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Rússia

Kremlin interfere na educação básica para formar geração nacionalista e militarizada

Vladimir Putin e seu gabinete promoveram mudanças no ensino de História no país e criaram disciplina para formação militar no currículo básico

Cadetes russos da escola militar Suvorov participam da cerimônia no Museu da Grande Guerra Patriótica: militarização está se expandindo pelo sistema educacional Cadetes russos da escola militar Suvorov participam da cerimônia no Museu da Grande Guerra Patriótica: militarização está se expandindo pelo sistema educacional  - Foto: Moskva News Agency/AFP

Enquanto a Rússia luta uma guerra com a Ucrânia no Leste, uma pequena revolução acontece no sistema escolar do país. Com o discurso cada vez mais contestado na comunidade internacional, o presidente Vladimir Putin e seu gabinete tentam emplacar uma versão alternativa — nacionalista e militarizada —da História russa entre a juventude. Novos livros que apontam o conflito como uma guerra contra o "nazismo ucraniano" foram introduzidos no currículo escolar, ao passo que iniciativas para ensinar crianças e adolescentes até mesmo a atirar com munição real ganham espaço.

Um novo volume de história foi inserido no ensino médio russo neste mês, alterando a forma como uma série de acontecimentos dos últimos 80 anos eram tradicionalmente apresentados aos estudantes. Entre os revisionismos, Josef Stálin é retratado como um líder "sábio e eficaz", e as perseguições realizadas por ele foram contra pessoas que mereciam aquele destino. O fim da União Soviética teria sido culpa exclusiva de Mikhail Gorbachev, enquanto versões anteriores dos livros russos apresentavam o declínio soviético a partir de uma abordagem sistêmica, que considerava pontos como a ineficiência da economia planificada e os impactos da corrida armamentista.

A análise sobre o novo material didático foi feita pelo jornalista e escritor russo Mikhail Zygar. Em um artigo para o The New York Times, Zygar afirma que o livro apresenta apenas "propaganda de extrema direita", classificando as alterações como "um conjunto de clichês reciclados da televisão russa".

"O livro foi escrito, entre outros, por Vladimir Medinsky, ex-ministro da Cultura russo e atualmente conselheiro presidencial. Medinsky ocupa um outro papel, mais secreto: ele é o ghostwriter de Vladimir Putin. Trabalhando com um time de assistentes, ele escreve textos sobre história em nome de Putin", afirmou Zygar, que conhecer o conselheiro no Instituto de Relações Internacionais de Moscou, nos anos 1990.

"Dada a obsessão do presidente com a História e o uso dela para justificar seu regime, Medisnsky ocupa uma posição importante na Rússia hoje. Das sombras, ele ajudou a construir a fundação ideológica e histórica na qual o controle de Putin se assegura", acrescentou.

A mudança na bibliografia é apenas uma das alterações feitas por Putin e seus aliados na grade curricular, com objetivo de fundamentar essa visão particular sobre o país. Em agosto, o presidente assinou uma lei que cria a disciplina "Fundamentos da Segurança e Defesa da Pátria" (em tradução livre), cujo objetivo é treinar os estudantes no uso de fuzis, granada de mão e pilotagem de drone, por exemplo.

Autoridades russas confirmaram que veteranos da guerra na Ucrânia estão sendo treinados para conduzir as aulas aos estudantes. O que acontece até o momento ainda seria uma versão de teste, a ser implantada totalmente no próximo ano.

“[O projeto tem como objetivo] incutir uma compreensão e aceitação da estética dos uniformes militares, dos rituais militares e das tradições de combate”, aponta um documento do Ministério da Educação russo descoberto por o meio da iniciativa russa independente Important Stories, reproduzida pela CNN.

De acordo com uma pesquisa realizada pela rede americana, consultando fontes de notícia e redes sociais russas, crianças de até sete ou oito anos já estariam recebendo treinamento militar básico.

“O novo currículo serve três objetivos: doutrinar os alunos com a lógica do Kremlin para a ‘Operação Militar Especial’, incutir nos alunos uma mentalidade marcial e reduzir os prazos de treino para a mobilização e implantação subsequentes”, escreveu o Ministério da Defesa do Reino Unido, em um boletim do começo do mês, reproduzido pela Al-Jazeera.

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