Ketchup: o molho pode ser usado como suplemento no esporte? Funciona?
Propaganda destaca o uso do molho como substituto dos géis energéticos
Um comercial da marca “Heinz” do Canadá mostra alguns corredores utilizando o ketchup da empresa como suplemento durante a corrida. Com alguns possíveis “relatos” de atletas, a propaganda ainda traça uma “rota” para que os atletas encontrem o pacote do molho mais facilmente. Mas será que o sachê com tomate, açúcar, vinagre, sal, cebola e aroma natural realmente funciona para esse fim?
Quem responde a pergunta é Rachel Kimble, professora de nutrição esportiva da Universidade do Oeste da Escócia. Em artigo publicado no “The conversation”, ela analisa a composição do ketchup e compara com os tradicionais géis energéticos consumidos pelos atletas durante as provas para defender que não, o molho não é um suplemento que valha a pena.
Ainda assim, o composto de tomate tem seus benefícios: o sabor picante pode agradar alguns, principalmente durante esforços extenuantes de resistência, quando o corpo pede uma fonte de carboidrato rápida e de fácil ingestão durante provas e treinos prolongados — e o ketchup da marca do comercial contém carboidratos principalmente na forma de açúcar do tomate.
Falando no fruto, os tomates contêm compostos como licopeno e carotenóides, antioxidantes que reduzem os marcadores de dano muscular após uma corrida de resistência.
Outra vantagem do molho são as opções prontamente disponíveis dos sachês. No entanto, Kimble destaca que a praticidade pode não ser “tão prática assim” pois é necessário uma quantidade considerável deles para se chegar aos níveis dos nutrientes dos géis, por exemplo.
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Para treinos que duram menos de uma hora, pacotes de ketchup podem ser suficientes. No entanto, os géis energéticos padrão no mercado contêm cerca de 25g de carboidratos, e a recomendação para atletas que praticam exercícios mais longos é de 30 a 60g de carboidratos por hora.
Cada pacote de 10ml de ketchup contém 2,6g de carboidratos. Para atingir o limite inferior desta faixa, os corredores precisariam de cerca de 12 pacotes de ketchup por hora, o que representa um desafio logístico durante o treino.
Além disso, os géis esportivos geralmente contêm eletrólitos como sódio, potássio e magnésio. Esses eletrólitos são perdidos através do suor durante o exercício e reabastecê-los é importante para prevenir a desidratação e cãibras musculares durante atividades de resistência.
O ketchup contém alguns eletrólitos devido ao teor de sal, mas os géis esportivos são formulados cientificamente para fornecer um equilíbrio eletrolítico mais preciso, tornando-os a escolha preferida dos atletas.
O ketchup ainda é altamente ácido devido ao tomate e ao vinagre — e alimentos ácidos podem provocar azia e refluxo ácido, desviando o foco do desempenho máximo. A combinação de açúcares e ácidos no ketchup também pode causar estragos na saúde dentária, pois são pegajosos e podem grudar nos dentes — um fator frequentemente esquecido pelos atletas.
Assim, a nutricionista esportiva aconselha que o molho pode ser incluído na dieta com moderação, mas não como suplemento de corrida. E se ainda surgir a vontade de experimentá-lo dessa forma, o ideal é testar durante os treinamentos, antes de alguma competição importante.