Keiko lidera eleições no Peru, mas votos de áreas rurais diminuem vantagem sobre Castillo
A pequena diferença reflete a polarização da cena política peruana. O vencedor do pleito deve assumir em 28 de julho
Com 90,04% da apuração oficial concluída no Peru, a candidata direitista Keiko Fujimori, 46, tem 50,35% dos votos contra 49,64% do esquerdista Pedro Castillo, 51. A diferença, que equivale a pouco mais de 114 mil votos, reflete a polarização da cena política peruana enquanto o país escolhe a quinta pessoa a ocupar a Presidência desde 2018.
Os primeiros relatórios da Onpe, órgão eleitoral responsável pela contagem oficial dos votos, contêm os votos das áreas urbanas. O percentual restante, que leva mais tempo para ser analisado, vem das áreas rurais do Peru e dos cidadãos que votam no exterior -redutos que, segundo as pesquisas de intenção de voto, tendem a favorecer Castillo.
Eleitores de Keiko chegaram a cantar vitória quando a Onpe divulgou os primeiros relatórios. Com 42% dos votos apurados, a filha do autocrata Alberto Fujimori, que liderou o país entre 1990 e 2000, saiu na frente com quase seis pontos de vantagem.
Os números provocaram explosões de júbilo em bairros ricos de Lima, onde as pessoas iam às janelas aos gritos de "Viva o Peru!" e "Keiko venceu!". O eleitorado mais conservador teme que o país "caia no comunismo" se Castillo for eleito presidente.
A candidata, no entanto, reagiu com moderação e pediu prudência a seus eleitores devido à pequena margem de diferença. "Aqui não há vencedor nem perdedor. O que se deve buscar é a unidade de todos os peruanos", disse Keiko.
Horas antes, a pesquisa de boca de urna do Instituto Ipsos também dava vitória à direitista –50,3% dos votos contra 49,7% de Castillo. Mais tarde, porém, uma contagem rápida feita pelo mesmo instituto revelou um resultado inverso, com 50,2% para o professor de escolas rurais e 49,8% para a ex-congressista.
Em nota, o partido de Castillo, Peru Libre, definiu como "enganoso" o segundo levantamento do Ipsos, apesar de os números apontarem ligeira vantagem de seu candidato. No comunicado, a legenda pede a revisão das atas de votação sob escrutínio de observadores de ambos os partidos envolvidos na disputa presidencial.
Keiko Fujimori pode acabar sendo a primeira presidente do Peru, objetivo pelo qual trabalha há 15 anos, desde que assumiu a tarefa de reconstruir quase das cinzas o movimento político de direita fundado por seu pai em 1990.
Mas perder nas urnas não significaria apenas sua terceira derrota nas urnas -ela já foi candidata em 2011 e em 2016, perdendo ambas as vezes no segundo turno. Ela também teria que ir a julgamento sob risco de acabar na prisão.
Keiko é investigada pelo caso das contribuições ilegais da empreiteira brasileira Odebrecht, um escândalo que afetou também quatro ex-presidentes peruanos, e já passou 16 meses em prisão preventiva por isso.
Casada e com duas filhas, se vencer, abrirá um precedente ao ser a primeira mulher nas Américas a chegar ao poder seguindo os passos de seu pai, cujo mandato foi marcado por uma série de denúncias de violações de direitos humanos.
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Do outro lado está Castillo, que, se obter sucesso, será o primeiro presidente peruano sem vínculos com as elites políticas, econômicas e culturais. Sindicalista e professor do ensino médio, ele ficou conhecido nacionalmente ao liderar greves de docentes, a mais famosa delas em 2017. Ele defende maiores salários aos empregados do setor da educação. Tem um discurso anticorrupção e propõe dissolver o Tribunal Constitucional e a Constituição de 1993 -segundo ele, os responsáveis por permitir práticas irregulares.
O vencedor do pleito deve assumir a Presidência do Peru em 28 de julho. O mandatário ou mandatária precisará assumir as rédeas de um país em crise que já teve quatro líderes diferentes desde 2018.
Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, renunciou naquele ano acusando a oposição de criar um "clima ingovernável". Seu sucessor, Martín Vizcarra, foi afastado em novembro de 2020 após enfrentar dois processos de impeachment, sob a acusação de recebimento de propina, o que o enquadraria na categoria de "incapacidade moral", impedindo sua continuidade no cargo.
Na sequência, assumiu, por apenas seis dias, o congressista Manuel Merino de Lama, que renunciou depois dos episódios de violência que vieram na esteira da crise institucional. O atual líder do país, Francisco Sagasti, assumiu o governo interinamente, e deve permanecer no cargo até a transição para Keiko ou Castillo.
O Peru também tem a maior taxa de mortalidade do mundo por causa da pandemia de coronavírus, com mais de 185 mil mortes em uma população de 33 milhões de habitantes. No ano passado, a crise da saúde obrigou a economia a ficar semiparalisada por mais de 100 dias, o que levou a uma recessão e uma queda do PIB de 11,12%.