada porque o candidato descobriu, em 23 de dezembro de 2020, ser portador de linfoma de Hodgkin Neoplasia Maligna. 

A doença rara é um câncer do sistema linfático que se origina nos linfonodos, tecidos que produzem células responsáveis pela imunidade. 

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) previa que, para evitar o risco de contaminação pela Covid-19, candidatos poderiam fazer as provas em salas separadas dos demais. 

Os pedidos para uso dessas salas separadas, segundo divulgado pelo órgão, deveriam ser feitos até 7 de janeiro, dez dias antes do primeiro domingo de provas. A identidade do estudante não foi divulgada.

A mãe do jovem deu entrada em um mandado de segurança junto à Justiça para garantir a realização da prova após o Inep negar o pedido administrativo. 

"O pedido da família foi feito no início do ano. Tão logo soube da condição de câncer, a mãe procurou, entrou no site do MEC, onde tem um portal para pedir o uso de sala separada e o pedido foi negado", explicou o advogado Pedro Amorim de Almeida, do escritório que ajuizou a ação.

De acordo com o advogado, o pedido foi negado sob a justificativa que, por causa da Covid, o número de estudantes em sala para as provas do exame já foi reduzido. 

"No nosso entendimento, isso não cabe. Agora a força que temos que fazer é intimar o Inep em Brasília para tomar as medidas cabíveis. Esperamos celeridade", pontuou Pedro, acrescentando que, no momento, o jovem continua com o cartão de inscrição com as informações da prova sem a atualização após a decisão da Justiça.

No mandado de segurança, foi anexado um laudo médico que orienta o estudante a realizar as provas em isolamento por causa do alto risco que a Covid-19 lhe oferece, principalmente por causa dos efeitos adversos do tratamento contra o linfoma, como a fragilidade do sistema imunológico.

O estudante iniciará nesta quarta-feira (13) as sessões de quimioterapia. As provas do Enem estão marcadas para os próximos domingos, 17 e 24 de janeiro.

Ainda segundo o advogado, apesar do diagnóstico da doença rara, o estudante decidiu fazer a prova. "Foi uma decisão dele que já havia se esforçando há algum tempo e decidiu fazer isso diante do diagnóstico dessa magnitude", acrescentou.

“Ressalte-se que sua condição de saúde exige a realização em sala separada, não observando este juízo razão plausível para a negativa do pleito na órbita administrativa, ressaltando que o impetrante está disposto a continuar com os seus afazeres de estudante mesmo passando por um momento turbulento de saúde”, destacou o juiz federal Frederico Azevedo.

A Folha de Pernambuco tentou contato com o Inep para saber o posicionamento do instituto sobre o caso e aguarda retorno. 

Linfoma de Hodgkin Neoplasia Maligna
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, Linfoma ou Doença de Hodgkin é um tipo de câncer que se origina no sistema linfático, conjunto composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis pela imunidade e vasos que conduzem essas células através do corpo.

O linfoma de Hodgkin tem a característica de se espalhar de forma ordenada, de um grupo de linfonodos para outro grupo, por meio dos vasos linfáticos. 

A doença surge quando um linfócito (célula de defesa do corpo), mais frequentemente um do tipo B, se transforma em uma célula maligna, capaz de multiplicar-se descontroladamente e disseminar-se. A célula maligna começa a produzir, nos linfonodos, cópias idênticas, também chamadas de clones.

Com o passar do tempo, essas células malignas podem se disseminar para tecidos próximos, e, se não tratadas, podem atingir outras partes do corpo. A doença origina-se com maior frequência na região do pescoço e na região do tórax denominada mediastino.

A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária; porém é mais comum entre adolescentes e adultos jovens (15 a 29 anos), adultos (30 a 39 anos) e idosos (75 anos ou mais). Os homens têm maior propensão a desenvolver o linfoma de Hodgkin do que as mulheres.

A incidência de casos novos permaneceu estável nas últimas cinco décadas, enquanto a mortalidade foi reduzida em mais de 60% desde o início dos anos 1970 devido aos avanços no tratamento. A maioria dos pacientes com linfoma de Hodgkin pode ser curada com o tratamento disponível atualmente.

O linfoma de Hodgkin pode surgir em qualquer parte do corpo, e os sintomas dependem da sua localização. Caso se desenvolva em linfonodos superficiais do pescoço, axilas e virilha, formam-se ínguas (linfonodos inchados) indolores nesses locais. 

Se a doença ocorre na região do tórax podem surgir tosse, falta de ar e dor torácica. Quando se apresenta na pelve ou no abdômen, os sintomas são desconforto e distensão abdominal. Outros sinais de alerta são febre, cansaço, suor noturno, perda de peso sem motivo aparente e coceira no corpo.

Segundo estatísticas do Inca, em 2020 foram registrados 2.640 novos casos no País, sendo 1.590 homens e 1.050 mulheres.

O Atlas de Mortalidade do Ministério da Saúde registrou 523 mortes pela doença em 2018, os dados mais recentes. Desse total, 282 eram homens e 241, mulheres.

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