Justiça peruana proíbe saída do ex-presidente Vizcarra do país
O político teria recebido propina para autorizar obras públicas quando era governador
A Justiça peruana proibiu nesta sexta-feira (13) o ex-presidente Martín Vizcarra de deixar o país no prazo de 18 meses, sob denúncias de que ele teria recebido propina para autorizar obras públicas quando era governador de Moquegua (sul), em 2014.
A destituição de Vizcarra e a posse de Manuel Merino, o chefe parlamentar que assumiu a Presidência do país na terça-feira, desencadearam manifestações maciças em Lima e outras cidades, com saldo de uma dúzia de feridos pela repressão policial, condenada por organizações de direitos humanos.
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"Determina-se o impedimento de saída do país contra o investigado Martín Vizcarra; a medida terá a duração de 18 meses", anunciou a juíza María Álvarez em audiência judicial a pedido da procuradoria, que investiga as denúncias de que o ex-presidente recebeu 600.000 dólares em propina para dar luz verde a obras públicas quando era governador.
"Já falamos que ficaremos no país", afirmou aos jornalistas Vizcarra, que nega as acusações e questiona a legitimidade do governo de Merino. "Temos a verdade que nos respalda".
O Congresso destituiu Vizcarra por "incapacidade moral" na segunda-feira, no encerramento de um segundo julgamento político contra o agora ex-presidente em menos de dois meses.
Desde terça-feira, milhares de pessoas foram às ruas de Lima e outras cidades em defesa do político sem partido ou bancada no Congresso, mas bastante popular, e para protestar contra a posse de Merino.
Em meio a uma nova manifestação na quinta-feira, um grupo de pessoas que tentou chegar ao Congresso enfrentou com pedras e pedaços de pau a polícia, que dispersou a multidão com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. Após os incidentes, oito pessoas foram presas e uma dezena ficou ferida.
A indignação seguia viva nesta sexta-feira, quando centenas de jovens marcharam desafiadoramente até a residência do primeiro-ministro, Antero Flores-Aráoz, em Lima, mas acabaram impedidos de continuar por um bloqueio policial.
A repressão de quinta-feira provocou a indignação de órgãos de direitos humanos.
A Defensoria do Povo do Peru exigiu "cessar imediatamente o uso de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha contra cidadãos que exercem seu direito de se manifestar".
"São muito preocupantes os relatos de uso excessivo de força por parte da polícia do Peru. A polícia deve garantir o direito dos peruanos de manifestar-se pacificamente e da imprensa de informar", criticou no Twitter José Miguel Vivanco, da Human Rights Watch, com sede nos Estados Unidos.
- Feridos por arma de fogo -
O protesto na tradicional praça San Martín transcorreu de maneira pacífica por cerca de quatro horas, até que um grupo de manifestantes tentou uma maior aproximação do Congresso, símbolo da ira dos peruanos pela destituição de Vizcarra.
Duas pessoas de cerca de 20 anos ficaram feridas "por arma de fogo", um gravemente, informou o médico Jorge Amorós, do hospital Almenara de Lima, onde ambos estão internados.
Um fotógrafo da AFP foi atingido por projéteis no braço e na perna durante a manifestação na praça San Martín.
As autoridades não divulgaram um balanço dos feridos ou detidos, mas o Coordenador Nacional de Direitos Humanos disse que além dos dois jovens, outras 12 pessoas ficaram feridas, incluindo uma que foi alvo de um projétil no rosto, e oito manifestantes foram presos.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da OEA, expressou na quinta-feira sua "preocupação com o uso excessivo da força policial".
Nenhuma nova manifestação havia sido convocada para esta sexta-feira, quando a seleção peruana de futebol enfrenta o Chile nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022.