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EUA

Kamala Harris se apresenta como alternativa ao problema de Trump com as mulheres

Ampliar o apoio de Trump entre as mulheres é considerado crucial pelos analistas para o sucesso do republicano

A vice-presidente dos EUA, Kamala HarrisA vice-presidente dos EUA, Kamala Harris - Foto: Brendan Smialowski / AFP

Acusado de conduta sexual inapropriada e de aventuras ao longo de décadas e marcado pelas estritas restrições ao aborto e pelo sexismo, Donald Trump tem um problema com as mulheres.

E os democratas apostam que Kamala Harris pode se valer desta situação em sua eventual corrida pela Casa Branca.

Trump foi acusado de misoginia por sua oponente democrata em 2016, Hillary Clinton, até agora a única mulher nomeada por um partido majoritário para concorrer à Casa Branca, e enfrenta ataques semelhantes de uma vice-presidente que cada vez mais tem chances de se tornar a segunda, após a saída de Joe Biden da corrida eleitoral em 2024.

Ampliar o apoio de Trump entre as mulheres é considerado crucial pelos analistas para o sucesso do republicano nas eleições de 5 de novembro, depois de ter obtido apenas 42% do voto feminino no pleito de 2020, contra 57% do vencedor Joe Biden.

Na Convenção Nacional Republicana da semana passada, houve uma tentativa coordenada pelo partido para suavizar os aspectos mais ásperos do bilionário de 78 anos, com elogios de aliados próximos e opositores convertidos ao seu favor.

Várias mulheres de sua família se manifestaram sobre o assunto, como Kai Trump, sua neta mais velha, que compartilhou histórias de "um avô normal" que lhes "dá doces e refrigerantes" quando seus pais "não estão olhando".

Os elogios, no entanto, se chocaram com uma imagem pública de suposto predador sexual, que se vangloriou de agarrar mulheres e cultivou a fama de ser infiel ao supostamente trair sua terceira esposa, Melania Trump, com uma modelo da Playboy e uma estrela pornô.

- "Imundas e animais repugnantes" -
Trump foi condenado no ano passado por uma agressão sexual nos anos 90 contra a escritora E. Jean Carroll.

O juiz, que qualificou o crime como "estupro", ordenou que o bilionário pagasse 88 milhões de dólares (R$ 489,2 milhões na cotação atual) em danos morais por difamá-la.

Durante sua primeira campanha para as primárias com vistas às eleições de 2016, as quais venceu, Trump criticou o físico de sua rival republicana e sugeriu que a esposa de outro concorrente, o senador Ted Cruz, era feia.

Posteriormente, uma gravação divulgada pelo programa "Access Hollywood", na qual ele se gabava de poder agarrar mulheres pela genitália, quase pôs fim à sua campanha.

Anos antes, Trump havia se vangloriado no programa de entrevistas do famoso apresentador Howard Stern de entrar nos vestiários de concursos de beleza com "mulheres de aparência incrível" em vários estados de nudez.

Os eleitores recordaram as polêmicas declarações de Trump durante um dos debates das primárias de 2015, quando a moderadora Megyn Kelly trouxe à tona suas descrições das mulheres como "porcas gordas, cachorras, imundas e animais repugnantes".

Trump criticou Kelly posteriormente e disse que ela estava "sangrando por todas as partes".

Clinton chegou a acusar Trump de "assediá-la" durante um debate em outubro de 2016, após uma estranha performance na qual ele frequentemente se posicionava muito perto dela e franzia o rosto.

Trump negou mais de uma dúzia de acusações de conduta sexual inapropriada, desde apalpadas e assédios até estupro. A posição oficial da Casa Branca durante o governo do republicano em 2017 foi de que todas as mulheres estavam mentindo.

- "Formidável concorrente feminina" -
Trump, que evitou a prisão no caso de Carroll por se tratar de um processo civil, também foi condenado criminalmente pela falsificação de documentos contábeis para encobrir uma suposta relação com Stormy Daniels, ex-atriz de filmes adultos.

A sentença deste segundo caso deve ser proferida em setembro.

A secretária de imprensa da campanha de Trump, Karoline Leavitt, disse à AFP que a narrativa da mídia sobre seu tratamento com as mulheres é "totalmente falsa", destacando seus esforços para expandir, durante o mandato, o acesso à licença maternidade remunerada e ao cuidado infantil.

Os direitos reprodutivos se tornaram um tema central nas eleições de 2024 após Trump nomear em seu governo três juízes da Suprema Corte que votaram a favor de anular as garantias federais ao aborto.

Kamala é uma defensora destacada do acesso ao aborto, além de ser uma ex-procuradora que costumava processar homens por fraude e estupro.

O estrategista político Sergio José Gutiérrez diz que, embora Kamala possa enfrentar dificuldades com eleitoras moderadas e mais velhas, a coalizão democrata de 2020 de mulheres dos subúrbios e mães trabalhadoras poderia ajudá-la a obter a vitória.

"O reduto de Trump continua sendo entre eleitores de pequenas cidades, idosos e conservadores econômicos", disse Gutiérrez, diretor-geral da consultoria Espora.

"Mas ele precisa se adaptar à dinâmica de se apresentar contra uma formidável concorrente feminina", considerou.

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