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Lama, dor e destruição em Paiporta, cidade espanhola arrasada pelas inundações

O balanço de mortes devido às inundações aumentou para 158

Uma área de favela inundada é fotografada em Picanya, perto de Valência, leste da Espanha, em 30 de outubro de 2024.Uma área de favela inundada é fotografada em Picanya, perto de Valência, leste da Espanha, em 30 de outubro de 2024. - Foto: Jose Jordan / AFP

A terça-feira estava sendo um dia desagradável em Paiporta,mas sem chuva. Ninguém imaginava que uma mortífera onda de água marrom se dirigia ao local, deixando dezenas de mortos nesta cidade espanhola próxima a Valência e agora devastada pela lama.

"Estamos arrasados", desabafa com a voz embargada Pepi Guerrero, uma moradora de Paiporta que estava na fila para receber um pouco de água.

Em uma rua onde os veículos permanecem empilhados como foram deixados pela correnteza e onde a lama cobre os sapatos, essa funcionária de limpeza de 53 anos lembra como escapou por pouco da inundação que afogou dezenas de vizinhos desta cidade de cerca de 25.000 habitantes ao sul de Valência.

"Eu tinha acabado de sair do trabalho e quando cheguei aqui a água já estava na metade da rua. Tivemos tempo de subir para casa", lembra entre lágrimas. "Vim de metrô, mas o metrô já não existe mais."

Os trilhos da ferrovia, que agora pendem de uma das pontes que atravessam Paiporta, são uma das numerosas estruturas destruídas pelo furioso fluxo de água marrom que descia pelo desfiladeiro que atravessa esta localidade na costa do Mediterrâneo, transformada nas últimas décadas em uma cidade dormitório da próspera Valência.

Em ambos os lados do desfiladeiro, a lama devastou as ruas, desenhando a rota de destruição que seguiu o fluxo.

"Em meia hora tudo aconteceu", lembra com a voz trêmula Julián Loras, um aposentado de 60 anos. O desastre quase o pegou enquanto passeava com o cachorro.

"Se meu filho não me chamasse, eu teria sido pego", explica, lamentando que não foram lançados mais alertas avisando sobre o perigo.

Com uma grande vassoura na mão, Julián tenta afastar a lama que destruiu veículos e comércios desta rua, por onde horas antes tinha visto os carros "voando" sobre a água.

"Muita gente morreu", afirma, baixando o olhar. "Todos os porões se encheram de água. Muitas pessoas ficaram nervosas, foram tirar o carro e acabaram pegas", explica, temendo que apareçam novas vítimas.

Em um segundo 
Paiporta é um dos epicentros dessa tragédia que atravessou a província de Valência, onde já há quase uma centena de mortos. Sem vestígios daquela tempestade que trouxe o desastre, o sol brilha intensamente nesta quinta-feira, tornando ainda mais intenso o marrom da lama.

Em frente ao desfiladeiro, a poucos metros da rua comercial que leva ao coração tradicional da cidade, Manuel Císcar e sua filha tentam abrir um caminho até sua casa. Dentro, na garagem, estão os três carros da família convertidos em uma pirâmide de destroços.

As marcas marrons da água, a quase dois metros, sobressaem na parede branca, lembrando o desastre que quase os levou.

"Estávamos aqui embaixo para colocar algumas tampas, mas em um momento a água estourou a porta e em um segundo tínhamos água na cintura", afirma este aposentado de 76 anos com os olhos claros embaçados.

Após toda uma vida vivendo e trabalhando em Paiporta, desde terça-feira não para de perder conhecidos, como o casal de idosos que morreu preso em uma das casas baixas que ficam no início da rua.

"Hoje fiquei sabendo de mais dois falecidos", conta emocionado sobre essa tragédia.

"Ninguém avisou" 
Na rua de pedestres, não resta nenhum comércio ileso. Persianas amassadas, sofás de uma clínica dental virados para a rua, lojas destruídas. Com paus, vassouras e baldes, os moradores tentam abrir caminho entre o lamaçal enquanto outro forte apito impacta todos os celulares.

É um aviso da proteção civil, como o que soou tardiamente na terça-feira, para lembrar à população que não deve se deslocar por estrada para dar prioridade às equipes de emergência.

Mas muitos em Paiporta sentem que o dia em que ainda podiam fazer algo, aquele alerta soou tarde demais.

"Ninguém avisou nada", lamenta Joaquín Rigón, antes de se dirigir à casa de alguns conhecidos dos quais não tem notícias. "Quando começamos a receber notificações, a água já estava aqui", lamenta, apontando para a cintura.

Na entrada da cidade, empurrando com sua mãe um carrinho cheio de comida que acabou de comprar em um dos poucos comércios abertos, localizado em um distante polígono industrial, Xisco Martínez ainda não acredita no estrago. "Aqui não caía água, estávamos com a guarda baixa", lamenta.

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