Justin Trudeau anuncia renúncia como primeiro-ministro do Canadá
O premiê fez declaração a repórteres em Ottawa
Justin Trudeau anunciou, nesta segunda-feira (6), sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro do Canadá, função que exercia desde 2015 e que abandonará assim que o seu Partido Liberal escolher um novo líder.
"Vou renunciar como líder do partido e como primeiro-ministro depois que o partido eleger seu próximo líder", disse Trudeau a jornalistas na capital, Ottawa.
Quase uma década após assumir o poder, Trudeau, de 53 anos, vinha enfrentando semanas de pressão com a proximidade das eleições gerais e com seu partido atingindo os níveis mais baixos nas pesquisas.
Leia também
• Primeiro-ministro do Canadá deve anunciar sua renúncia nesta semana, diz jornal
• Interferência política de Elon Musk é 'preocupante', diz o primeiro-ministro da Noruega
• Nepal suspende voos de helicóptero na região do Everest
Ainda não está claro quanto tempo ele permanecerá no cargo como primeiro-ministro interino.
Ele disse que a disputa pela liderança liberal será "um processo competitivo sólido em nível nacional".
Isto significa que Trudeau vai continuar governando o Canadá quando o futuro presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, voltar ao poder, em 20 de janeiro.
Trump, por sua vez, aproveitou a renúncia de Trudeau para insistir em sua insólita proposta de fusão entre os dois países.
"Se o Canadá se fundir com os Estados Unidos, não haveria tarifas alfandegárias, os impostos baixariam, e teriam total segurança frente às ameaças de navios russos e chineses que constantemente os rodeiam", escreveu Trump nas redes sociais. "Que nação seríamos juntos!", acrescentou.
O presidente eleito dos EUA também anunciou tarifas alfandegárias de 25% sobre todas as importações canadenses, o que poderia ser devastador para a economia do país vizinho. Trudeau ainda terá a tarefa de liderar a resposta inicial à nova administração americana, inclusive uma possível guerra comercial.
Um novo líder
O apoio de Trudeau dentro do Partido Liberal veio diminuindo durante grande parte do ano passado, mas caiu ainda mais após a renúncia surpreendente de sua ex-ministra das Finanças e vice-primeira-ministra Chrystia Freeland.
Em uma dura carta de renúncia, ela acusou Trudeau de se concentrar em manobras políticas para apaziguar os eleitores ao invés de estabilizar as finanças do Canadá antes da chegada das tarifas alfandegárias prometidas por Trump.
A imprensa canadense tem apontado Freeland como uma possível candidata a liderar o Partido Liberal ao lado do ex-governador do Banco da Inglaterra, Mark Carney, um canadense que também chefiou anteriormente o Banco do Canadá.
Lori Turnbull, professora de ciência política na Universidade de Dalhousie, disse que tradicionalmente uma disputa pela liderança liberal levaria de quatro a seis meses, mas desta vez "têm que ser mais rápidos que isso".
"Se não tiverem um novo líder para as próximas eleições, então não faz sentido", disse à AFP.
Os liberais de Trudeau estão muito atrás nas pesquisas frente aos conservadores da oposição e sobreviveram por pouco a três moções de censura no Parlamento no fim do ano passado.
Em dezembro, o Novo Partido Democrático (NPD, esquerda) anunciou que deixaria de apoiar o governo e votaria para depor Trudeau na próxima oportunidade.
Trudeau confirmou ter recebido a permissão do governador geral do Canadá para suspender todos os assuntos parlamentares até 24 de março.
Isso poderia dar tempo para os liberais elegerem um novo líder e restringirem as possibilidades da oposição de apresentar uma moção de censura.
Nas pesquisas, o primeiro-ministro está mais de 20 pontos atrás de seu adversário conservador, Pierre Poilievre.
"Todos os deputados liberais e todos os candidatos à chefia apoiaram TUDO o que Trudeau fez durante nove anos, e agora querem enganar os eleitores apresentando outra face liberal para continuar desfalcando os canadenses", reagiu Poilievre nesta segunda-feira no X.
As próximas eleições gerais canadenses devem ser realizadas no mais tardar em outubro de 2025.
"Alívio"
Ninguém parece surpreso no país.
"Tenho a impressão de que é um certo alívio, não só por mim, mas também por ele porque tinha um grande peso nos ombros", disse à AFP Annette Sousa, moradora de Ottawa.
Já Rob Gwett, morador de Toronto, preferiria que Trudeau convocasse eleições, e acredita que deveria ter saído há muito tempo "por causa dos escândalos".
Quando assumiu o cargo, Trudeau - filho do carismático ex-primeiro-ministro Pierre Elliott Trudeau - era considerado um líder moderno, feminista, progressista e preocupado com os desafios ambientais. Ele fez do Canadá o segundo país do mundo a legalizar o consumo de maconha, introduziu a eutanásia, impostos à emissão de carbono, entre outros feitos.
Também iniciou uma investigação pública sobre mulheres indígenas desaparecidas ou mortas e assinará uma versão atualizada do acordo de livre comércio da América do Norte, do qual são parceiros Canadá, Estados Unidos e México.