OBRAS DE ARTE

Justiça decreta a prisão de Sabine Boghici e falsas videntes acusadas de golpe milionário

Magistrada determinou ainda a quebra de sigilo de dados telefônicos e telemáticos e apreensão de imóveis e do Porsche de integrantes da quadrilha

Sabine Coll Boghici, presa por participação em golpe milionário contra a mãe, idosa de 82 anos, na Zona Sul do RioSabine Coll Boghici, presa por participação em golpe milionário contra a mãe, idosa de 82 anos, na Zona Sul do Rio - Foto: Reprodução

A juíza Simone de Araujo Rolim, da 23ª Vara Criminal decretou a prisão preventiva da atriz Sabine Coll Boghici, de 49 anos, acusada pelos crimes de estelionato, cárcere privado, roubo, extorsão e associação criminosa, contra a viúva do colecionador Jean Boghici, Geneviève Rose Coll Boghici, de 82 anos.

Além de Sabine, outros cúmplices acusados de participação na "associação criminosa" também tiveram suas prisões temporárias revertidas em preventiva: Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, Jacqueline Stanesco, Rosa Stanesco Nicolau, Slavko Vuletic e Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger.

As investigações da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa de Terceira Idade (Deapti) apontaram que Geneviève foi mantida em cárcere privado durante um ano por Sabine, filha da vítima, para roubar os 16 quadros da família, avaliados em mais de R$ 700 milhões.

A operação da Deapti, batizada de "Sol Poente", culminou com a prisão dos acusados no mês passado. Na última sexta-feira, a polícia indiciou o grupo criminoso e, nesta segunda-feira o Ministério Público denunciou o bando. A Justiça decretou a prisão preventiva dos denunciado no fim da tarde desta terça-feira, ressaltando que parte do grupo tentou fugir, enquanto dois deles tiveram êxito na fuga, mas foram capturados pelos policiais.

Em sua decisão, a magistrada determina ainda a quebra de sigilo de dados telefônicos e telemáticos. A juíza Simone de Araujo Rolim fundamenta que a medida tem como objetivo "determinar que os peritos revelem o conteúdo dos celulares arrecadados com as acusadas quando da prisão das mesmas, devendo ser fornecidos a esse Juízo as seguintes informações: I) todos os contatos existentes no aparelho; II) as fotografias registradas; III) as ligações recebidas e efetuadas nos últimos dois e IV) os registros de voz e de mensagens escritas, inclusive e sobretudo as de WhatsApp".
 

Essa medida também foi ressaltada pela juíza em sua decisão para a recuperação de bens que, até o momento, não se sabe onde foram parar: "Pelo que se verifica através do conteúdo probatório até aqui angariado, a quebra do sigilo de dados telefônicos requerida pelo Ministério Público, irá possibilitar a apuração dos fatos, sendo o meio mais eficaz para se identificar a localização dos bens subtraídos. Assim sendo, se verifica a imprescindibilidade da medida, uma vez que a investigação, através de seus meios ordinários, não logrou êxito em apurar o paradeiro das joias subtraídas".

Sequestro de bens

Também foi deferida pela juíza, a pedido da promotora Anna Gabriella Ribeiro de Carvalho Gama, da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial Área Botafogo e Copacabana, o sequestro dos bens imóveis e móveis. Nas buscas feitas pela Deapti na casa de Rosa Stanesco Nicolau foram encontrados documentos que, segundo a decisão da magistrada, "demonstram a aquisição de diversos imóveis". Por essa razão, a Justiça sequestrou 11 imóveis espalhados em bairros como Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico e Botafogo, na Zona Sul; e na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Pedro Stanesco, filho de Rosa Stanesco Nicolau, estaria de posse do Porsche, que foi apreendido.

O golpe, segundo os investigadores do caso, teria sido planejado por Sabine com a ajuda da mulher, Rosa Stanesco, conhecida como a vidente Mãe Valéria de Oxóssi. Os demais presos são membros da família de Rosa. A ideia era ter acesso a bens e obras de arte da herança do colecionador e marchand Jean Bochici, morto em 2015, cujo espólio é disputado na Justiça por Sabine e Geneviève.

Defesa critica decisão

O advogado Sérgio Guimarães Riera, que defende Sabine, Rosa e Gabriel — filho de Rosa —, criticou a conversão da prisão temporária em preventiva. Ele afirmou que a mãe da atriz “tem usado da força policial para não perder a inventariança do ex-marido”.

—A defesa rechaçou e vai rechaçar a necessidade dessas prisões. Prisões desnecessárias. Infelizmente, no Brasil, a prisão virou regra. A verdade virá à tona e está vindo. A acusação feita pela mãe da Sabine não passa de uma estratégia de utilizar a força policial para não perder a inventariança do Jean Boghici. Já está comprovado que ela sonegou informações sobre a existência de obras de arte. Inclusive, já tendo vendido diversas delas sem comunicar à Sabine — comentou.

O GLOBO tentou contato com as defesas de Jacqueline Stanescos, prima de Rosa; Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, irmã de Rosa; e de Slavko Vuletic, pai de Rosa e de Diana.

O titular da Deapti, delegado Gilberto da Cruz Ribeiro, contrapôs a defesa de Sabine que, nos dois habeas corpus que ingressou na Justiça em favor dela, tentou invalidar a investigação.

— A defesa tentou recorrer com dois HCs alegando ilegalidade. Mas, com a denúncia do Ministério Público e a decisão judicial, que os tornou réus, isso mostra que não houve nenhum tipo de ilegalidade na investigação. Não houve erro no trabalho realizado. Agora é com a Justiça — ressaltou Ribeiro.

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